Collants? Não (por Sílvia Silva)
O debate não é novo. Surge ano após ano e impõe-se em jeito de despedida da estação mais quente. Desta vez, a questão foi colocada por Cartner-Morley na sua crónica (ou será melhor dizer grito de revolta) no The Guardian. Tal como ela, tenho de dizer desde já: uma parte de mim morre um bocadinho quando o frio aperta e me vejo obrigada a usar meias opacas. Sou vaidosa por natureza e, por isso, talvez este seja o momento ideal para confessar que não uso calças. No inverno ou no verão, só uso vestidos, saias e calções.
Não há nada mais elegante no guarda-roupa de uma mulher do que estas típicas peças femininas que destacam umas pernas esbeltas e, de preferência, bronzeadas. Admito que os collants opacos são mais quentes e confortáveis mas conseguem arruinar qualquer look e é por isso que reconhecidos criadores nunca os usam em editoriais ou desfiles. Imaginar um icónico vestido envelope da Diane Von Furstenberg com umas meias opacas é quase tão dramático como vestir uma saia com umas calças de ganga por baixo: perde-se toda a sensualidade e sofisticação.
Como se não bastasse, as meias opacas ainda causam ilusão de ótica e fazem-nos parecer mais pequenas, sem joelhos e sem tornozelos (apesar da fortuna que gastamos a comprar exemplares de todas as marcas e qualidades). Já para não falar que, se queremos manter a elegância, ficamos limitadas a cores como o preto, cinzento e azul marinho. Quando entramos na escala dos violetas, verdes ou vermelhos, podemos ser facilmente confundidas com uma criança acabada de sair da primária.
E é por isso que, a 25 de outubro, tenho o orgulho de dizer que estou há exatamente sete meses sem usar este tipo de meias. E por muito que tenha a noção de que estou prestes a ultrapassar o limite do que é socialmente aceitável em pleno outono, vou continuar a usar uma meia de vidro para enfrentar as noites mais frias. Mais do que uma questão de estilo, é uma questão de elegância. No dia em que chegar a casa encharcada da cabeça aos pés, prometo que voltarei a usar este triste acessório de inverno, escondido numa das gavetas da minha cómoda. Já sinto uma parte de mim a morrer um bocadinho.
Collants? Sim (por Ana Cristina Marques)
Vamos quebrar o molde e atirar a primeira pedra no charco da opinião. Eu, jornalista, me confesso: tenho uma devoção especial por meias opacas e pretas. É uma espécie de dueto perfeito que, transformado numa canção, representaria os acordes de uma tarde de outono. Ou manhã. Ou noite. É possível que vá contra os ditames da moda “impostos” seja por casas de renome ou fashionistas. Mas, convenhamos, percebo pouco disto. Compro o que me cai bem a olho nu e sujeito-me às escolhas que desfilam de montra em montra, sem passar muito tempo de volta de catálogos online e afins.
Dito isto, as meias opacas e pretas são dos poucos itens que considero obrigatórios assim que o frio chega — às vezes até me antecipo e aproveito as aragens frescas para estreá-las com saias ou calções justos. E por que o faço? Além de serem companheiras fiéis em dias de baixas temperaturas, são confortáveis, dão com quase tudo (salvo roupa azul escura e castanha, dizem), cobrem as pernas na perfeição e, julgo, ajudam a contornar o que precisa de ser contornado. São a solução fácil num dia preenchido: o facto de serem opacas faz com que sejam mais resistentes e, acrescente-se, falta-me a paciência para as meias praticamente transparentes que se rompem a cada corridinha mais urgente.
Mas desengane-se quem pensa que as prefiro — como quem diz idolatro — apenas por comodismo. Sou contra essa palavra da mesma forma que tenho muita dificuldade em aceitar, no copo, um vinho carrascão. Para mim, as meias opacas e pretas que envolvem as pernas são o equivalente a um monocasta Baga do ano 2009: o vinho que preenche o estômago e aquece a alma. Sim, acho-as bonitas, esteticamente apetecíveis e um must have no armário, como diria uma fashionista. E não é isso motivo suficiente? A provar a minha devoção, veja-se as vezes que repeti a expressão “meias opacas e pretas”, mesmo considerando que apenas tinha dois mil carateres para me justificar.
Collants, sim ou não? O desempate
“É lindo mostrar a pele, mas os collants são necessários para o frio e são a alternativa para as mulheres poderem usar saias no inverno”, diz a stylist Helena Assédio Maltez, acrescentando ainda que as meias opacas são importantes para proteger visualmente qualquer imperfeição nas pernas. “De facto, acho que os collants são necessários e ótimos”, continua, fazendo referência a três tipos de meias:
- as meias pretas transparentes com efeito baguete, consideradas muito sensuais;
- as meias opacas, que desde há uns anos para cá têm estado muito na moda;
- as meias naturais transparentes, ou meias de vidro, que na opinião da stylist nem sempre são bem usadas.
No entanto, Helena faz uma ressalva, defendendo que é inapropriado usar calções com collants, sejam eles transparentes ou opacos. “Calções no inverno devem ser usados com meias por cima do joelho.”
Já Rita Carvalho, a cargo da In Styleland (que desenvolve serviços na área de consultoria de imagem e comunicação), começa por dizer que em ambientes formais de trabalho é obrigatório usar collants finos e da cor da pele. Nos ambientes menos formais ou informais essa contrariedade deixa de existir, embora Rita aconselhe sempre o uso das respetivas meias (excetuando no verão).
Falando em vantagens e desvantagens, a consultora de imagem defende que os collants cor de carne ajudam a prolongar as pernas porque não são tão marcantes e são mais discretos, mas refere o mesmo em relação ao preto que, sendo um tom neutro, também não chama a atenção. É tudo uma questão de ton sur ton: collants da mesma cor que o outfit ajudam a alongar o corpo em pessoas com mais peso ou mais baixas, enquanto as cores contrastantes cortam a silhueta.
Concluindo: “Depende do gosto pessoal de cada um e do conforto. Mas em dias frios aconselharia collants opacos.”