A diferença entre os resultados dos testes anti-emissões de dióxido de carbono nos automóveis e o desempenho real “tornou-se num abismo”, passando de 8% em 2001 para 40% em 2014, revela um estudo.

O estudo “Mind the Gap”, da autoria da European Federation for Transport and Environment (AISBL), entidade que trabalha com a Comissão Europeia, foi hoje divulgado pelo Dinheiro Vivo, que escreve que a Volkswagen “é ponta do iceberg” e que a “Mercedes, BMW e Peugeot distorcem dados”.

O diário ‘online’ reforça ainda que a Volkswagen “foi a primeira a ser descoberta, mas está longe de ser a única gigante da indústria automóvel a manipular os testes de emissões de gases poluentes”.

“O sistema de testes aos automóveis para medir a economia de combustível e as emissões de CO2 está totalmente desacreditado. A diferença entre os resultados dos testes e o desempenho real tornou-se num abismo, passando de 8% em 2001 para 31% em 2012 e 40% em 2014. Esta lacuna irá aumentar para quase 50% em 2020, se nada for feito”, lê-se no estudo.

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De acordo com o documento, em média, apenas um terço da melhoria das emissões reclamadas nos testes tem correspondência na estrada, desde que foram introduzidas regras em 2008.

“Os fabricantes de automóveis, não os condutores, são a causa do problema e do facto de os testes oficiais estarem a ser manipulados”, diz o documento, que depois aponta exemplos concretos e destaca a Mercedes como a marca que “tem a maior diferença média entre o teste e o desempenho real”, “com o consumo real de combustível a exceder em cerca de metade o [que mostra o] resultado de testes”.

Acrescenta ainda, a propósito da Mercedes, que os modelos classe A, C e E têm uma lacuna dos testes face ao desempenho real superior a 50%, enquanto na série 5 da BMW e no Peugeot 308 o fosso fica abaixo dos 50%.

O relatório refere ainda que nenhuma das melhorias nas emissões medidas em testes de carros Opel/Vauxhall desde 2008 teve correspondência na estrada e apenas um quinto da aparente melhoria das emissões provenientes do lançamento do Mark 7 VW Golf (carro mais vendido da Europa) foram alcançadas na estrada.

“Tais diferenças não provam a utilização de dispositivos manipuladores por qualquer fabricante. No entanto, tornam imperativo o alargamento do âmbito de investigações sobre o uso desta tecnologia ilegal para falsificar os testes de CO2”, frisa.

O relatório revela ainda que esta realidade leva os condutores a gastar em média mais 450 euros anualmente em combustível, comparado com o que seria esperado tendo em conta os resultados dos testes.

Uma das soluções, aponta, é a introdução de um novo teste global, o WLTP (Worldwide Harmonised Light Vehicles Test Procedure) a partir de 2017, mas este apenas será uma parte da resolução do problema, pelo que deve ser complementado com medidas para corrigir as deficiências graves no sistema da União Europeia de testes em carros, diz o estudo, apontando algumas delas.