Foi assim desde o primeiro dia. Pedro Passos Coelho e Paulo Portas afinaram o discurso para não haver dissonâncias nem saídas de tom durante a campanha oficial, e uniram esforços para pedir “estabilidade”. O mote foi dado ainda em Lisboa pelo líder do CDS, quando deixou claro que a palavra de ordem era “prudência” em vez de “aventureirismos”. Porque, disse, os eleitores da classe média sabem que “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”. Desde então, Passos e Portas mais não têm feito do que se desdobrado em argumentos para ilustrar a mesma narrativa.

Sendo dois, a tarefa fica mais fácil. Portas, mais aguerrido, passou toda a primeira semana de campanha a dirigir “uma palavrinha” ao líder socialista em todas as suas intervenções, para rebater o adversário político. Passos, mais estadista, ficava com mais tempo para apelar ao “bom senso” e à “continuidade” – para bem do país.

Eis os argumentos que a coligação tem andado a defender:

Estabilidade é possibilidade de governar

É o mais recente argumento da coligação. Foi-se formando ao longo da campanha e rebentou esta sexta-feira à noite no mega-comício em Santa Maria da Feira, dando início a uma nova fase na estratégia eleitoral: a fase do apelo gritante ao voto para dar, não só vitória ao PSD/CDS, como, e principalmente, maioria absoluta. Só isso, segundo concretizou Passos, dará estabilidade para Portugal ter um governo que consiga governar.

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A narrativa ganhou, assim, nova inflexão e será esta até ao fim. Acenando com o medo de terem de ser convocadas novas eleições dentro de seis meses caso a coligação ganhe por pouco, Passos entrou num exercício de suposições sobre os cenários pós-eleitorais com o único objetivo de pedir maioria para poder governar: “Se nós não tivermos maioria no Parlamento para governar, não poderemos governar, porque não teremos sequer Orçamento, e isso significaria que o país voltaria ao tempo da crise política apenas resolvida com novas eleições“.

Ou seja, é o tudo ou nada. Antes, na véspera desta viragem discursiva, já Portas tinha assumido perante a população de Chaves que gritava “maioria absoluta!” que estabilidade era igual a maioria. “Pedem-nos maioria, e nós interpretamos isso como um pedido para mais quatro anos de estabilidade”, disse. Foi a resposta possível. Para bom entendedor, palavra “estabilidade” basta.

Estabilidade é maioria positiva (e não negativa)

Paulo Portas concretiza o argumento de Passos, polarizando dois cenários pós-eleitorais (onde em nenhum deles se admite a possibilidade de governar sem maioria: ou haverá uma “maioria positiva” no Parlamento, composta pela atual coligação e, segundo diz, “a única capaz de dar garantias de estabilidade”; ou uma “maioria negativa”, composta pela esquerda (PS, BE e PCP), que não se entende em “coisas básicas” como a permanência no euro.

Este sábado, o Expresso escreve que o PS, juntando-se à esquerda, se prepara para, no caso da coligação vencer as eleições sem maioria, impedir a aprovação do programa de governo da direita. Essa maioria negativa que se criará, segundo Portas, servirá “apenas” para criar um caminho de “obstrução” e de “bota-abaixo”. Que é como quem diz, “de instabilidade”.

Estabilidade é compromisso

A ideia é contrabalançar com a postura mais extremada do líder do PS, e esse papel cabe mais a Passos do que a Portas. Começou num almoço em Mirandela, Bragança, quando Passos se afirmou disponível para “compromissos” e “diálogo” com todos os partidos com assento parlamentar. Para bem de Portugal. Nesta segunda semana de campanha, de resto, começaram a ser distribuídas bandeiras de Portugal e não apenas bandeiras da coligação, como até aqui, para colar com a mensagem.

A estratégia passa pois por não dividir o país para governar, mas sim ao contrário. “É possível ganharmos todos em Portugal”, diz Passos, recusando a ideia de que a eleição não é para dar vitória a um partido ou a outro. “As eleições não são uma guerra (ou uma trincheira), são uma escolha”, completa Portas. Passos e Portas fazem força com a corda para o outro lado, e apelam ao “diálogo” e “ao compromisso”, em contraponto com a ideia de que “ou estão por mim ou estão contra mim”.

O argumento surgiu precisamente à boleia do facto de António Costa ter dito numa entrevista que não viabilizaria um orçamento da coligação, e agudizou-se com as notícias que davam conta de que o PS chumbaria um governo minoritário da direita.

Estabilidade é confiança

(e confiança é investimento, e investimento é criação de emprego)

A lenga-lenga é de Paulo Portas e já se deve ter ouvido tantas vezes na campanha como o hino “Portugal pode mais”.  “Se tivermos estabilidade, os empresários confiam. Confiando, investem. Investindo, criam emprego. Eu acho que isso é o mais importante para a generalidade dos portugueses”. Este tipo de argumento segue toda a linha das intervenções do líder do CDS.

A primeira parte da campanha, de resto, foi pensada de forma a que houvesse menos contacto de rua com a população e mais com as empresas, tecnológicas e produtoras agrícolas, para evidenciar os números das exportações, do turismo e do investimento. No Barreiro, durante uma visita ao Museu Industrial da Baía do Tejo, a presidente da Administração do Porto de Lisboa, Marina Ferreira, dizia mesmo que nunca tinha tido tanta gente interessada em investir. Era essa a ideia para alimentar a velha máxima: “estabilidade = confiança = investimento = emprego”. E a narrativa continua.