“Quero mesmo ser o maior do mundo”. Foi esta a resposta que Abel Tesfaye, o canadiano de 25 anos, deu a Wendy Goldstein, o principal responsável pela prospeção de talento da Republic Records, uma das divisões da Universal Music, considerada por muitos a maior editora da indústria musical.
Goldstein tinha-lhe lançado um desafio: queria saber se Abel, que na música responde pelo nome The Weeknd, tinha uma ambição do tamanho da sua. A resposta foi clara: com o novo disco Beauty Behind the Madness, lançado em agosto deste ano, Abel Tesfaye tornou-se rapidamente uma das estrelas da indústria.
Uma semana bastou para que o canadiano vendesse o equivalente a 412 mil discos nos Estados Unidos, e assumisse assim o primeiro lugar do ranking da revista Billboard, que calcula a popularidade dos álbuns em solo americano. O disco tornou-se, assim, o segundo no país a alcançar os maiores índices de popularidade em semana de estreia: perdeu apenas para o novo trabalho do consagrado rapper Drake, cujo álbum, intitulado If you’re reading this it’s too late, foi lançado em fevereiro.
A adolescência problemática de Abel Tesfaye
Quem vê hoje The Weeknd atuar nos maiores palcos do mundo dificilmente apostaria que, menos de dez anos antes, Abel Tesfaye era apenas um adolescente problemático. Aos 17 anos, Abel decidiu abandonar a escola e sair de casa da mãe (com quem vivia após o divórcio dos seus pais, dois emigrantes etíopes a viver no Canadá). Esse período foi complicado, como o próprio admite ao New York Times: “[A minha mãe] olhou para mim como se tivesse falhado”.
Tesfaye passou a viver com mais dois amigos, num apartamento com apenas um quarto, localizado em Parkdale (Toronto). O bairro em que habitavam, segundo conta Abel ao mesmo jornal, era habitado “por estudantes e viciados em crack”. À data, as ilegalidades eram muitas: o canadiano sobrevivia com o que roubava do supermercado, e chegou a vender droga para ganhar algum dinheiro. Ao mesmo tempo também teve trabalhos honestos, como quando trabalhou na loja de roupa American Apparel.
Em algumas noites, não tendo onde dormir, Abel Tesfaye dormia com mulheres com o único intuito de arranjar um sítio onde ficar durante a noite. E foi nessa altura, também, que começou a trabalhar com um jovem músico chamado Jeremy Rose. A música que, ironicamente, espelhava esses tempos (obscura, sombria e de letras lascivas) era a mesma que no futuro o tiraria desse mundo.
A construção de uma carreira: das mixtapes na internet a disco de platina nos EUA
Era neste cenário que, em 2009, o rapaz por detrás do nome The Weeknd – de quem muito pouco se sabia – lançaria a sua primeira mixtape (um álbum sem fins comerciais, disponibilizado de forma gratuita na internet). As fotos que dele se conheciam, nos primeiros anos, eram propositadamente obscuras. Não dava entrevistas e assim se manteve por algum tempo.
Mas a música resultava. Abel Tesfaye começava a ascender a nome importante na música R&B dentro dos circuitos da crítica musical, junto a nomes como Frank Ocean ou Miguel. 2011 foi o ano em que começou realmente a emergir: lançou três mixtapes que suscitaram alguma atenção. Uma delas, House of Balloons, lançada em março desse ano, foi essencial: foi com ela que The Weeknd começou a ganhar realmente uma dimensão internacional. A revista americana Pitchfork descrevia-o como “um disco muito difícil de parar de ouvir”.
O mote para 2012 estava dado. Já o ano ia avançado quando, em novembro, Abel Tesfaye decidiu vender o seu primeiro trabalho: “Trilogy” compilava os temas que tinha lançado anteriormente, nas referidas mixtapes. Os êxitos do ano anterior começavam, assim, a ser rentabilizados: lançado em parceria com a Republic Records, a gigante editora americana, “Trilogy” tornava-se disco de platina nos Estados Unidos e dupla platina no Canadá. Começava assim a ascendência de The Weeknd ao estrelato. Mas Abel queria mais: queria chegar ao cimo da indústria e, mais do que isso, queria ficar por lá.
A consagração de uma estrela pop
Hoje em dia, The Weeknd é um dos grandes nomes da música. O canadiano conseguiu uma difícil proeza: ser um dos músicos mais vendidos no mundo, e manter o respeito dos círculos alternativos pelo seu trabalho. Veja-se a revista Pitchfork, que atribuiu uma respeitável nota ao seu novo disco, e que dois dias depois trucidava outro dos grandes sucessos comerciais do ano, o mais recente disco da americana Miley Cyrus.
Só nos Estados Unidos, Abel Tesfaye tem duas canções entre os quatro singles mais populares da semana: “Can’t feel my face”, a mais popular no país, e “The Hills”, que encerra o top 4. Os dados são compilados pela companhia americana Nielsen, que todas as semanas fornece informações sobre o consumo de música dos americanos.
Um pouco por todo o mundo, The Weeknd é a estrela do momento. Já colaborou com nomes como Alicia Keys, Ariana Grande, Ed Sheeran, Kanye West e Wiz Khalifa, entre muitos outros. E é comparado a nomes como Michael Jackson e Prince, músicos que o próprio afirma admirar.
https://www.youtube.com/watch?v=zUsYchkAQWk
Não é certo que The Weeknd fique na História da música. É possível, até, que o tempo altere a perceção que hoje temos do canadiano. Mas há algo que já não lhe podem tirar: o seu lugar no presente foi conquistado, e é hoje, aos 25 anos, um dos nomes mais importantes do meio.
Texto editado por Helena Pereira