Patusca. Não, não era uma cadela mas sim uma espécie de pequeno forno elétrico circular onde nos anos 80 se faziam assados e bolos. Quem sabia usar a patusca ou cloche garantia que não havia melhor. Também tivemos o ferro portátil para aquecer água e a máquina que em poucos minutos ora lavava roupa ora louça. Sim, na mesma cuba de plástico tanto se punham as meias como os copos. Os anúncios garantiam que esta preciosidade (era caríssima!) tinha particular sucesso entre telefonistas, hospedeiras e solteirões inveterados. (Não sei porquê mas acho que o problema do solteirão inveterado com o casamento começava no cheiro a guisado entranhado nas camisolas lavadas na SUFAM e sobretudo naquele casaco aos quadrados que nem ao Sean Connery assentava bem!)
A iogurteira era outro pequeno doméstico com clube de fans. Cada um desses fans tinha o seu próprio truque para fazer iogurtes cremosos em casa e todos partilhavam a mesma mística sobre a poupança conseguida com o referido objecto.
No caso das crianças tudo era mais fácil: os filhos da geração Viewmaster e gravador portátil brincaram com o Gameboy e tiveram um Walkman. Em comum à infância de pais e filhos está a cassette audio. No caso das raparigas há ainda que ter em conta a Barbie. A essa boneca de medidas improváveis só faltava ver-se agora objeto das sanções da Organização Mundial de Saúde por causa daquela mania de organizar barbecues. De carnes vermelhas, obviamente. Até que se resolva este equívoco é melhor optar pela Barbie professora de yoga.
Quanto às máquinas Dymo elas podem muito bem ser a nossa salvação face ao estranho entendimento da liberdade de imprensa que vai na cabeça de alguns juízes e políticos: não se pode escrever on line, não se pode escrever em papel, não se pode dizer na rádio nem na televisão… Mas imprimir em tirinhas de plástico o deve e o haver da amizade de Sócrates e Santos Silva podemos, não podemos?
Os cinzeiros desmontáveis em forma de flor (também há na versão tartaruga) ou com um mecanismo para fazer desaparecer as beatas são uma óptima companhia para estes tempos de tensão política. E convém não esquecer que já houve tempos bem mais difíceis. Os da calça-meia para homem, por exemplo. Creio até que a ter-se dado o caso de algum ser masculino mais poupadinho ter usado uma velha calça-meia com a novidade do pager preso no cinto essa criatura certamente implodiu pois não é possível uma tal concentração de horrores num único corpo.
E como nada substitui a visualização da galeria não me alongo na descrição. Embora não consiga acabar o texto sem referir esse clássico dos natais de há algumas décadas: o disco com mensagem. Não falo da mensagem religiosa, nem dos anjos, nem do Menino Jesus… Nada disso. O disco com mensagem natalícia era assim uma espécie de marxismo cantado em versão jingle bells. A inspiração vinha dos poemas de Ary dos Santos que na contracapa do disco “Operários do Natal” afiançava “Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher”. A partir daqui era um nunca mais acabar de Natal “festa do amor partilhado” que acontecia todos os dias sem esquecer aquela terrífica imagem dos pais operários a fazerem o corpo dos filhos.
Enfim quem sobreviveu a natais com calça meia e máquinas que lavavam louça e roupa alternadamente (será que alguém experimentou lavar ambas ao mesmo tempo?) sobrevive a tudo.