Subiu a um helicóptero Kamov… e desceu. Alguns não voavam no início da época de fogo. Costa continua sem voar neste início de época eleitoral. As sondagens mostram aquilo que Costa vê nas ruas: muita gente alheada ou indecisa sem uma grande euforia. E o candidato socialista perdeu-se nestes dias em explicações sobre a meta dos mil milhões de euros em quatro anos em prestações sociais. A partir de agora, o candidato acelera e rodeia-se de figuras do partido. Será suficiente para levantar voo nas sondagens?

Costa vai afinando os ponteiros do discurso sobre prestações sociais, vai tentando várias fórmulas para explicar aquela dúvida que ficou ar: afinal como vai o PS poupar cerca de 250 milhões de euros por ano em prestações sociais não contributivas? Tal como quem conta um conto, António Costa acrescenta-lhe cada vez que fala um novo ponto.

Nos primeiros dias de campanha eleitoral, tem andado enrolado nas explicações sobre este assunto. É que do lado de lá, Passos Coelho e Paulo Portas não largam o assunto e foi o próprio António Costa a ter necessidade de voltar a pegar no assunto para lhe dar a volta e torná-lo uma arma de arremesso. Mas a mensagem é complicada e o secretário-geral do PS arranjou um gancho para explicar a “poupança”, não “corte”, de 250 milhões de euros em média com prestações sociais por sua iniciativa.

Disse o líder socialista que vai conseguir atingir aquela meta por três vias: pela criação de emprego que vai dispensar o pagamento de prestações sociais, pela reposição de outras prestações cortadas que dependem de condição de recursos e pela criação de novas prestações por parte de um futuro Governo socialista (como o complemento salarial anual) e que, assim, permitiriam baixar o volume de pagamentos das prestações não-contributivas. Um dos exemplos que deu foi o caso do Subsídio Social de Desemprego que deixará de ser necessário se houver melhoria do emprego.

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Já em Viseu voltou a acrescentar ou a ensaiar nova clarificação. Disse Costa que com o aumento da política de aumento das prestações sociais e com o novo complemento salarial, muitas pessoas passariam a receber esta nova pensão e deixariam de receber outras (em causa pode estar sobretudo o RSI cujo valor seria superior a um complemento salarial). “Permite-nos poupar verbas em outras prestações, que estando sujeitas condição de recursos deixam de ser devidas a quem já tem rendimento que o torna desnecessário essas prestações”. E terminou o dia com um discurso mais político e menos explicativo. Acusando Passos Coelho e Paulo Portas de promoverem, no que à política social diz respeito, uma política de “rifas” e “quermessezinhas” para ajudar “os pobrezinhos”.

Acontece que o que Costa diz nos discursos, nas explicações que deu na TSF e depois à noite à RTP, são uma explicação difícil para o que está no programa e no estudo de cenário macroeconómico. Na verdade, Costa está a explicar os tais 250 milhões de euros com melhoria da economia e não com a “introdução de condição de recursos em prestações não contributivas” como se pode ler no estudo de impacto do programa do PS. Uma dúvida que ficará por responder.

Nas ruas devagar para ouvir e raramente falar

António Costa é mais contido à semelhança da caravana que o acompanha que disfarça o nervosismo do resultado incerto que as sondagens diárias mostram todos os dias. Não quer incomodar, não interrompe, espera. A rua é um lugar onde diz que gosta de estar, mas até agora parece gostar mais de ouvir do que de falar. O próprio diz que as arruadas são para que se “aproxime das pessoas e responder às suas dúvidas” e não “um ping-pong entre candidatos de diferentes partidos”, mas raras lhe caem no colo ou, melhor dizendo, no beijinho e no abraço.

Costa andou em terrenos mais áridos, menos efusivos na hora de cumprimentar candidatos. O líder socialista terminou esta terça-feria a rota pelo interior, um terreno mais difícil para o PS onde as pessoas escassearam nas ruas, e insistiu na mensagem de que não vai cortar nas pensões nem nas prestações sociais.

Em Mirandela uma senhora aperta-lhe a mão e pede-lhe que com isso sele o compromisso de não cortar nas pensões. Para isso o candidato a primeiro-ministro tem resposta pronta: “Com o PS não há nem haverá corte nas pensões, nem nas a pagamento nem nas futuras”. É sempre esta certeza, com ligeiras variantes que tem na ponta da língua. Mas é das poucas mensagens que passa clarinha como a água.

Para o final desta semana, Costa vai começar a rodear-se de mais figuras do partido e carregar no acelerador.