Marcelo Rebelo de Sousa avisou esta terça-feira que um “Presidente da República não é candidato à liderança de um partido, nem de uma coligação, nem de uma fação”, numa resposta direta às críticas de que é alvo por parte de dirigentes do PSD que não têm gostado das últimas intervenções do candidato presidencial.
“Os partidos são muito importantes mas não esgotam a realidade nacional”, declarou o candidato presidencial depois de visitar a Associação de Proteção à Criança, na Póvoa de Santa Iria, que deu como exemplo de uma “grande obra social” que resultou de uma confluência de vontades.
Marcelo fez um paralelismo com o papel do Presidente: “Isto é muito importante quando se trata de um candidato presidencial porque um Presidente da República não é o presidente de um partido, fação ou coligação e um candidato presidencial não é candidato à liderança de um partido nem de uma coligação nem de uma fação”, disse, citado pela TVI24.
Entre os sociais-democratas, o sentimento é de revolta com as últimas declarações de Marcelo Rebelo de Sousa que não tem dado conforto à posição dos partidos que estão no poder e que podem ser destronados na terça-feira com uma moção de rejeição do programa de Governo votada por toda a oposição de esquerda.
“Marcelo acha que já tem o eleitorado de direita e que agora quer é falar para os outros e conquistar a esquerda”, queixa-se ao Observador um dirigente do PSD, que confessa ter ficado “possesso” com as últimas intervenções do professor catedrático de Direito da Universidade de Lisboa.
Por outro lado, Marcelo está a fazer uma campanha longe do que é tradicional. Não constituiu comissão de honra ou tem mandatários de candidatura, afastando assim os barões do PSD e as estruturas do partido. “Não quer o partido mas depois anda a telefonar para concelhias a pedir que as pessoas apareçam”, explicou outra fonte ao Observador.
Este tom de crítica é partilhado mesmo por apoiantes incondicionais da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, cujo telefone não tem parado com perguntas de incredulidade de outros militantes, conforme contou um deles ao Observador.
José Ribeiro e Castro, ex-líder do CDS, já defendeu, por seu lado, que a direita deve ter outro candidato que defenda com clareza a convocação de eleições antecipadas, algo que Marcelo Rebelo de Sousa não faz. O antigo líder centrista acredita que o país deve voltar rapidamente às urnas para dissipar este clima de “confrontação aguda”. “É indispensável um tira-teimas eleitoral”.
O centrista considerou numa entrevista à TSF que Marcelo, caso vença a corrida a Belém, não convocará eleições antecipadas. “Forque falta este discurso [e] porque Marcelo Rebelo de Sousa, de facto, não diz isso”.
O que é que o candidato disse que enfureceu o PSD?
No último sábado, em Coimbra, Marcelo disse que o país não precisa “de governos de seis meses, oito meses ou de um ano”, acrescentando que não é “defensor de eleições a cada seis meses, oito meses ou a cada ano”.
“O Presidente da República deve procurar um Governo que seja viável no Parlamento e que seja duradouro e estável”, que consiga aprovar um Orçamento o quanto antes, explicou.
Na semana anterior, na Voz do Operário, em Lisboa, já tinha avisado que era contra governos de gestão. “Não é bom para um país saído de uma situação de crise ter de viver seis meses sem Orçamento do Estado, o que implica um Governo em plenitude de funções”, disse, num discurso em que citou o exemplo de anteriores Presidentes, como Soares, Sampaio e Eanes, mas nunca Cavaco Silva.
Nas últimas semanas, os candidatos presidenciais de esquerda vieram defender que António Costa tem toda a legitimidade para formar Governo com o apoio dos partidos de esquerda e que se já estivessem em Belém indigitariam sem hesitar António Costa como primeiro-ministro.
Já Marcelo Rebelo de Sousa nunca disse aquilo que o PSD e o CDS acham deste processo: que se trata de um assalto ao poder quando a coligação já tem dupla legitimidade, dos votos e do Presidente Cavaco Silva.