Todos os meses temos uma Lua cheia, todos os meses a Lua atinge o perigeu – o ponto mais perto da Terra durante a sua órbita – e todos os anos acontecem dois eclipses lunares. Então o que tem de especial o eclipse que vai acontecer na madrugada de domingo para segunda-feira? Vai juntar todos os fenómenos num só e oferecer-nos um eclipse de uma superlua.
Mais, apesar de todos os anos acontecerem dois eclipses, raramente são totais. Desta vez, em dois anos consecutivos, os quatro eclipses (a contar com este) serão totais. Esta tétrada dá azo a vários tipos de crenças e mitos, incluindo os que preconizam que o mundo vai acabar. Mas a maior curiosidade desta tétrada é que coincidiu com os dias da Páscoa judaica e da Festa dos Tabernáculos (Sucot), refere o Observatório Astronómico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (OAL/FCUL).
“Esta ocorrência simultânea é bastante rara e aconteceu apenas por quatro vezes no último milénio”, refere o OAL.
Apesar de raro, este evento não apresenta nenhuma razão de preocupação, garante Noah Petro, cientista no Centro Aeroespacial Goddard da NASA (agência espacial norte-americana). “A única coisa que vai acontecer na Terra durante o eclipse é que as pessoas vão acordar na manhã seguinte com dores de pescoço por passarem a noite toda a olhar para cima.”
Uma lua maior e mais brilhante
O perigeu é o ponto em que a Lua se encontra mais próxima da Terra durante a órbita que descreve, mas o perigeu deste mês será o mais curto de 2015 – a Lua estará a 356.877 quilómetros da Terra (cerca de 49.600 quilómetros mais perto do que quando se encontra no apogeu, o ponto mais distante), explica o OAL.
Este perigeu, às 2h46 (hora de Lisboa), coincide com a Lua cheia que acontece precisamente às 3h50 e faz com que a Lua pareça ser 14% maior e 30% mais brilhante do que quando está no apogeu, nota a NASA. Próximo dessa hora, às 3h47, o eclipse atinge o máximo, o que pode fazer deste acontecimento astronómico, um super acontecimento – tudo depende do entusiasmo com que estiver a olhar para o céu.
Mas antes de continuar, vamos esclarecer as confusões.
Apesar de a Lua parecer 14% maior vai ser difícil de o perceber a olho nu enquanto ela está alta no céu. É preciso não confundir com a ilusão que temos de que a Lua está muito maior quando está mais perto do horizonte. Os cientistas ainda não conseguiram perceber o que motiva esta ilusão. Para testar se é mesmo uma ilusão, os cientistas aconselham que tire uma fotografia à Lua no horizonte e depois alta no céu para ver têm o mesmo tamanho.
A melhor altura para ver o brilho intenso da Lua é depois do nascimento, às 19h10 (hora de Lisboa), e à medida que a noite avança vamo-nos preparando para o eclipse. Se quiser vê-lo do princípio ao fim, o melhor é arranjar uma boa espreguiçadeira ou um bom apoio para o pescoço, porque são cerca de quatro horas de duração total. Agasalha-se, olhe para sudoeste e leve umas pipocas – faça de conta que está a ver cinema ao ar livre.
Depois da uma da manhã (hora de Lisboa), a Lua vai começar a entrar na penumbra criada pela Terra, ficando com tons acinzentados, mas quando começar a entrar na sombra, às 2h07, a Lua vai ter tons mais avermelhados ou acastanhados. Das 3h11 às 4h27, a Lua estará totalmente dentro da zona de sombra da Terra e só sairá completamente da penumbra às 6h24.
Espera aí… Tons avermelhados!? Mas não era suposto ficar tudo escuro?
A sombra da Terra mal dá para tapar toda a Lua. E se estivéssemos na Lua a olhar para a Terra veríamos um alo de luz do Sol à sua volta. Resultado: a luz do Sol continua a atravessar a atmosfera terrestre. Divide-se, muda de direção, é absorvida e algumas das cores do espetro “perdem-se”, mas parte da cor vemelha ainda consegue ser desviada em direção à Lua. Como a luz vermelha é menos refratada (desviada) também é por isso que o céu toma essa cor durante o pôr do sol.
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Onde ver o eclipse?
Para que possa compreender este e outros conceitos sobre o eclipse, para aprender a identificar as crateras da Lua e, já agora, para ver outros astros com a ajuda do telescópio, pode juntar-se à equipa do Centro Ciência Viva de Constância – a partir das 23h30 (hora de Lisboa) para uma pequena palestra, da meia-noite para ver outros astros e das 2 horas para ver o eclipse – e à equipa do Observatório Astronómico de Santana, nos Açores – da meia-noite (hora local) às 4 horas. Na segunda-feira à noite, num pós-eclipse, o Centro Ciência Viva do Algarve também vai ter uma sessão de astronomia, entre as 20 e as 22 horas.
Se está em Portugal continental e ilhas, na Europa ou em África, ou ainda na América do Sul ou na parte mais oriental da América do Norte não pode perder este evento. O último eclipse total de uma superlua aconteceu em 1982 e só volta a repetir-se em 2033. Portanto se não conseguir juntar-se a nenhum grupo, escolha apenas um bom sítio para ficar a olhar para Lua, porque não precisa de nenhum equipamento especial. Se não conseguir vê-lo no exterior, tente segui-lo ao vivo no site da NASA (aqui).
Se planeou ir para o cabo Carvoeiro, cabo Espichel ou mesmo Sintra, o melhor é escolher outro sítio. Prevê-se que o céu esteja limpo em todo o país, mas do litoral oeste até Viana do Castelo pode haver formação de nevoeiro que dificultam ou impedem a visualização do eclipse, conforme informou o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). As temperaturas essas serão bem mais agradáveis. Prevê-se que dentro das temperaturas mínimas a variação seja de 9º C em Bragança a 18º C em Portalegre, mas não invalida que leve um agasalho para passar tantas horas no exterior
Já agora, se tem uma boa máquina para registar o momento, aproveite para o partilhar connosco. Envie a fotografia, autor e local para leitor@observador.pt.
Mais curiosidades sobre este fenómeno
Se todos os meses a Lua passa no perigeu e no apogeu, porque é que não acontecem eclipses todos os meses? Porque a órbita da Lua está ligeiramente inclinada em relação à órbita da Terra em volta do Sol e só fica perfeitamente alinhada duas vezes por ano. Assim é preciso que os três astros fiquem perfeitamente alinhados e que a Lua passe na sombra da Terra para termos um eclipse lunar (se a Lua fizer sombra sobre a Terra teremos um eclipse solar).
Este ano teremos três superluas consecutivas – a primeira aconteceu em agosto –, mas a de setembro é a maior de todas, porque terá o perigeu mais curto do ano. “Esta proximidade da Lua e quase alinhamento com o Sol gera marés oceânicas de maior intensidade, como mostra o cálculo feito pelo Prof. Dr. Carlos Antunes”, refere o OAL.
Tanto a Lua como o Sol, com a força gravítica que exercem sobre a Terra, condicionam a formação de marés. No alinhamento da Lua cheia e da Lua nova, que acontece todos os meses, a força gravítica provoca a movimentação rápida da massa líquida, logo marés vivas. O perigeu e a Lua cheia deste domingo para segunda a acontecem quase à mesma hora (cerca de uma hora de diferença) e esta conjugação de fatores faz com que as marés (preia-mar e baixa-mar) sejam ainda mais extremas, explica o OAL.