O 25 de novembro de 1975 assinala este ano o 40.º aniversário. É um golpe por vezes atribuído ao Partido Comunista Português. No entanto, o PCP demarca-se deste evento da história de Portugal. Álvaro Cunhal, líder histórico dos comunistas, chegou a afirmar que o 25 de novembro foi um movimento “anticomunista”.
PSD e CDS quiseram assinalar a data, este ano, com uma sessão parlamentar comemorativa, mas PCP, PS, PEV e BE faltaram à reunião do grupo de trabalho, que tinha sido convocada pelo Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, para se decidir se se assinalaria, ou não, a data. E, para o PCP, o 25 de novembro não é data de celebração.
O dia 25 de novembro de 1975 representou o fim do Processo Revolucionário em Curso, o PREC, que “vigorava” desde a Revolução dos Cravos. A data sucedeu ao “Verão Quente”, um período de alta tensão política e que ficou marcado por vários assaltos a sedes dos partidos de esquerda, especialmente às do Partido Comunista. O golpe de 25 de novembro foi protagonizado pelos paraquedistas, afetos à esquerda política, que ocuparam algumas bases aéreas, pela ocupação da RTP e pelas forças comandadas por António Ramalho Eanes e membros moderados do MFA (Movimento das Forças Armadas), como Melo Antunes, que contiveram a tentativa de golpe.
“E agora aparece quem venha afirmar que também o 25 de novembro foi golpe do PCP. Chama-se a isto fazer o mal e a caramunha”, afirmava Álvaro Cunhal, durante a intervenção no colóquio “25 de Abril, ontem, hoje e amanhã”, em 1994. Nesse mesmo colóquio, Álvaro Cunhal argumentou que o 25 de novembro “criou condições para o avanço e a aceleração dos planos contra-revolucionários”, e que “a aliança do PS com a direita e as divisões e conflitos nas forças armadas foram decisivas para o êxito do golpe”. Um golpe que, na opinião dos comunistas, pôs em causa as conquistas do 25 de abril de 1974. A afirmação de Cunhal é sustentada por Manuel Duran Clemente que, numa publicação na rede social Facebook, sustentou que o 25 de novembro “foi um golpe militar inserido num processo contra-revolucionário”.
A argumentação de que o 25 de novembro foi um golpe contra a Revolução dos Cravos parece ser ponto assente para a esquerda. Num artigo de opinião, publicado em O Militante, o autor, António José Rodrigues, afirmou que o 25 de novembro “não foi um golpe promovido pelo PCP, pela esquerda militar ou pela ‘ala gonçalvista’ do MFA, mas sim um golpe militar contra-revolucionário, fruto de uma cuidada e longa preparação”.
Em 2013, Manuel Duran Clemente, que esteve por detrás da ocupação da RTP durante o golpe de novembro, escrevia no blogue O Mirante Al Mirante 2 dizendo que “a diferença é esta… a esquerda ‘derrotada’ estava e está com a Revolução… a dita “esquerda”(!!!!!) vencedora está com o 25 de Abril… mascarada de 25 de Novembro“.
Duran Clemente, que na altura do golpe era 2.º comandante da Escola Prática de Administração Militar, referiu ainda: “Mas sabem no fim disto tudo o que está em causa… é que alguns de nós que nascemos para chatear os malandros (de vários níveis) andamos para aí a espalhar que a culpa do que está a acontecer tem muito (quase tudo ou quase nada, ou qualquer coisa) a ver com uma certa data de um Outono de 1975… em que as nossas mais gloriosas esperanças (ao contrário dos dolorosos mistérios do terço da Virgem Maria) foram decapitadas por inconscientes medrosos ou por conscientes ao serviço do estrangeiro”.
Em 1999, o líder histórico do PCP, Álvaro Cunhal, publicou um livro, “Verdade e mentira na Revolução de Abril”, no qual afirmou: “No próprio dia 25, não estando ainda certo como o golpe iria terminar política e militartemente, todos envolvidos num objetivo geral comum anticomunista (…)”. Álvaro Cunhal qualificava, assim, o golpe do 25 de novembro como um ataque ao comunismo português.
Já Duran Clemente, num post no Facebook, foi categórico: “Distorção e vergonhosa aldrabice… aliás a direita selvagem e neo-liberal sempre foi campeã… O PCP nunca esteve no 25 de Novembro“. “O resto foi entre militares, com a ingenuidade de uns de nós querermos defender a revolução e as suas conquistas e outros, num plano urdido pelo grupo dos nove e direita militar, quererem acabar com ela“, acrescentou.
Por outro lado, Vasco Lourenço, figura destacada da Revolução dos Cravos, disse que o que travou a extrema-esquerda no seu assalto ao poder foi o “recuo” do Partido Comunista e a descoordenação do ataque em si, citou a Visão via Lusa.
Já aquando dos 39 anos do 25 de novembro, em 2014, a Assembleia Regional dos Açores assinalou a data. No entanto, o PCP Madeira não integrou essas comemorações dado que, afirmaram, depois de tantos anos passados confirmava-se “toda uma trajetória contra a Revolução de 25 de abril de 1974, os seus valores e ideais progressistas”, sendo uma data que marca a “destruição das conquistas de abril”.
“Todas [as forças do golpe] estavam aliadas para pôr fim à influência do PCP e ao processo revolucionário, restabelecer uma hierarquia e disciplina nas forças armadas e extinguir o MFA insanavelmente em vias de destruição pelas suas divisões e confrontos internos”, afirmou Álvaro Cunhal no seu livro.
*Texto editado por Helena Pereira