Uma viagem entre Lisboa e Oeiras faz-se, nos dias que correm, em menos de meia hora, desde que o trânsito colabore. Mas nem sempre foi assim. Na segunda metade do século XVIII esse percurso era bem mais fatigante. De tal forma, aliás, que à falta de hotéis, estações de serviço ou outros locais a meio caminho onde pudesse desentorpecer as pernas moídas pela viagem, o Marquês de Pombal — que se deslocava com frequência entre as suas residências da capital e da vila — mandou erguer na atual Cruz Quebrada, em terrenos da sua família, nada mais nada menos que um palácio, só para efeitos de descanso. Boas vidas.
E é nesse mesmo palácio, ou em parte dele, que o chef Vítor Areias se estreia enquanto senhor do seu próprio restaurante, este novíssimo — abriu a 8 de outubro — Estória. Uma casa que também tem história, passe a assonância, na restauração: ali funcionou durante anos o Novo Altair, que deixou saudades entre os adeptos do fondue. Agora, é tempo de (outra) Estória. Um projeto que Areias andava a marinar há algum tempo.
Depois de sair do Assinatura dediquei-me a estudar e a criar condições para abrir um espaço. Porquê aqui? Fazê-lo em Lisboa nunca foi uma hipótese,sempre quis abrir em Oeiras que é o meu concelho, onde vivo. Não podemos ir todos para Lisboa…”
Apesar da sua relativa juventude, 31 anos, Vítor Areias tem um currículo apreciável. Estagiou em dois dos melhores restaurantes do mundo, o Noma e o Mugaritz, e passou pela cozinha do catalão Paco Perez no Enoteca do Hotel Arts, em Barcelona, dono de duas estrelas Michelin. Por cá, rodou entre Bica do Sapato, 100 Maneiras e Manifesto, antes de chefiar a Taberna 2780 e, mais recentemente, o Assinatura. Pelo meio também se aventurou nos supper clubs, numa experiência de nome Confidential Kitchen.
Os pergaminhos contam, claro, mas o chef adverte que o objetivo para este novo projeto “não passa pelo fine dining“. Por onde passa, então? “Quero que isto seja um espaço confortável, agradável, que as pessoas gostem e em que os produtos sejam bem tratados, nas temperaturas certas, com cuidado na apresentação, no sabor e na textura”, explica. Para tal, Areias conta dar grande protagonismo aos produtos de estação: os boletos já estão na carta e há um prato com marmelo prestes a juntar-se à festa. A oferta, aliás, é para ir mudando conforme a estação for oferecendo produtos novos.
Entre as sugestões atuais de pratos principais contam-se alguidar de cantaril com massa sovada e nhame com especiarias (13,80€), pescada corada com presunto de porco preto e arroz de tomate (13,60€), perna de borrego com aligot de queijo da serra e esparregado (16,90€) ou bochechas de porco alentejano, piso de bolota e arroz de enchidos (13,40€). Quem quiser optar por fazer um tour completo pela cozinha de Areias — que aqui se desdobra entre a cozinha e a ajuda no serviço às mesas — pode optar pelo menu de degustação de cinco pratos (37€).
Para complementar, há cerveja artesanal Vadia, uma seleção de vinhos que tenta dar a conhecer alguns produtores de menor fama (Quinta das Brolhas, Serros da Mina ou 100 Hectares, entre outros) e pão feito no local. O Marquês de Pombal era pessoa para gostar disto.
Nome: Estória
Morada: Rua Sacadura Cabral, 54 (Cruz Quebrada), Oeiras
Telefone: 21 130 4406
Horário: De terça a sexta das 19h30 às 23h. Sábado das 12h30 às 14h30 e das 19h30 às 23h
Preço Médio: 25€
Reservas: Aceitam