Yanis Varoufakis diz que o governo grego teria sido “negligente” se não tivesse criado um plano de contingência para o caso de o país sair do euro “como resultado dos esforços dos credores em minar o governo grego e à luz das forças dentro da zona euro que querem ver a Grécia expulsa da zona euro”. Esta é a resposta do ex-ministro das Finanças da Grécia, por meio de comunicado emitido pelo seu gabinete e colocado no seu blogue pessoal, à controvérsia gerada este fim de semana por uma notícia do jornal grego eKathimerini.
A notícia citava Varoufakis numa conversa com investidores internacionais em que o responsável dizia que desde dezembro, um mês antes das eleições, Alexis Tsipras o autorizou a planear um sistema paralelo de transações bancárias que funcionaria em euros mas que tivesse a capacidade de ser convertido em dracmas “da noite para o dia”. Varoufakis chegou a ter uma equipa de cinco peritos, liderada por um amigo de infância, a fazer hacking no sistema do Ministério das Finanças, monitorizado pela troika.
Na resposta a esta notícia, Varoufakis diz que “supervisionou uma equipa de trabalho que estava incumbida de preparar planos de contingência”, uma equipa liderada por James K. Galbraith, que o Observador entrevistou em abril. Foi divulgado, esta segunda-feira, um outro comunicado por Galbraith, que garante que os trabalhos que liderou sempre “trabalhou sob o axioma de que o governo estava totalmente empenhado em ficar no euro”.
Já Varoufakis defende que era dever da Grécia fazer “planos” já que “o Banco de Grécia, o BCE, os Tesouros dos Estados-membros, instituições internacionais” todos os tinham feitos – leia-se, planos para a saída da Grécia do euro – desde 2012.
Para o ex-ministro das Finanças, o artigo do eKathimerini é mais um dos “artigos abusivos em que os media têm embarcado, que prejudicam a qualidade do debate público”. “O grupo de trabalho do Ministério das Finanças trabalhou exclusivamente no enquadramento da política definida pelo governo e as suas recomendações tiveram sempre o objetivo de servir o interesse público, respeitar a lei e manter o país na zona euro”.
Varoufakis critica reportagem “errada” do eKathimerini
O ex-ministro das Finanças da Grécia critica o trabalho do jornal grego que publicou o conteúdo da conversa de Varoufakis com investidores londrinos, começando por criticar o facto de não ter sido ouvido pelo jornalista antes da publicação. Além disso, Varoufakis critica “as referências erradas à intrusão [hacking] nas informações fiscais dos contribuintes gregos.
Segundo o eKathimerini, Varoufakis tinha contratado um amigo de infância, especialista em hacking, para copiar os dados fiscais dos cidadãos e empresas (sem o conhecimento da troika) a fim de criar um sistema paralelo que poderia fazer o país voltar ao dracma “com o clicar num botão”. Estas informações, diz agora o gabinete de Varoufakis, “criaram confusão e contribuíram para a desinformação pública induzida pelos media“.
Varoufakis diz que o que está em causa, e que não tem nada que ver com os trabalhos liderados por James Galbraith, é a “melhoria do portal do fisco para que se tornasse mais do que é, para que se tornasse um sistema de pagamentos a terceiros, um sistema que melhoraria a eficiência e minimizasse os atrasos de pagamentos aos cidadãos e vice-versa”.
“Em conclusão, durante os cinco meses de negociações que prenderam a Europa e alteraram o debate um pouco por todo o continente, o Ministério das Finanças fez tudo o que era possível para servir o interesse público, contra todas as probabilidades”, diz o gabinete de Varoufakis. “A atual campanha mediática para esborratar esses esforços não irá conseguir contaminar a luta crucial, durante cinco meses, pela democracia e pelo senso comum”, remata.