Lisboa. Rua da Padaria. 14h40. O elétrico, carregado de turistas, sobe a rua de traçado sinuoso. Ao fundo, um casal de mãos dadas caminha descontraído no passeio. Com um guia turístico na mão, o seu olhar percorre os vários números das portas. Ao chegar ao 25, olham para o segundo andar e tocam à campainha. Como a porta se encontra entreaberta, entram.
Chegados ao patamar superior, uma voz proveniente de um walkie-talkie no chão dá as boas vindas e indica que o jogo já começou. A partir deste momento, os dois necessitam de entrar na casa e tentar sair dela numa hora, recorrendo apenas ao raciocínio e ao trabalho de equipa.
O Lisbon Escape Game é o primeiro “live room escape game”, em Lisboa, no qual as pessoas são desafiadas a conseguir sair da casa, onde ficaram fechadas, em menos de 60 minutos. Para superar o desafio, cada equipa tem de encontrar objetos, resolver enigmas, decifrar mensagens codificadas e combinar uma série de pistas que permitem regressar à liberdade.
Na sala ao lado daquela onde se encontra o casal, a chamada sala de controlo, está João Santos, cofundador e criador do jogo em Portugal. Tudo começou em Budapeste, quando viajava com a sua namorada Ana Borga e decidiram jogar pela primeira vez. “Gostámos do conceito, mas achámos que podíamos melhorá-lo, dando-lhe um enredo próprio”, conta. Por isso, realizaram uma pesquisa intensiva sobre a história de Lisboa e concluíram que a cidade foi a capital dos espiões na década de 40. “Muita gente não sabe, mas havia muitos espiões em Lisboa, que se reuniam em cafés e esplanadas durante a II Guerra Mundial.”
Assim, foi criada a personagem fictícia, Jack Barbosa, um espião que se refugiou numa casa alfacinha, mas que deixou algumas pistas acerca do seu paradeiro. Deste modo, anos depois da viagem de férias do casal, o primeiro jogo, chamado O Espião, estava lançado.
Fomos pioneiros em Portugal. Criámos o nosso primeiro jogo em julho de 2014 e fizemos testes com familiares e amigos. Eles adoraram e então pensámos: ‘se eles se divertiram tanto, por que não alargar o jogo a mais pessoas’? E assim foi. O que começou numa brincadeira tornou-se completamente viral.”
Investigador em genética molecular, o jovem de 32 anos diz sentir-se feliz e realizado no decurso do processo de criação de cada jogo, que é demorado e extremamente minucioso. “Para chegarmos aos 12 enigmas existentes, criámos cerca de 200 puzzles, porque queremos que o desafio dê ‘pica’, seja divertido e resistente”, explica.
Entretanto, na sala onde João se encontra, graças ao sistema de videovigilância, é possível observar o progresso do casal no interior do compartimento, como se de um videojogo se tratasse. “Isto é como um teatro: aqui é o backstage, mas lá dentro é que se passa a ação.”
Enquanto monitoriza o jogo, o coordenador aproveita para dar uma vista de olhos nos e-mails, que chegam de clientes interessados em efetuar marcações.
“Em termos de visitantes, já passaram pelo jogo cerca de cinco mil grupos, o que representa um total de 22 mil pessoas num ano. Mas só 10% conseguiu sair, os outros 90% não”, refere.
Por fim, o cronómetro marca o término dos 60 minutos destinados ao casal. Faltaram poucos enigmas, mas Ana Mihaljevic e Marko Puljiz não conseguiram sair da casa, entrando para as estatísticas dos 90% dos participantes que não superaram o desafio. Naturais de Zagreb, na Croácia, encontram-se de férias em Portugal há uma semana. Para a gestora de projetos de marketing, a experiência superou as expetativas. “Pensava que fosse mais fácil, mas gostei muito”, afirma a jovem de 26 anos. Já para o seu namorado, Marko, são precisas apenas três palavras para descrever o jogo português: “Pico de adrenalina.”
Antes de se despedir, o casal dá os parabéns a João e pergunta quando será o segundo jogo. Entusiasmado, este revela que o próximo já está a ser preparado, ainda que não adiante uma data fixa de abertura ao público. “Vai-se chamar A Amante e é como se fosse um livro com dois capítulos: o primeiro é o Jack e o segundo é a amante do Jack. Existe uma ligação entre os dois, embora não seja preciso vir ao primeiro para se jogar o segundo.”
Lisbon Escape Game como exemplo de team building
Depois de se despedir de Marko e Ana, João apressa-se a arrumar a sala. Dentro de poucos minutos chegam cinco colegas de trabalho, inseridos na atividade de team building, que representa 25% do fluxo de marcações do site. Trabalham todos na WebDisplay, uma empresa de consultoria em tecnologias de informação, sediada em Lisboa. Para Luís, Bruno, Miguel, Nuno e João, a sua primeira viagem pelo mundo dos espiões começa agora.
Olhando a webcam ao longo do jogo, todos demonstram uma enorme coordenação e rapidez na resolução da chave dos mistérios. Ao chegarem à sala de controlo, a satisfação é notória. “O nosso propósito era sair, mas ao mesmo tempo, sentimo-nos dentro de um autêntico jogo de computador”, afirmam em coro.
O dia de João terminou, a equipa dos engenheiros era o último grupo. Ao abandonar o espaço, o criador do divertimento mostra-se satisfeito com o desfecho dos desafios. “Faço os jogos para deixar as pessoas divertidas. Se consigo, a minha missão está cumprida e não preciso de mais nada.”
Nome: Lisbon Escape Game
Morada: Rua da Padaria, nº 25, 2º andar (Baixa), Lisboa.
Preço: 50 euros por equipa.
Duração: 60 minutos.
Composição das equipas: 2 a 5 elementos.
Classificação etária: Participantes com mais de 18 anos, exceto se forem acompanhados por um adulto.
Reserva: através do site oficial do Lisbon Escape Game ou da página do Facebook.
Texto editado por Ana Dias Ferreira.