Com a campanha no final, e as sondagens a indicar uma vitória da coligação, Passos Coelho está preparado para o cenário central: um Governo de minoria, que pode muito bem cair antes do final do mandato.

Segundo apurou o Observador, há no círculo mais restrito da coligação a convicção de que a vitória acabará por tirar António Costa da liderança do PS e – com isso – que se abra uma janela para conversar com o principal partido da oposição. Talvez não para fazer uma coligação, mas pelo menos para negociar o apoio socialista para “diplomas estruturantes”, ligados às “obrigações europeias”. Na prática, isto quer dizer apoio nos Orçamentos do Estado, o único diploma de um Governo que o pode fazer cair (se for chumbado).

“Espero que o PS perceba que os votos que perdeu nesta campanha foi por ter fechado portas, afastando o eleitorado do centro”, diz um dos elementos mais próximos dos líderes do PSD e CDS.

Mas nem essa esperança tira do mapa aquele que é o cenário central para a coligação: vem aí um novo Governo, mas um Governo em minoria (e de uma coligação). E face a isso, Passos tem na cabeça a estratégia a seguir: acelerar calendários e fazer a primeira metade da legislatura “a abrir”.

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O primeiro passo é aprovar o Orçamento – e o objetivo é aprová-lo já até ao fim do ano. “É perfeitamente possível”, explica uma fonte próxima do primeiro-ministro. “Temos o trabalho técnico pronto, o que falta é tomar opções políticas”, explicou já Maria Luís Albuquerque, que deu indicações aos ministérios para fazerem como normalmente, de modo a tudo poder ser rápido depois da posse do novo Governo. Mesmo as opções políticas estão já, refira-se, “muito condicionadas”: o Programa de Estabilidade de abril deu o mote e, para Passos, é só seguir o guião.

Em São Bento acredita-se que o ano fechará com uma boa nova: um défice abaixo de 3% (mesmo que não cumprindo os 2,7% traçados como objetivo). E abaixo de 3% chega para tirar Portugal do Procedimento de Défices Excessivos e, portanto, em vigilância menos apertada de Bruxelas. “É importante para os mercados, vai colocar o país em boa posição”.

Mas não dará para aliviar o ritmo. Porque o entendimento de Passos é que as boas condições dos mercados internacionais “não vão durar mais do que dois anos e vai ser preciso pôr as contas certinhas até lá, para depois não entrarmos outra vez em zona de perigo”, explica a mesma fonte ao Observador. Mas não é só por razões económicas que Passos quer acelerar na primeira metade da legislatura. “É um Governo em condições muito diferentes”. Está longe de ser certo que o PS aprove mais do que um orçamento – e mesmo a coligação vai entrar num tempo diferente.

Dito assim, a estratégia parece como a de Cavaco em 1985 (também em minoria): fazer o que é preciso rápido, contando que isso sirva de argumento se houver eleições antecipadas a meio.

E se der PS+Bloco?

Dito isto, não há ainda certezas nem festa na campanha PSD/CDS. Há até um medo: que o PS e o Bloco de Esquerda juntos consigam mais deputados do que PSD e CDS. E tentem governar, mesmo que a coligação vença no domingo.

Nas últimas horas, houve rumores que passaram pela caravana de que as conversas entre os partidos à esquerda já se faziam. E, de caminho, passava-se a mensagem, esperando que fosse um último argumento para convencer os indecisos, com o medo de um Governo “mesmo à esquerda”.

Passos, de todo o modo, levará a sua opção até ao fim. Reclamará vitória, vai a Belém com a intenção de formar Governo – esperando que só depois, na Assembleia, a esquerda defina se o quer chumbar ou não (assumindo um pesado ónus político). E conta também que Cavaco Silva pressione um acordo ao centro – deixando de fora a esquerda que “tem um pé fora do euro”. Seguindo até um exemplo particular: o que Mário Soares fez em 1987, quando Vítor Constâncio levou um governo com o PRD e CDU a Belém, depois de derrubar Cavaco, não aceitando essa proposta.

No cenário em que já ninguém quer acreditar, o de uma derrota, os dados também estão na mesa: PSD e CDS darão abertura para negociar, não só o orçamento, mas também diplomas centrais como uma reforma da Segurança Social.