À medida que Armando Cabral percorre os corredores da sua nova loja na Embaixada do Príncipe Real, em Lisboa, é impossível não reparar nele: os 1,88 metros de altura conjugados com as suas feições exóticas não enganam. Muito menos o fato marsala que está impecavelmente engomado para contrastar com os sapatos pretos. “Começo sempre a escolher a roupa do sapato para cima”, admite num português perfeito. Não é de estranhar que tenha a indústria da moda a seus pés. Calvin Klein, Louis Vuitton, Galliano e Givenchy são alguns dos nomes que já se renderam a este manequim português.
Lá fora, o seu nome também não passa despercebido. Para a prestigiada revista Details, é um dos melhores modelos do mundo. Para o Models.com, é o único manequim português no ranking de modelos masculinos icónicos. A lista continua. Ainda assim, continua a preferir que o tratem por tu. É o tipo de pessoa que deixa os formalismos de lado quando entra numa sala com um sorriso de orelha a orelha. Mas quem é Armando Cabral? “Um homem simples e humilde”, responde. “A minha mãe sempre me disse para não me deixar deslumbrar pelo título, profissão ou estatuto financeiro e, até hoje, esse foi o conselho que mais me marcou.”
Por cá, a sua história é pouco conhecida e quase ignorada. Tem 33 anos — faz 34 dia 11 de novembro — e é natural da Guiné-Bissau. Veio para Portugal com apenas três anos e pela Amadora ficou. As suas tardes de infância foram passadas a jogar basquetebol com o irmão mais novo (e também modelo) Fernando Cabral, até partir para Inglaterra para estudar Finanças e Gestão. “A opção de ir para o estrangeiro não foi minha mas do meu pai. E, hoje, tenho a certeza que isso ajudou a impulsionar todo o meu sucesso.” Ou não teria ele, aos 24 anos, partido para a Big Apple em busca do sonho de ser modelo. “Uma das minhas coisas favoritas em Nova Iorque é a energia e a possibilidade de concretizar sonhos”, disse ao The Fashionisto. O cliché tornou-se realidade um ano depois.
“O grande marco da minha carreira foi certamente a minha primeira semana de moda em Milão”, recorda. “O desfile que fiz em exclusivo para Calvin Klein abriu-me portas e permitiu-me dar passos largos na moda.” Logo no primeiro casting, cativou o júri com a sua presença forte e foi selecionado. Seguiu-se Dries van Noten em Paris e Michael Kors em Nova Iorque. Num piscar de olhos, estava a protagonizar a campanha Holiday 2010 da H&M ao lado do irmão. Um feito que se repetiu quando apareceram juntos na campanha de inverno 2015/16 da Balmain fotografada pelo reconhecido Mario Sorrenti.
“Foi com ele que aprendi tudo o que sei hoje”, conta o irmão Fernando Cabral ao Observador. Aliás, foi na altura que viu Armando a desfilar na ModaLisboa que lhe perguntaram se ele queria participar num desfile. Agora sonha ser tão bom como ele. Já o pai, Valentim Cabral, olha para os seus dois filhos com muito orgulho e uma lágrima no canto do olho. “Sinto-me muito emocionado porque o sucesso do meu filho está a levar o nome de Portugal para as bocas do mundo.” Mesmo que isso implique longas ausências do território nacional.
“Não sinto mágoa. Só lamento realmente o facto de não ter dado o meu contributo a Portugal”, confessa Armando. “Eu nunca me tornei modelo para ganhar prémios. Nunca sonhei ser um dos melhores modelos do mundo. Apenas tinha a ambição de desfilar para grandes marcas e, hoje, quero continuar a ganhar experiência e fazer um bom trabalho.” A diferença é que já não sente tanta adrenalina quando pisa a passerelle. “Cheguei a fazer quase todas as semanas de moda e deixei de sentir aquelas borboletas na barriga. Por isso, agora faço menos desfiles.”
Sempre com modéstia, confessa não ter nenhum arrependimento (para já). Mas o Armando Cabral que ninguém conhece é um filho, irmão e pai emotivo que lamenta a falta de tempo livre. “Sou muito emocional. Gosto de chorar no avião e até a ver um filme”, revela. “O meu sonho por concretizar é ter mais tempo para mim e para a família. Trabalho muito, nem sempre tenho tempo para as pessoas à minha volta, e é uma coisa que estou a tentar melhorar.” Vive com a família em Nova Iorque mas volta sempre a Portugal — pelo menos uma vez por ano — para matar as saudades do bacalhau e das empadas de pato.
Para já, promete ajudar à internacionalização da moda portuguesa com a sua marca homónima de calçado unisexo. Influenciado pela indústria de moda e pela sua eterna paixão por sapatos (tem mais de 300), tornou-se designer e fundou a Armando Cabral International LLC em 2008. Depois de garantir presença em 30 pontos de venda de renome, agora tem a sua primeira loja em Lisboa. “No futuro, vem aí um novo o site e talvez até uma coleção de roupa.”
O novíssimo espaço no Príncipe Real, em Lisboa, tem 12 metros quadrados e já tem a última coleção disponível para venda — desde os modelos mais clássicos até aos mais desportivos. “Personalidade, estilo e individualismo” são as três palavras usadas por Armando para descrever a estética da sua marca desenhada e produzida em solo italiano por um criador que já trabalhou para a Prada e Hugo Boss.
“Portugal surge como ponte para o mercado africano e como reforço no sul da Europa.” Se antes Armando Cabral passava à margem da moda nacional, agora marca oficialmente o território português com as suas pisadas internacionais. Ou não seria ele um dos melhores modelos do mundo.
Nome: Armando Cabral
Morada: Embaixada Concept Store: Praça do Príncipe Real, 26, 1º andar (Príncipe Real), Lisboa
Horário: Domingo a quarta das 12h00 às 00h00; quinta a sábado das 12h00 às 02h00
Preços: 380€-405€
Texto editado por Ana Dias Ferreira.