O novo álbum de Amália Rodrigues, “Someday”, a editar sexta-feira, inclui o alinhamento do álbum “Amália na Broadway”, nunca editado em CD em Portugal, e quatro versões inéditas, “Ai Mouraria”, “Solidão”, “Lisboa antiga” e “Coimbra”.
No outono de 1965, Amália Rodrigues gravou vários temas em inglês como “Summertime”, “Who will buy”, “The nearness of you”, entre outros, com uma orquestra sinfónica dirigida pelo maestro Norrie Paramor, que fez também os arranjos musicais.
“Estas sessões foram as primeiras em estéreo feitas por Amália, e as oito canções são aqui apresentadas pela primeira vez, no alinhamento original da bobine”, disse à Lusa Frederico Santiago, que coordenou a edição discográfica, e revelou que “o passo seguinte da edição de Amália será com os três discos que gravou de folclore”.
“Existe material inédito e disperso que será reunido pela primeira vez”, adiantou à Lusa.
Quanto ao CD “Someday”, às oito canções em inglês, entre as quais “Blue moon” e “I can’t begin to tell you”, e além das quatro versões inéditas de “Ai Mouraria”, “Solidão”, “Lisboa antiga” e “Coimbra”, gravadas com orquestra nestas sessões, são também incluídos “‘takes’ alternativos e ensaios inéditos, como o excerto de ‘The man I love’ (que não chegaria a gravar completo)”, disse Frederico Santiago, que anteriormente coordenou a edição em CD da festa de homenagem ao fadista e apresentador Filipe Pinto, “Tivoli’62”.
Frederico Santiago explicou à Lusa que “a primeira palavra da canção ‘The man I love’, e o adiar da edição original, que só aconteceu passados 19 anos”, lhe inspirou o título, assim como “a belíssima fotografia da capa, tirada por Eduardo Gageiro nas sessões de gravação do disco, [que] nos leva a essa expressão: qualquer dia… [tradução de Someday]”.
O álbum “Amália na Broadway” foi editado em 1984, no ano em que Amália Rodrigues, sentindo-se doente, se refugiou num hotel de Nova Iorque.
“Numa carta desse ano de 1984, escrita do quarto de hotel em Nova Iorque onde se refugiou, Amália desejou a sua edição: ‘também gostava que continuassem na mesma, a seguir com o disco das canções americanas’, escreveu Amália”, contou Frederico Santiago.
A atual edição em CD conta com um texto do historiador Vítor Pavão dos Santos, autor de uma biografia da fadista e que este ano foi distinguido com o Prémio Amália Rodrigues.
Frederico Santiago realçou à Lusa que “Amália fez sucesso no mundo com o seu próprio repertório”.
“Nunca precisou de ‘hits’ internacionais para ter sucesso planetário. E parte desse sucesso foi no mundo de língua inglesa, quer nos Estados Unidos, como nos conta Vítor Pavão dos Santos no texto do ‘booklet’ [que acompanha o CD], quer em Inglaterra, onde teve um êxito imenso e muito pouco conhecido”, disse Santiago, segundo o qual, este disco com orquestra “foi mais uma das experiências” da fadista.
“Amália foi a cantora mais experimentalista que o fado conheceu. Além de todo o mundo de nova poesia que trouxe, apropriou-se de muitas influências e sonoridades, até então estranhas ao fado. Do flamenco à canção brasileira, do cancioneiro italiano aos ‘blues’, como no famoso disco ‘Encontro’, com Don Byas, mas sempre o fez sem copiar ninguém, sempre à sua original maneira”, sentenciou Frederico Santiago.
“Quando as pessoas ouvem o ‘Summertime’ da Amália e o julgam cantado à fado esquecem que está apenas cantado à maneira de Amália, porque esse canto ondulado que se tornou padrão no fado foi inventado por ela”, realçou Frederico Santiago.
“A voz da Amália é um bocado como a nossa mãe, um dado tão adquirido que nem sempre vemos o quanto é bonita e insubstituível. Este inesperado repertório ajuda-nos a ter a noção desse milagre vocal. Poucas vezes no mundo se cantou, mesmo este repertório, com uma voz tão dotada”, rematou o investigador.