A eleição do próximo secretário-geral da ONU está a agitar os meios diplomáticos e até a gerar crises políticas em alguns países. Em Portugal, o Ministério dos Negócios Estrangeiros considera que é “prematuro” responder a qualquer questão sobre o empenho do país em fazer eleger António Guterres para o lugar cimeiro desta organização internacional. Kristalina Georgieva, vice-presidente da Comissão Europeia e de nacionalidade búlgara, está a lutar com todas as armas para lá chegar, agitando pelo caminho a política interna do seu país.
Na carta enviada a meio do mês passado a todos os países que fazem parte da ONU, a organização pediu a indicação de candidatos nacionais que tivessem em consideração provas dadas de liderança, extensa experiência internacional e capacidade de comunicação. Apesar de indicar que há igualdade de oportunidades e que tanto pode ser um homem como uma mulher, sabe-se que será preferível uma mulher, já que na história da ONU, nunca houve uma mulher no cargo de secretário-geral. A lista de exigência inclui ainda a necessidade de “diversidade regional”, ou seja, há uma preferência generalizada para que o/a próximo/a líder da ONU venha da Europa de Leste.
Se António Guterres tem pontuação máxima nas primeiras categorias, depois de ter sido primeiro-ministro de Portugal – com uma presidência da União Europeia pelo meio – e Alto Comissário da ONU para os Refugiados, numa altura em que há mais de 60 milhões de refugiados em vários continentes, as últimas duas são mais difíceis, sendo uma delas mesmo impossível. Em resposta ao Observador, o Ministério dos Negócios Estrangeiros considera que “ainda é prematuro responder” sobre se Portugal está ou não a fazer uma campanha diplomática ativa pela eleição de Guterres. Recorde-se que na abertura do seminário diplomático no início deste ano, o ministro Santos Silva disse que tinha a expectativa que Guterres venha a dar um contributo ao “mais alto nível”.
Quem não parece estar muito preocupada com discrição neste processo é a comissária búlgara, Kristalina Georgieva, que a pedido de Ban Ki-moon, atual secretário-geral da ONU, elaborou um relatório para se reformular a maneira de financiar a ajuda humanitária e está a apostar em força no lóbi em Nova Iorque, segundo indica o Politico. Antes de ir para Bruxelas e integrar a Comissão Europeia, primeiro com Barroso e depois com Juncker como vice-presidente para o Orçamento e para a Ajuda Humanitária, Georgieva esteve 20 anos no Banco Mundial e construiu uma rede invejável de contactos, nomeadamente em Moscovo – um ponto importante de apoio para chegar a secretária-geral da ONU já que o nome é escolhido pelo Conselho de Segurança e apresentado à Assembleia para decidir apenas se aprova ou se rejeita o nome previamente avançado.
No entanto, no seu caminho está uma conterrânea. Irina Bokova está à frente da UNESCO e tem um perfil que se adequa ao cargo. No ano passado, o Governo da Bulgária avançou que apoiaria a sua candidatura à liderança da ONU, mas entretanto, o Presidente está a mudar de ideias, inclinando-se mais para Georgieva. No entanto, em Nova Iorque, a líder da UNESCO já arranjou apoios de peso com antigos embaixadores de vários países na ONU a apoiarem a sua candidatura. A luta entre estas duas búlgaras vai ser tensa e promete arrastar o tema na política nacional.
Outros candidatos no horizonte desta eleição são o primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, a antiga primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clarke, e o ministro dos Negócios Estrangeiros croata, Vesna Pusić. Danilo Turk, antigo Presidente da Eslovénia e número dois de Ban Ki-Moon, também está na corrida e até se fala de uma possível candidatura de Angela Merkel.