— Então, tens visto House of Cards? O Underwood é cá um pulha!!
— Não, eu sou mais de Breaking Bad!…
— Hummm, pois, não vi muito. Não gosto do Walter nem do Pinkman. E Dexter, vês?
— Não, também não. O que tenho visto ultimamente é Mad Men.
As séries de televisão são como um faroeste. E nós, “viciados” (com ou sem aspas) que somos, tornamo-nos num John Wayne de ocasião, preparados para sacar da pistola em defesa da nossa donzela — que é como quem diz, da nossa série. Mas porque é que, quase religiosamente, episódio após episódio, todas as temporadas sem falta, nos sentamos em frente da TV (ou do tablet, ou do computador, tanto faz) para descobrir o que vai acontecer a seguir? A Netflix não lhe responde a isso — é o segredo de um negócio de gera anualmente muitos milhões de dólares.
Mas o que a Netflix lhe revela é em que episódio de cada série (contabilizando só a temporada de estreia de cada uma) é que os espectadores se fidelizaram àquele enredo. Não, nem sempre é o episódio-piloto, o primeiro de todos, que agarra a audiência. Há séries, como “Breaking Bad”, que nos viciaram logo ao segundo episódio da saga de Walter White — o professor de química, homem de família e doente oncológico que se transformou, aos poucos, em Heisenberg, o maior (e melhor, diga-se) produtor de metanfetaminas do Novo México. Outras, como “How I Met Your Mother” — a série em que Ted demora nove longas temporadas a contar aos filhos como é que conheceu a mãe deles –, só ao oitavo episódio começam a fidelizar a audiência.
Mas o que significa isso de fidelizar? A Netflix analisou os hábitos de milhões e milhões de assinantes deste serviço de subscrição online de séries, filmes, documentários e programas de TV em 16 países — Portugal ainda não faz parte dos clientes da Netflix, mas a partir de outubro também fará. O conceito de “fidelização” é aqui simples de explicar: a fidelização acontece quando mais de 70 por cento dos espectadores que só começaram a ver a série em determinado episódio, nunca mais deixaram de assistir ao seguinte — e assim se mantiveram até ao fim das temporadas posteriores à de estreia.
Eis as histórias da série (para quem não viu) e do episódio-chave de algumas das produções mais populares em Portugal. E cuidado: se é sensível a “spoilers”, pare já.
“Breaking Bad”, Episódio 2
É melhor explicar-lhe do começo, caso não saiba quem é Walter White. Ele é professor de química no liceu. Mas é mais do que isso: é um génio da ciência com a conta bancária de um zé-ninguém, que tem de trabalhar nas horas vagas atrás da caixa registadora do ‘Elefante Azul’ lá do sítio para conseguir pagar as despesas de casa, que se amontoam. E amontoam porque Walter descobre que sofre de um cancro terminal nos pulmões — logo ele, que nunca fumou um cigarro na vida e tinha uma vida pacata. Talvez demasiado pacata. Mas essa vida vai mudar, quando Walter reencontra Jesse Pinkman, um seu ex-aluno das aulas de química no liceu. Pouco a pouco, ele leva-o para o negócio das metanfetaminas. Walter acabará por se tornar em Heisenberg, o maior (e melhor) “cozinheiro” de metanfetaminas do Novo México. Logo no 1.º episódio, Walter e Pinkman vêem-se metidos em sarilhos. Ao 2.º, vão ter que se livrar desses sarilhos. Com muita química e morte na mistura. É que há um traficante amarrado na cave de Pinkman para matar. E outro, morto horas antes na ‘cozinha’ ambulante de metanfetaminas de Walter e Jesse, para fazer desaparecer. Literalmente. Terá sido aquela banheira cheia de ácido hidrosulfúrico (se viu, sabe…) que cativou os fãs de ‘Breaking Bad’?
“Dexter”, Episódio 3
Quem é Dexter Morgan, pergunta você? À primeira vista, não é mais do que um rato de biblioteca, ou melhor, de laboratório, na polícia de Miami. O que faz Dexter nas horas vagas? Coisa pouca: é assassino em série. Órfão desde os 3 anos, Dexter foi adoptado por Harry, um polícia. Até aqui, tudo bem. Quando Harry descobriu que o jovem Dexter matava, volta e meia, os animais de estimação dos vizinhos, não lhe deu um puxão de orelhas por aí além. Mas resolveu ensinar-lhe um “código de ética”, chame-mos-lhe assim. E ordena o código que as vítimas de Dexter devam ser assassinos, homens e mulheres que mataram inocentes – e com propensão a continuar a fazê-lo. Ao 3.º episódio o ‘mauzão’ da trama é o ‘Ice Truck Killer’, que fez mais uma vítima e a deixou, moribunda, num ringue de hóquei no gelo. A tenente Laguerta pôs os seus agentes em alerta: era necessário apanhá-lo. Mas Dexter vai chegar primeiro. Dê lá por onde der, ele chega primeiro. E isso prende-nos à série.
“House of Cards”, Episódio 3
https://www.youtube.com/watch?v=ULwUzF1q5w4
Francis Underwood é um pulha, certo? Não há como adjectivá-lo de outra forma — talvez houvesse um adjectivo pior, mas fica à sua consideração usá-lo. Francis representa tudo o que há de corrupto na política norte-americana. Mas vamos por partes. Francis Underwood, ou Frank (para os poucos amigos que tem), é um congressista. O 1.º episódio mostra-o a matar um cão em agonia com as próprias mãos, enquanto explica que existem alturas nas nossas vidas em que é necessário fazer algo de muito desagradável, mas extremamente necessário. E é isso que ele faz enquanto congressista: resolve problemas, ou melhor, crises politicas. No 3.º episódio, Underwood vê-se obrigado a regressar à sua terra natal, na Carolina do Sul, e logo numa altura em que não lhe convinha nada, pois negociava (duramente) a reforma da educação com o sindicato dos professores. E porque é que ele regressa? Porque morreu uma mulher num acidente de viação e a família dela (encorajada pelos detractores de Underwood) quer processá-lo, acusando-o de ser o responsável pela construção de uma maldita torre de água, com um pêssego gigante no topo, que distraiu a vítima. A tensão do episódio criou uma legião de fieis ao nosso pulha favorito.
“How I Met Your Mother”, Episódio 8
É uma sitcom. E, como sitcom que é, cada episódio encerra em si uma história – e o enredo evolui lentamente ao longo das nove temporadas. Se perder um episódio ou dois, e só retomar a história mais adiante, não se vai perder na trama. Ao 8.º episódio, o fidelizador por excelência da série, Lily, a mais-que-tudo de Marshall, vai viver com ele e com o seu amigo Ted. O problema é que Ted se sente empurrado para fora da própria casa com o par a invadir-lhe o espaço — e o sofá. Como é que Marshall e Ted vão resolver o assunto? Como bons adultos que são: empunhando espadas. A cena foi suficiente para ninguém mais falhar um episódio que fosse.
“Mad Men”, Episódio 6
https://www.youtube.com/watch?v=rWqdQtebZV8
Madison Avenue, em Nova York. A década é a de 1960. E a série conta a história (não só, mas também) da agência de publicidade Sterling Cooper e de Don Draper, o director criativo lá do sítio. A trama tem como foco a agência e a vida pessoal das personagens que nela trabalham, sempre à luz das mudanças sociais ocorridas nos Estados Unidos daquela época. Ao 6.º episódio, a Sterling Cooper está a tentar criar um anúncio para promover o turismo em Israel. O que é que Don sabe sobre Israel? Nada. Mas isso não é um problema para ele.
“Scandal”, Episódio 2
Olivia Pope foi assessora de imprensa do presidente dos Estados Unidos. Deixou o cargo, mas não deixou de fazer o que melhor sabe: proteger e defender a imagem pública da elite americana, mediar crises empresariais e políticas e resolver problemas antes que o mundo (e a imprensa) saiba que eles existem. Ao 2.º episódio, Olivia ajuda Sharon Marquette, que gere uma rede de prostituição de luxo para clientes poderosos. Olivia salva-a antes que a investigação chegue a casa dela. Foi por um triz — e o triz, ali, agarrou-nos à série.
“The Walking Dead”, Episódio 2
https://www.youtube.com/watch?v=GJRNHAJAcYg
Uma série pós-apocalíptica em Atlanta e com zombies? Sim, tinha realmente tudo para resultar. E resultou. ‘The Walking Dead’ conta a história de um grupo de sobreviventes que procura um refúgio, longe da horda de mortos-vivos devoradores de pessoas. Mas o verdadeiro enredo não é a fuga dos zombies que vêm aos magotes, mas os dilemas que o grupo liderado pelo xerife Rick Grimes enfrenta. Ao 2.º episódio, o grupo ainda se está a formar, há quezílias entre o racista Merle e T-Dog, mas já há que correr (e muito) para não ser apanhado.