No ISCTE, a ideia não era nova: o combate ao desemprego passava pela formação em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). O convite do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) veio dar o empurrão que faltava e no final de setembro há 100 licenciados no desemprego que vão iniciar um semestre de aulas na área das TIC. Sem custos. No final, há estágios profissionais com duração mínima de três meses em empresas do setor.

O acordo de cooperação entre o IEFP e 26 universidades portuguesas – onde se inclui o ISCTE – vai ajudar 1400 desempregados com formação de nível superior, inscritos nos serviços de emprego, a adquirir competências na área das TIC, conta o Público. Inclui 300 horas de formação. No caso do ISCTE- Instituto Universitário de Lisboa, as aulas decorrem nas instalações da instituição, que também é responsável pelo programa.

Era uma ideia que já tínhamos. Como é que há tanta malta licenciada no desemprego? Temos de fazer alguma coisa para resolver isto“, conta ao Observador Pedro Sebastião, professor no ISCTE e coordenador da ação de formação, que acredita que a medida vai ajudar as pessoas a encontrar emprego em Portugal. E não só. Porque o know-how português é cada vez mais conhecido além-fronteiras, explica.

“No ISCTE, não temos nenhum aluno por empregar na área tecnológica. Quer seja de licenciatura, quer seja de mestrado. E muitos destes alunos estão a ser contratados por empresas nacionais e multinacionais, mas com trabalhos para o exterior. Então queremos ver se conseguimos que estas pessoas encontrem o seu caminho e que não fiquem excluídos porque em Portugal não há emprego. Não há em Portugal, mas pode haver numa empresa que trabalha para fora”, diz.

Quando questionado sobre se os portugueses são reconhecidos no estrangeiro pelas competências tecnológicas, não hesita: “Completamente. Os nossos engenheiros são contratados para o mundo inteiro, seja na parte de videojogos, na de telecomunicações, etc“. E se antes era preciso ir para uma empresa exterior para trabalhar em projetos internacionais, hoje são as empresas portuguesas que vencem esses projetos, explica Pedro Sebastião.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Tenho tido algum feedback de empresas, que dizem isto mesmo: se queres procurar alguém na área das TIC, procura portugueses, porque o que é prometido chega à data e é cumprido”, diz o professor do ISCTE, doutorado em Engenharia Eletrotécnica e Computadores.

Além da formação tecnológica os formandos também vão adquirir competências na área do empreendedorismo, para que possam promover projetos dentro de empresas ou para que, em pequenos grupos, possam avançar com ideias de negócio e lançar startups.

Portugal está a acordar para as TIC?

A iniciativa não é isolada e o tema tem estado na ordem do dia. A startup AlphaPpl criou o programa de estágios Junior MVPs para recrutar 100 pessoas nos próximos 6 meses. E não têm de ter formação em informática. Os candidatos selecionados vão ter formação intensiva em contexto de trabalho na empresa e noutras que atuem na área das TIC.

Até 31 de agosto, as candidaturas estão abertas e a empresa valoriza quem tem bons conhecimentos de tecnologia na ótica do utilizador, um nível médio de inglês e vontade de aprender e de trabalhar em ambiente de startup. Sem restrições “de qualquer tipo”.

A InvestBraga – Agência para a Dinamização Económica de Braga, o IEFP e a Universidade do Minho já começaram também a selecionar 100 pessoas para a primeira fase do Qualifica IT, um programa que visa dotar 200 desempregados licenciados em ciências, matemáticas, engenharias ou tecnologias com formação em TIC.

No domingo, encerraram as inscrições para a formação gratuita de 14 semanas que a startup Academia de Código vai promover a partir de 7 de setembro em Lisboa para formar desempregados licenciados de qualquer área em TIC. E a Lnding.jobs – empresa que atua no mercado de recrutamento de profissionais de TIC – vai lançar a Landing.jobs Scolarship, uma bolsa de 1.063 euros para apoiar estudantes do primeiro ano de informática e programação. Objetivo: ajudar a ultrapassar algumas debilidades identificadas no setor tecnológico.

No final de 2015, há 8.100 vagas de emprego que vão ficar por preencher em Portugal na área das TIC, de acordo com um estudo da Comissão Europeia de janeiro de 2014. Em 2012, ficaram 3.900 e em 2020, estima-se que fiquem 15.000. Nos 27 Estados-membros da União Europeia, as estimativas apontam para que fiquem 913 mil vagas por preencher no setor.

De acordo com um estudo divulgado em junho pela Landing.jobs, apenas 27% dos profissionais de TIC em Portugal ganha menos do que 1.000 euros por mês, quando 55% ganha mais do que 1.300 euros e 15% recebe mais de 1.800 euros por mês. Outro estudo da mesma empresa, feito no final do ano passado, concluiu que no setor das TIC não há desemprego: 100% dos profissionais que integraram o estudo estavam empregados e desempenhavam funções de caráter tecnológico.