Esta noite eleitoral começou mal. Pela primeira vez desde 1975, houve a tentativa de escamotear uma vitória. O facto é que só há uma maioria de governo no país: a formada pelo PSD e pelo CDS. Os que ficam de fora são partidos que nada têm de comum entre si, a não ser a recusa do PSD-CDS. O que poderiam formar nunca seria um governo, mas apenas um anti-governo, destinado unicamente a impedir os vencedores das eleições de governarem.
A linha de divisão política em Portugal não é e nunca foi esquerda-direita, mas entre aqueles que, à direita e à esquerda, acreditam na democracia pluralista, na “economia social de Mercado” e na integração europeia, e aqueles que, à direita e à esquerda, não acreditam. Desde 1976, os partidos que acreditam formaram o arco da governação, de que uma das regras é aceitar o direito dos vencedores em eleições a governar: foi assim em 1976, em 1985, em 1995, em 1999, em 2009, quando não houve maiorias absolutas, mas Mário Soares, Cavaco Silva, António Guterres e José Sócrates puderam formar governo e viram os seus primeiros orçamentos passar no parlamento. O PSD, o CDS e o PS nunca deixaram, entre si, de dar uma oportunidade a quem venceu nas urnas. É esse o arco da governação. Se o PS se comportasse de outra maneira, o sentido era claro: o PS teria passado da governação para a anti-governação. Ter-se-ia tornado mais um partido de protesto.
A coligação teve um resultado que foi muito bom em relação às expectativas, vindicando a orientação dos últimos anos, mas que a obriga a tomar em conta as outras forças do arco da governação, isto é, o PS. Quanto ao PS, teve o seu pior resultado de sempre, dadas as circunstâncias. Tem agora duas opções: ou afirma o seu papel de partido do arco da governação, condicionando a maioria de governo, ou, pelo contrário, submeter-se à liderança de Catarina Martins e dilui-se no protesto radical e comunista.
* Rui Ramos é historiador e colunista do Observador
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