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Refrigerantes light: uma boa ideia ou um veneno?

Este artigo tem mais de 5 anos

As alternativas "light" vieram garantir aos consumidores que era possível emagrecer sem mudar em demasia o regime alimentar. Mas os especialistas avisam: o seu corpo está em perigo.

Os conceitos light, zero e diet são diferentes e cada um atende a necessidades distintas
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Os conceitos light, zero e diet são diferentes e cada um atende a necessidades distintas

Getty Images

Os conceitos light, zero e diet são diferentes e cada um atende a necessidades distintas

Getty Images

Os constantes alertas das instituições médicas sobre os malefícios da obesidade alimentaram um mercado que promete produtos com menos quantidades de açúcares e calorias. Assim nasceram os refrigerantes light a discussão começa. Por um lado, os profissionais de saúde alertam que estes líquidos são prejudiciais para quem os consome. Por outro, os responsáveis pelas marcas de refrigerantes garantem que as linhas diet são eficazes e saudáveis como a água. A meio termo, a DECO diz que, tomados os devidos cuidados, os refrigerantes light podem mesmo ajudar a emagrecer.

Mas produtos light há muitos e nem todos são iguais. E é preciso perceber que há algumas diferenças.

Se olhar para as prateleiras dos supermercados encontra três linhas de refrigerantes diferentes da marca normal: os rótulos indicam “light”, “diet” ou “zero”. Qual o significado por detrás de cada um deles? A dietista Cidália Pereira, docente no Instituto Politécnico de Leiria, traduziu os três.

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Todos eles propõem melhorar a alimentação de quem os escolhe. Para perceber de facto o que contém cada um, o Observador compilou a informação nutricional dos rótulos das diferentes linhas de Coca-Cola, o refrigerante mais consumido a nível mundial. O resultado é que a diminuição de quantidades da fórmula tradicional é principalmente visível no valor energético e nos açúcares.

De acordo com a informação prestada pela Coca-Cola no site da marca, cada 250 mililitros de refrigerante não tem mais que 0,5 calorias e a diferença entre as versões light e zero “está apenas no sabor”.

Mas serão realmente eficazes?

Conceição Calhau, nutricionista e investigadora da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP), diz que

A vantagem e segurança [destes produtos] estão atualmente postos em causa, mesmo tendo em conta que surgiram de uma preocupação crescente das instituições e das marcas com os elevados consumos de açúcar e gorduras.

E existem dois motivos principais para o ceticismo dos profissionais de saúde sobre os refrigerantes light, explica Nuno Borges, também ele nutricionista e investigador da FCNAUP. Apesar de os sumos com menor teor de açúcar e gordura parecerem menos prejudiciais à saúde que os sumos de linha normal, é preciso ter em conta que esses compostos tradicionais são substituídos por adoçantes (ou edulcorantes) artificiais que, considera este especialista, são potencialmente tóxicos para o organismo.

Outra preocupação tem que ver com a dissociação entre o número de calorias e o sabor que sentimos. “É como se estivéssemos a enganar o corpo”, explica o nutricionista. Acontece que a perceção que temos da doçura está relacionada com a quantidade de calorias que podemos ingerir. Quando não obtemos esse sabor na quantidade esperada pelo corpo, a tendência é continuar a comer ou beber até que essa vontade seja saciada. Se este for o processo, torna-se inútil tomar produtos light.

O que diz a balança?

A maior parte das pessoas que escolhe linhas light em detrimento dos produtos normais pretende diminuir (ou simplesmente não aumentar) o peso. A Coca-Cola garante que isso é possível, sempre que o consumo esteja associado a uma alimentação equilibrada e à prática de exercício físico.

A influência das bebidas light no excesso de peso ou obesidade pode ser comparável à da água”, pode ler-se no site.

Os nutricionistas e dietistas defendem que esse efeito não é assim tão simples. Até porque “o efeito no corpo depende do nutriente reduzido ou eliminado”, explica a dietista Cidália Pereira. No caso dos refrigerantes light, há que estar atento ao facto de estas bebidas terem uma grande quantidade de edulcorantes. E lá está: “Quando presentes em excesso no organismo não conseguem estimular as hormonas responsáveis pela saciedade”. A tendência será a de continuar a comer até que a sensação de esvaziamento gástrico desapareça e, sendo assim, não se consegue emagrecer.

Se este efeito parece insólito, mais ainda são os resultados dos estudos sobre a flora intestinal. Conceição Calhau confirmou que

em alguns estudos, os animais expostos a refrigerantes light tornaram-se resistentes à insulina. A flora intestinal sofria alterações de tal ordem que “o perfil bacteriano dos indivíduos que consumiam esse tipo de sumos torna-se semelhante ao de uma pessoa obesa”, desvenda o nutricionista Nuno Borges.

Um estudo do Centro da Ciência e Saúde da Universidade de Texas sugere mesmo que é possível engordar com o consumo de refrigerantes light. A investigação contou com a participação de 1.117 pessoas e indiciou que quanto mais refrigerantes light uma pessoa beber, maior a probabilidade de sofrer excesso de peso – 65% em relação a quem não consome as bebidas em causa.

Já a DECO Proteste admite que os edulcorantes artificiais “não fazem milagres”, mas que podem ser úteis para emagrecer. Embora devam ser consumidos com moderação e nunca devam ultrapassar os 10% de presença na dieta diária dos indivíduos, “podem levar um indivíduo de 75 quilos a perder 200 gramas por semana”. Ou seja, não há unanimidade sobre os efeitos destes produtos.

Sobre a eficácia dos refrigerantes light na manutenção do peso, a Associação Portuguesa das Bebidas Refrescantes Não Alcoólicas (PROBEB) diz que

se os adoçantes forem usados para substituir o açúcar, têm o potencial para ajudar a reduzir consistentemente o input energético total. Para que possam ser úteis na gestão do peso, é necessário que o consumo de produtos com adoçantes seja por substituição de produtos com açúcar adicionado, e não como um adicional na dieta.

Luta interna: como o corpo é afetado e porquê?

Químicos: aspartame é seguro?

A preocupação dos neurocientistas prende-se essencialmente com o aspartame, que entrou na composição dos refrigerantes em 1983. O aspartame parece estar na origem de muitas das consequências notadas em quem escolhe beber refrigerantes light, segundo dizem alguns especialistas americanos – será responsável por 75% das reações adversas reportadas à FDA.

A Food and Drugs Administration (FDA) permitiu a utilização do aspartame em sumos refrigerantes por ser 200 vezes mais doce que o açúcar normal e ter menos calorias. Na página da entidade reguladora dos produtos alimentares dos Estados Unidos da América, pode ler-se que “os cientistas da FDA procederam à revisão dos dados nos estudos sobre a segurança do aspartame na comida e concluíram que é seguro para a população de modo geral”.

Na Europa, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) procedeu ao mesmo exame em 2013. O documento – resultante da análise mais extensiva do risco do aspartame para a saúde – demonstrou que

O aspartame e os alimentos dele provenientes são seguros para consumo humano nos níveis atuais de exposição”, indica o comunicado de imprensa lançado na altura pela instituição reguladora.

Apesar dos estudos negativos e das opiniões dos médicos, a Coca-Cola garante que “cumpre as normas” dos países e regiões onde os refrigerantes são comercializados. Na Europa, a marca é supervisionada pela EFSA, que confirmou há um ano a segurança da Coca-Cola.

A Associação Portuguesa das Bebidas Refrescantes Não Alcoólicas (PROBEB), confirma que os compostos de qualquer bebida – incluindo as versões light foram aprovados pela EFSA, mas que os níveis de aditivos permitidos para cada bebida são determinados pela Comissão Europeia. Um desses componentes é o adoçante, que são normalmente pouco calóricos em relação a açúcares como a frutose, a sacarose ou a glucose.

Mesmo apesar destas contradições, vale a pena abordar, sem alarmes, os potenciais problemas no corpo humano já identificados por vários cientistas, ainda que sempre sem unanimidade.

Cérebro

Voltemos ao light. O cérebro não fica fora da equação de problemas que alguns especialistas elencam como vítimas dos perigos potenciais destas bebidas. Conceição Calhau diz que os químicos existentes nos refrigerantes light podem atravessar a barreira hematoencefálica, criando toxicidade no hipotálamo, a região que controla o apetite.

A neurocientista Manuela Grazina define “barreira hematoencefálica” como uma estrutura celular que filtra as substâncias que saem da corrente sanguínea para entrar no sistema nervoso central. Nas crianças, esta barreira ainda não está completamente desenvolvida.

Um artigo publicado no site Mercola destaca algumas doenças neurológicas relacionadas com o consumo de aspartame. Na lista constam complicações graves, como tumores cerebrais, Alzheimer, epilepsia, atraso no desenvolvimento mental, fadiga crónica e Parkinson. Todos estes problemas surgem porque a barreira hematoencefálica interpreta o aspartame como um neurotransmissor e deixa que o químico influencie o sistema nervoso central. Uma vez nos neurónios, o aspartame acelera a transmissão de informação e provoca a morte de algumas destas células pelo aumento dos radicais livres em circulação.

As alterações no funcionamento dos sinais nervosos trazem outras consequências. Por um lado, as pessoas que usam muitos alimentos light têm mais dores de cabeça – de acordo com uma investigação do European Journal of Clinical Nutrition – e o sistema de recompensa cerebral muda.

Várias experiências demonstram este último dado, ainda que não haja unanimidade entre os cientistas. Xiao-Tain Wang, um investigador da Universidade de Dakota do Sul, afirmou que os adoçantes artificiais dos refrigerantes light levam as pessoas a preferir recompensas a curto prazo, em vez de pensar nas vantagens para o futuro de uma determinada decisão.

Outro exemplo está num estudo de Honglei Chen, membro da Academia Americana de Neurologia. O cientista decidiu analisar quase 264 mil pessoas com idades entre os 50 e os 71 anos, entre 1995 e 1996. Dez anos depois, mais de 11 mil indivíduos tinham sido diagnosticados com depressão. E esse problema era principalmente detetado entre aqueles que bebiam quatro ou mais latas de refrigerante… light.

Intestinos

Além das alterações na flora intestinal, o próprio funcionamento deste órgão pode sofrer mudanças.

Um estudo publicado pela National Center for Biotechnology Information, que acompanhou 3.318 mulheres, teve como o principal objetivo examinar o nível de funcionamento dos intestinos através da Taxa de Filtração Glomerular (GFR). Até 1989 nenhuma delas tinha consumido bebidas light, mas partir desse ano e até 2000 todas consumiram regularmente esses refrigerantes e em todas foram encontradas mudanças na capacidade de trânsito intestinal. O consumo de três ou mais latas destas bebidas levaram a uma diminuição do funcionamento dos intestinos em cerca de 30%.

De acordo com a National Kidney Foundation, a Taxa de Filtração Glomerular (GFR) é um teste que mede o nível de funcionamento dos rins, determinando se uma pessoa desenvolveu alguma patologia nos intestinos e em que fase da doença está.

Existe outro problema de saúde que pode ser agravado pelo consumo de refrigerantes light: a síndrome metabólica, muitas vezes associada à diminuição de HDL (o bom colesterol). Num estudo lançado pela National Center for Biotechnology Information, o consumo diário de refrigerantes light aumenta em 36% o risco de desenvolver síndrome metabólica e em 67% a probabilidade de vir a sofrer diabetes tipo 2 em relação às pessoas que não consomem estas bebidas.

Síndrome metabólica é o nome dado a problemas relacionados entre si e que afetam em conjunto o metabolismo do corpo humano. Normalmente, esta síndrome inclui acumulação excessiva de gordura no abdómen, colesterol baixo, intolerâncias à glicose e hipertensão. Todos estes problemas surgem perante uma alimentação deficiente.

Dentes

Erosão dentária é um dos problemas mais alarmantes para aqueles que costumam consumir refrigerantes light. Os químicos que os compõem fazem com que os tecidos da boca sofram uma deterioração que complica a saúde oral.

O cientista Von Fraunhofer teve estes pressupostos em conta para estudar os efeitos de vários refrigerantes na boca. De acordo com o estudo da Escola de Medicina Dentária da Universidade de Maryland Baltimore, algumas gotículas de refrigerante ficam retidas na superfície mineral dos dentes, sem que a saliva seja suficiente para a retirar. Devido à presença de químicos como o ácido fosfórico, cítrico, entre outros, o cálcio é transformado em quelato. Essa reação leva à perda de massa dentária.

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A amostra contava com 20 pessoas. Todos esterilizavam a boca antes de iniciar os testes. O grupo de controlo bebia água. O grupo de teste era levado a consumir diversos tipos de bebidas gaseificadas, de modo a entender-se a diferença entre marcas e entre linhas da mesma marca. A cada dois dias a perda de massa dentária era analisada.

Verificou-se que os líquidos que menos dissoluções provocaram foram a água da torneira, a cerveja preta, o chá preto e café escuro. A perda de massa não era significativamente diferente entre a linha normal e a linha light: a quantidade de mineral dentário perdido num e noutro consumo era semelhante.

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A diferença estava mesmo entre os refrigerantes não-cola – aqueles que não têm caramelo ou cafeína – e os refrigerantes cola: os primeiros eram mais prejudiciais para a saúde dentária que os segundos.

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Peso e medida

Mas sem certezas absolutas sobre os perigos potenciais já identificados, vale a pena voltar ao ponto inicial. E nas dietas, estes refrigerantes são ou não opções para quem deve reduzir a ingestão de açucares?

José Manuel Boavid, diretor do programa da diabetes, defende mesmo que as bebidas com alto teor de açúcar ou sal tenham informação semelhante ao do tabaco, que alerte para os malefícios do seu consumo.

Quanto aos light, para José Reis, da Sociedade Portuguesa de Ciências da Nutrição e Alimentação, a questão resume-se à motivação: “quem quer emagrecer não precisa de rótulos”. O que é mesmo fundamental é que se coma em quantidades moderadas e adequadas, bem como que se adotem hábitos de exercício e dieta saudáveis. A docente e dietista Cidália Pereira concorda: “Os produtos light podem ser tomados, mas não se deve consumir mais por isso”.

Há que ter em conta que este tipo de alimentos é mais processado e por isso menos saudável que os menos processados. Se quer emagrecer, valorize as vitaminas, minerais e fibras e prefira produtos biológicos, locais e sazonais.

Texto editado por Filomena Martins

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