O ministro das Finanças da Grécia defende que os partidos de esquerda de Espanha, Itália e Portugal “têm neste momento uma enorme responsabilidade, que é a de oferecer alternativas às pessoas”. Euclid Tsakalotos reconhece, contudo, que o governo grego está a “aplicar medidas neoliberais com as quais não [está] de acordo”. Mas garante que o seu governo tem demonstrado “boa vontade” por ter a perspetiva de “uma solução para dívida” pública grega. Se essa “boa vontade” não for correspondida pelos credores, então “iremos encontrar objeções a estas soluções técnicas” para o problema da dívida.

Em entrevista ao espanhol El Mundo, Tsakalotos recusa a ideia de que a turbulência que marcou o último verão, com clímax no referendo de 5 de julho, tenha resultado num acordo mais desfavorável para a Grécia do que aquele que estava em cima da mesa nos meses anteriores. “O acordo que assinámos é melhor do que aquele que nos ofereciam inicialmente”, garante o antigo braço direito de Yanis Varoufakis. “O acordo inicial era para cinco meses, incluía quatro avaliações periódicas e em setembro teria de haver um novo resgate”. O acordo inicial previa “o mesmo tipo de medidas [de austeridade e reforma] mas teria de ser aplicado em cinco meses. Agora temos três anos para as aplicar, o que faz uma grande diferença“, sublinha Euclid Tsakalotos.

O responsável defende a estratégia do governo grego, salientando que aquilo que foi assinado – o terceiro resgate – foi um “compromisso” entre as várias partes. Um compromisso em que, como assim é por definição, “nenhuma das partes obteve tudo aquilo que queria”. Tsakalotos chama a atenção para a “questão fundamental” que é a reestruturação da dívida pública grega, algo que o FMI quer garantir antes de participar no terceiro resgate.

Eu creio que, com boa vontade, há muitas soluções técnicas para resolver o problema da nossa dívida. Claro que, se não houver boa vontade, iremos encontrar alternativas a estas soluções técnicas.

Tsakalotos, que se identifica ideologicamente como “influenciado por Marx”, tal como o seu antecessor, não podia ter um trato pessoal mais diferente de Yanis Varoufakis. Ao El Mundo, depois do resultado inconclusivo das eleições espanholas, diz que tem um conselho para a esquerda espanhola: “O que diria à esquerda espanhola é que juntos temos de encarar questões como os mercados financeiros, as empresas multinacionais, a dívida… Todos estes são problemas de índole supranacional que necessitam de soluções supranacionais“.

Aí, “a cooperação entre as forças progressistas é fundamental nesse sentido, porque se as pessoas do sul da Europa não virarem à esquerda, se não houver propostas sérias sobre como abordar o problema da dívida e a arquitetura económica e financeira, se não demonstrarmos que a Europa é um espaço de democracia em que se podem levar a cabo experiências sociais como a redistribuição de rendimentos, então a Europa tornar-se-á um lugar bastante desagradável, dominado por políticas de direita”.

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