David Bowie influenciou músicos de todas as áreas: do metal ao folk, do synthpop ao britpop. Ao jornal The Guardian, vários músicos contemporâneos elegem o seu tema preferido do músico inglês, homenageando-o dessa forma. Entre eles estão Florence Welch (líder dos Florence and the Machine), Elly Jackson (vocalista dos La Roux), Marianne Faithfull, Graham Coxon (guitarrista dos Blur) e Corey Taylor (vocalista dos Slipknot). Estas são as suas escolhas:
Florence Welch
A líder dos Florence and the Machine – que atuam em Portugal em abril deste ano – diz que a escolha não é fácil, mas opta por “Young Americans” (tema do álbum com o mesmo título, de 1975).
“É difícil escolher a minha canção favorita do Bowie porque todas influenciam bastante a minha vida. [Mas] algo em “Young Americans” teve um grande impacto em mim, na minha adolescência: descobri-a quando comecei a interessar-me pela música, por festas e por rapazes, e tinha este lado estiloso, confiante, com soul. (…) Ele tem imensa atitude na forma como canta os versos. (…) Esta canção fez-me sentir livre enquanto adolescente, como se me tivesse dado a chave para um mundo alternativo, que estava para além da escola ou de casa. Eletrificou-me”.
Graham Coxon
O guitarrista da icónica banda inglesa dos anos 1990, Blur, escolhe um outro tema do “camaleão” da pop: “Ashes to ashed”, incluído no álbum Scary Monsters (And Super Creeps), de 1980. Na data em que o single saiu, Graham Coxon tinha 11 anos: mas a memória dessa audição ficou-lhe para sempre e, diz, continua a arrepiá-lo.
[Nessa altura] a “Ashes to Ashes” estava nos tops, juntamente com a “Start!”, dos The Jam, e essas foram as duas canções que causaram uma enorme impressão em mim. Elas são muito diferentes – a dos Jam era fácil lá chegar, através dos Beatles, mas a “Ashes to Ashes” era muito menos familiar ao meu ouvido. Fez algo de semelhante ao meu cérebro, contudo – tal como a “Tomorrow Never Knows” [canção dos Beatles] fez quando eu tinha quatro ou cinco anos. Adorei o som da canção. As letras vagas que uma criança de 11 anos não conseguiria desvendar – aborda os vícios, a natureza horrífica destes, em vez da maneira oposta como a ideologia rock andn roll normalmente os celebra. (…) A minha reação à ressonância das letras em “Ashes to Ashes” – I never done good things / I never done bad things – despertam-me e arrepiam-me cada vez que as oiço.
Marianne Faithfull
A cantora e compositora britânica Marianne Faithfull, que tem uma carreira que se iniciou há já cinco décadas, escolhe um dos temas mais conhecidos de Mr. Bowie: “Heroes”, single do álbum com o mesmo o nome, editado em 1977. O álbum não é o favorito de Marianne Faithfull: esse é Young Americans, de 1975. A inglesa explica a escolha:
O disco mais sofisticado que ele [David Bowie] fez foi o Young Americans. Mas acho que a “Heroes” é realmente a sua grande canção, porque faz as pessoas sentirem-se melhores, sentirem-se bem. We can be heroes, just for one day – é um sentimento maravilhoso. Ele (…) era muito generoso com o seu trabalho. O lado negro é muito mais fácil; dar realmente às pessoas coisas que as façam sentirem-se felizes é muito difícil e fazê-lo de uma maneira artística realmente bonita é ainda mais difícil. (…) Eu aprendi bastante com ele a escrever canções – e a não ir para Berlim e a não usar cocaína nem heroína. (…) Não vejo a sua morte como sendo assim tão terrível, honestamente. É terrível para todos os outros — mas olhem para o que ele deixou para trás, o quanto ele deu [ao mundo].
Corey Taylor
Quem diria que Corey Taylor, vocalista e letrista dos Slipknot, é fã de David Bowie? É difícil encontrar uma influência direta do camaleão da pop na música do grupo norte-americano: mas que este se assume fã de Bowie, isso assume. “Eu adorei tudo o que ele fez, mas essas duas canções são realmente as minhas favoritas”, falando de “Ashes to Ashes” e de “Fashion” — ambas do álbum Scary Monsters (And Super Creeps), de 1980.
https://www.youtube.com/watch?v=GA27aQZCQMk
Não consigo escolher que canção do Bowie mais gosto, mas é definitivamente uma das duas, entre a “Ashes to Ashes” e a “Fashion”. São ambas muito negras e fantásticas à sua maneira. Adorei tudo o que ele fez, mas essas duas canções são definitivamente as minhas preferidas. Não há maneira de resumir o David Bowie em uma mão cheia de frases – o homem merece o seu próprio volume de enciclopédias. Ele é e sempre será um dos meus favoritos e espero apenas poder chegar perto daquilo que ele atingiu.
La Roux
A cantora Elly Jackson, líder do projeto de synthpop britânico La Roux, também falou ao jornal britânico sobre a sua canção favorita de David Bowie: escolheu “Fascination” do álbum Young Americans. E explicou o porque desse álbum a ter influenciado tanto:
[Em Young Americans, o David Bowie] está a tentar reinterpretar a música soul, mas não apenas como um branco que nos faz sentir desconfortável — ele traz um certo tipo de arte e drama que é apenas seu. (…) O Bowie sempre soou a Bowie, independentemente das influências que teve [soou sempre original]. (…) Há uma parte de guitarra no segundo verso que contrasta com outra guitarra, quando a ouvi [à canção] pela primeira vez acho que chorei de felicidade durante uns 30 minutos. Senti como se a canção tivesse sido escrita só para mim, e é isso que o Bowie conseguia fazer com a sua música.
Também nas redes sociais vários músicos e bandas foram publicando temas do camaleão da pop inglesa, falecido na passada segunda-feira. Entre elas estão os norte-americanos Sonic Youth, importante (e marginal) banda no panorama rock dos anos 1990, que partilharam na sua página de Facebook o tema “Sorrow” (do álbum Pin Ups, de 1973) e uma colaboração ao vivo entre a banda e David Bowie, no âmbito do concerto “David Bowie e amigos”, de 1997, no Madison Square Garden (Nova Iorque):
Os Temples, uma das mais promissoras bandas britânicas da atualidade – de quem Noel Gallagher, dos Oasis, é um grande fã, e que atuaram na última edição do Vodafone Paredes de Coura -, também partilharam a sua homenagem ao músico, mas de uma forma diferente: partilharam um excerto das letras do tema “Memory of a Free Festival” (editado em 1969, no álbum homónimo):
"Resting on our handsIt was God's landIt was ragged and naiveIt was Heaven" - 'Memory Of A Free Festival', David Bowie
Publicado por Temples em Segunda-feira, 11 de Janeiro de 2016
Já o músico folk Kristian Matsson (aka The Tallest Man on Earth) deixou uma homenagem diferente: pintou a sua cara em homenagem a Bowie:
@spkmatsson Lost and insecure, my teens before finding David Bowie. And all of a sudden imagination could be used for...
Publicado por The Tallest Man On Earth em Segunda-feira, 11 de Janeiro de 2016