A Amnistia Internacional (AI) pede a libertação imediata e “sem nenhuma condição” dos 15 ativistas angolanos detidos desde junho, disse à Lusa, em Paris, Mariana Abreu, a coordenadora de campanhas lusófonas da organização.

“Consideramos o grupo todo como prisioneiros de consciência. Significa que é um grupo pacífico e que está preso unicamente por causa das suas opiniões. Não cometeram crime nenhum e a nossa posição é que eles devem ser imediatamente soltos sem nenhuma condição porque qualquer acusação feita contra eles tem de ser retirada”, declarou a responsável por campanhas em Angola que trabalha para a delegação da África Austral.

Mariana Abreu explicou que está em curso “uma petição direcionada ao ministro da Justiça e Direitos Humanos e também ao procurador-geral de Angola demandando que os 15 sejam imediatamente e incondicionalmente soltos por serem prisioneiros de consciência”, sublinhando que a petição está disponível em português, italiano, árabe e inglês e que já recolheu mais de 31 mil assinaturas.

A responsável disse que a Amnistia Internacional está a acompanhar “de perto, não só o caso do Luaty [Beirão] como o caso dos 15”, sublinhando que “a situação de saúde dele [Luaty] é crítica porque há 31 dias que está em greve de fome” e alertando, também, para a saúde “realmente debilitada” do ativista Albano Bingobingo, que terminou uma greve de fome de 12 dias na terça-feira.

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“Além do Luaty também nos preocupa a situação do Albano Bingobingo que é um outro ativista que estava há doze dias em greve de fome, mas ontem interrompeu. Ele continua no hospital prisão de São Paulo e ele precisa urgentemente de tratamentos médicos por mais que tenha terminado a greve de fome ontem. A sua saúde está realmente debilitada e ele precisa de atendimento médico o mais breve possível”, continuou.

O ativista angolano Luaty Beirão entrou, esta quarta-feira, no 31º dia de greve de fome, exigindo aguardar julgamento em liberdade. Luaty Beirão é um dos 15 ativistas em prisão preventiva desde junho de 2015, formalmente acusados, desde 16 de setembro, de prepararem uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, um crime que admite liberdade condicional até serem julgados.

Mariana Abreu disse, ainda, que “há relatos” de maus tratos dos ativistas que teriam sido agredidos por polícias, na prisão, “com bastões de choque”, insistindo que já passaram quatro meses desde a detenção dos jovens e que eles devem aguardar, em liberdade, o julgamento que arranca a 16 de novembro, no Tribunal Provincial de Luanda.

Em causa está uma operação policial desencadeada a 20 de junho de 2015, quando a maior parte dos jovens foram detidos, em Luanda, durante uma reunião semanal na qual estavam a estudar o livro “Da Ditadura à Democracia” do escritor Gene Sharp.

“Para nós, isso mostra o que o Governo está disposto a fazer para calar aqueles que ousam ler livros que os auxiliariam a criticar e a realizar demonstrações pacíficas”, acrescentou Mariana Abreu, destacando que quando “o Governo entra numa casa sem mandado de prisão e prende pessoas que estavam ali reunidas por simplesmente lerem um livro” isso mostra até onde “o Governo está disposto a ir para reprimir a dissidência”.