O Tesouro português já garantiu 90% das necessidades brutas de financiamento de longo prazo previstas para este ano, que ascendem a 25,9 mil milhões. Este valor inclui os cerca de 9 mil milhões de euros que o IGCP quer garantir já, mas que diz respeito a pré-financiamento para o próximo ano. O salto no programa de financiamento foi dado esta quarta-feira, numa emissão de três mil milhões de euros em dívida a sete anos, com um juro de 2,24%, com uma procura que foi quase o dobro do montante colocado.

“A República Portuguesa demonstrou que tem um acesso robusto aos mercados internacionais”, numa operação “executada numa altura de condições de mercado voláteis” e que atraiu 150 investidores, o que permitiu à Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) vender os títulos a um preço de 99,737% dos 100% que terão de ser reembolsados em 2022. Essa diferença entre o que os investidores pagaram hoje para obter os títulos e o que vão receber na maturidade, juntando o juro anual de 2,2%, faz com que a rendibilidade implícita (yield) da emissão seja de 2,24%.

A informação consta de um comunicado publicado esta quarta-feira pelo IGCP. O custo suportado pelo Tesouro português nesta emissão é baixo, numa análise histórica, mas os investidores estão, nesta altura, a pedir uma taxa de cerca de 1,7% a Espanha e 0,4% à Alemanha para emprestar com esta maturidade, segundo os preços avançados pela agência Bloomberg.

Por estar a fazer pré-financiamento para 2016, o Tesouro português está a ter de orçamentar mais em termos de pagamento de juros (porque há mais dívida viva pela qual tem de se pagar juros) mas esta é uma opção política que pretende assegurar que o Estado tem reservas financeiras suficientes para suportar eventuais momentos menos positivos no que diz respeito ao acesso ao mercado. A crise na China, na Grécia, e provável subida dos juros nos EUA são alguns dos riscos que podem limitar a capacidade do Tesouro português de emitir dívida aos juros baixos que tem atualmente.

Apenas 9,4% da colocação ficou em investidores portugueses, com predominância de investidores britânicos (19,8%), centro da Europa e Escandinávia. Foram sobretudo gestoras de ativos e bancos que compraram a emissão, com apenas 5,8% de fundos de pensões (resultado do rating desfavorável que Portugal continua a ter, o que impede muitas destas entidades de investir).

Desde final de abril que o Tesouro português não fazia uma emissão sindicada, que se distingue de um leilão porque o conjunto de bancos contratados fica encarregado, nas vésperas da operação, de comercializar e aferir o interesse pelos títulos para depois, no dia da operação, gerir os custos de financiamento, os montantes e os investidores a quem quer vender. Num leilão, a emissão de dívida acontece sem trabalho prévio e os títulos são vendidos aos investidores interessados, tendo os primary dealers (operadores de mercado primário) a actuarem como intermediários.

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