A vice-presidente da Comissão Europeia para o Orçamento, Kristalina Georgieva, deverá mesmo candidatar-se à secretaria-geral das Nações Unidas para suceder a Ban Ki-moon, que acaba o seu segundo mandato a 31 de dezembro de 2016. Será mais uma adversária de peso para o ex-primeiro-ministro António Guterres, que apesar de nunca ter confirmado o interesse na candidatura continua a ser um nome forte apontado para a corrida. Guterres prepara-se para regressar a Lisboa já em janeiro, altura em que termina o mandato de Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados. 

A confirmar-se o avanço da comissária búlgara, contudo, tal significaria que Georgieva teria de disputar o lugar com a sua compatriota e atual diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, que tem o apoio oficial da Bulgária garantido desde o início do ano. E com outros nomes de peso provenientes da Europa de Leste (que inclui também a Rússia), que se começam a alinhar para entrar na corrida: é o caso dos eslovacos Miroslav Lajcak e Jan Kubis, ou do esloveno Danilo Turk. Tudo indica que em 2017 é a vez da Europa de Leste assumir o posto, numa lógica de variação geográfica. Além do fator geográfico há também pressão para que a escolha recaia sobre uma mulher – o que eleva as chances de Bokova e Georgieva.

A informação sobre a candidatura de Georgieva foi avançada ontem pelo portal de informação europeia EurActiv, que ressalva que a candidatura da economista búlgara ainda não é oficial. O porta-voz da vice-presidente da Comissão, no entanto, confirmou àquele portal que Georgieva já falou da sua provável candidatura com o presidente Jean-Claude Juncker. “O presidente Juncker e Georgieva falaram desta possibilidade, apesar de, por agora, Georgieva estar apenas concentrada no seu trabalho. O presidente admira muito a experiência internacional, as capacidades negociadoras e de trabalho da vice-presidente”, disse o porta-voz Margaritis Schinas.

O apoio de Juncker, contudo, pode não servir de muito, já que tradicionalmente a ONU não permite que a Comissão Europeia interfira no processo de seleção. O Euractiv cita ainda fontes diplomáticas para dizer que a vice-presidente da Comissão já terá mesmo começado a pré-campanha, tendo várias reuniões previstas com representantes da ONU, desde o secretário-geral adjunto, Ian Eliasson, até ao próprio Ban Ki-moon.

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Antes de ser vice-presidente da CE para o orçamento, Georgieva deixou o seu lugar no Banco Mundial para assumir a pasta de comissária europeia de cooperação internacional, ajuda humanitária e resposta às crises.

As probabilidades de Guterres

António Guterres nunca chegou a dizer abertamente que estava interessado no cargo, mesmo quando a especulação aumentou sobre a possibilidade de o ex-primeiro-ministro estar entre uma candidatura a Belém e uma candidatura ao cargo de topo da ONU. Em setembro disse apenas que “a seu tempo se verá”, não excluindo a hipótese. Em todo o caso, se avançar com a candidatura, Guterres não será, à partida, apontado como favorito.

Conforme explicou em fevereiro ao Observador o jornalista da revista Foreign Policy, Colum Lynch – especializado nas Nações Unidas e que acompanha a organização em permanência em Nova Iorque -, Guterres terá uma “batalha trabalhosa” se decidir avançar. É que “os países da Europa de Leste vão ter a primeira oportunidade para apresentar os seus candidatos, porque nunca tiveram essa posição. Só se houver um impasse é que os outros vão ter oportunidade de concorrer por este cargo. E mesmo aí, é preciso saber se o próximo secretário-geral virá do Ocidente”, explicou.

Mas a verdade é que o novo processo de escolha permite audições públicas dos candidatos e isso está a ser encarado como passível de ser favorável a Guterres. A primeira etapa do processo de seleção passa por serem os Estados-membros da ONU a nomear o seu candidato para o lugar.