Na altura de escrever novos textos para a imprensa, Jaime Quesado, presidente da Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública, revisitou antigas publicações e copiou trechos, de frases a parágrafos inteiros.

Com textos publicados em conhecidos jornais nacionais, como o Diário de Notícias ou Público, o “auto plágio descarado” de Quesado foi denunciado por António Araújo, administrador da Fundação Francisco Manuel dos Santos, jurista e historiador consultor político do Presidente da República. Através do blogue Malomil, Araújo justificou a acusação apresentado vários exemplos. Entre eles, está um texto publicado na edição do Público do dia 10 de agosto deste ano, que tem vários parágrafos iguais a um outro artigo publicado em 2007, no Jornal de Notícias. De um texto para o outro, as longas e “descaradas” cópias são ipsis verbis.

Mas Quesado não praticou o auto plágio apenas na imprensa portuguesa. Nas newsletters que assinou para a New Europe, o alto dirigente das finanças copiou frases, estruturas e títulos, mudando apenas o nome do país em questão. Isso aconteceu nos seguintes textos: “O desafio português”, publicado em julho de 2013, “O caso japonês”, publicado em setembro de 2014, e “O desafio de Singapura”, publicado em maio de 2015.

  • “Portugal é um exemplo de auto-capacidade de enfrentar os desafios mais complicados.” / “Portugal is an example of self-capability of facing the most complicated challenges.”
  • “Singapura é um exemplo de auto-capacidade para enfrentar os desafios mais complicados.” / “Singapore is an example of self-capability of facing the most complicated challenges.”
  • “O Japão é um exemplo de auto-capacidade para enfrentar os desafios mais complicados.” / “Japan is an example of self-capability of facing the most complicated challenges.”

Entre as acusações, Araújo explica porque é que a infração de Quesado passa despercebida. “Como nenhum editor os lê, ninguém se apercebe de que os textos-Quesado são um fraudulento negócio consigo mesmo, mantido ao longo de anos e anos de convívio público.”, explica Araújo no seu blogue. “É só ir à pasta de arquivo do laptop, encontrar um texto com uns cinco ou seis anitos, e num ápice voltar a carregá-lo, revigorado e fresquíssimo, para as páginas de um jornal.”, acrescenta.

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Em declarações enviadas ao Diário de Notícias, Jaime Quesado garante que “não houve aqui qualquer atitude de auto plágio em termos processuais”.

“Reforço que mantenho há mais de 25 anos intervenção profissional nestas áreas, quer em termos privados quer públicos, às quais tenho dado o melhor de mim, do ponto de vista dos resultados pretendidos e da mobilização das pessoas com quem trabalho para a missão a que nos propomos.”, disse ao DN.

Apesar de tudo, Quesado admite que “errar é humano”. “Admito, dado o empenho que ponho nestas questões, que posso em alguns casos ter exagerado no processo”, conclui.

António Araújo, assustado por o caso ter passado impune durante tantos anos, sublinha: “Agora saber como é que uma pessoa que assim procede, copiando-se vezes sem conta, ludibriando os seus leitores, tem condições para presidir a um alto cargo da Administração Pública… isso é outra conversa, ainda mais séria e mais grave.”

“Fernando Pessoa tinha heterónimos, Jaime Quesado basta-se a si próprio. Ele há Quesado nas versões 2.0, 3.0, 4.0, 5.0 e por aí fora, mas a base é sempre a mesma, desdobrada em notável intertextualidade. Mais do que um cronista, um grande clonista.”, conclui António Araújo.