Hans Rosling foi o convidado de honra da cerimónia que assinalou os cinco anos da Pordata, esta terça-feira em Lisboa. Médico e investigador especializado em estatística, foi o fundador da gapminder.org, “um sobrinho da Pordata”, como o próprio referiu. O guru da estatística é respeitado e reconhecido internacionalmente, pela capacidade de comunicação e pelo refinado sentido de humor. Fez questão de falar em português, que aprendeu nos dois anos que viveu e trabalhou como médico voluntário em Moçambique, nos anos 1970.
A apresentação foi baseada no documentário “Don’t Panic”, registado pela BBC em 2013. Através de imagens interativas demonstrou a precisão surpreendente dos números e da estatística. Dois exemplos globais: a maioria das meninas andam na escola, mais de 80% das crianças são vacinadas e a esperança de vida é de 70 anos. Contas feitas, Hans Rosling tem demonstrado, no decorrer das suas muitas palestras, que “a ideia que as pessoas têm do mundo está 25 a 30 anos atrasada em relação ao mundo como ele é hoje”. “Actualize a sua visão do mundo” e veja a apresentação desta terça-feira no Teatro Nacional D. Maria II, na íntegra:
Hans Rosling começou com um teste. Foram distribuídos cartões digitais para registar as respostas a algumas perguntas “básicas”, como por exemplo quantas crianças haverá no mundo em 2100, qual a percentagem de crianças vacinadas atualmente, a taxa de mortalidade das crianças com menos de 5 anos ou a esperança de vida global. O objetivo foi demonstrar que um dos problemas do mundo atual “não é a ignorância, mas sim as ideias preconcebidas. Não temos uma compreensão correta do mundo”, explicou o professor ao longo de uma hora. Discurso ensaiado, inteligente e com sentido de humor: para assinalar os pontos importantes nos quadros e gráficos projetados usou um “apontador ecológico”: uma vara comprida com uma seta de cartão na ponta.
O professor reforçou que os números servem para compreender a realidade, mas que “não quer saber dos números”, o que lhe interessa são as pessoas. Mas os indicadores demográficos são claros e fazem-nos pensar: no final deste século a população mundial deverá chegar aos 11 mil milhões, à custa do aumento da população na Ásia e em África. No continente americano a população deverá manter-se estável (mil milhões de pessoas) e na Europa deverá descer um pouco, talvez abaixo dos mil milhões. Rosling foi peremptório: os europeus têm cada vez menos filhos e por isso “a Europa precisaria de 2,5 vezes mais imigrantes para manter a população.”
Mais tarde Hans Rosling voltou ao assunto na ordem do dia, a crise dos refugiados. Na meia-hora que dedicou a receber os jornalistas presentes na conferência, fez questão de puxar pelo assunto e explicar a sua visão sobre o problema:
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Na sessão de perguntas e respostas começou por explicar que “não tem esperança nos media para formar uma visão do mundo. Os media são bons para divulgar novidades e explicar acontecimentos complexos, mas não comunicam a visão global, em especial as grandes mudanças, elas nunca têm destaque”. E concretiza um exemplo: “O número de crianças no mundo [nascimentos] já não está a aumentar, estabilizou. Ninguém fala nisso.” Ou seja, o crescimento da população mundial continua a crescer mas não porque o número de nascimentos esteja a aumentar, “mas os media não explicam isso”.
Hans Rosling olha para Portugal como um país a periférico que tem um fator desfavorável: a distância, que dificulta a circulação de pessoas (referia-se, no contexto, aos empreendedores). Mas por outro lado, sublinha que Portugal tem uma capacidade humana acima da capacidade económica e que uma não acompanha a outra. “Portugal é a Hong Kong da Europa. Tem a esperança de vida entre as mais elevadas do mundo e um dos rendimentos mais baixos do mundo desenvolvido.” E acrescentou: “Os países modernos com poucos nascimentos [Portugal, Hong Kong] são a grande incógnita estatística, aqueles que os demógrafos tem mais dificuldade em projetar o futuro.” Ainda assim sorri e assume-se otimista.
Cinco anos de Pordata. A base de dados estatísticos mais importante do país e uma das mais reconhecidas no mundo (foi premiada em 2011 pelas Nações Unidas), celebrou a data numa cerimónia especial, realizada esta terça-feira no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Foram atribuídos os Prémios Inovação, lançada a Pordata Kids e explicado o estado do mundo, através dos números.
Coube a Alexandre Soares dos Santos, fundador da Fundação Francisco Manuel dos Santos e Maria João Valente Rosa, diretora da Pordata, as primeiras palavras num evento em que se seguiu a entrega dos Prémios Inovação. O Indicador de Gini, que fornece informação sobre a distribuição dos cuidados de saúde, da autoria de Filipe Peças Correia, e o Indicador de Equilíbrio Orçamental, de Fernando Teixeira Pinto. Estas duas novas ferramentas de análise passaram agora a fazer parte do site Pordata.