Uma das mais importantes coleções de arte da segunda metade do século XX já está no Museu de Serralves, no Porto. “The Sonnabend Collection: Meio século de arte europeia e americana. Part 1” foca-se na pop art, no minimalismo, na arte povera, no pós-minimalismo e na arte conceptual. “É um autorretrato, uma autobiografia de Ileana Sonnabend, Michael Sonnabend, e minha também”, diz António Homem, o português que tutela todas as obras e que privou com artistas como Andy Warhol ou Roy Liechtenstein.

Há exatamente um ano, a 4 de fevereiro de 2015, o Observador acompanhava António Homem na apresentação aos jornalistas da primeira exposição da valiosa coleção Sonnabend em Portugal, no Museu Arpad Szenes – Vieira da Silva, em Lisboa. “Esta exposição [Serralves] tem mais obras e abrange mais períodos”, explica António Homem aos jornalistas.

“The Sonnabend Collection: Meio século de arte europeia e americana. Part 1” inclui 61 pinturas, esculturas e instalações criadas entre 1956 e 2007 por 43 artistas diferentes, a maioria apresentada pela primeira vez em Portugal. Divide-se em cinco núcleos, sendo que é no primeiro e no segundo que se concentra o grosso das obras que foram apresentadas em Lisboa. É lá que está, por exemplo, o retrato de Ileana Sonnabend feito por Andy Warhol, o retrato de Michael Sonnabend da autoria de George Segal, o icónico “Little Aloha”, de Roy Lichtenstein, e uma das latas de sopa Campbell que Andy Warhol tomou para objetos de arte e imortalizou em serigrafia.

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Na primeira sala estão várias das primeiras obras em que Ilena Sonnabend apostou, nos anos 1960. Como a famosa lata de sopa Campbell’s, de Andy Warhol. ©Diogo Blacksmith / Museu de Serralves

Em 2014, o MoMa, em Nova Iorque, dedicou uma exposição a Ileana Sonnabend (1914 – 2007). Chamou-lhe “a embaixadora do novo”. Foi ela a grande responsável por mostrar aos europeus o que se fazia nos Estados Unidos no início dos anos 1960. Nessa altura a pop art, mas também o minimalismo e o conceptualismo, foram rotulados de arte menor. Até que o impensável aconteceu: em 1964, o Leão de Ouro da Bienal de Veneza foi dado pela primeira vez a um artista americano, Robert Rauschenberg. A controvérsia na cena artística europeia, nomeadamente na chamada “escola de Paris”, foi grande, mas a pouco e pouco foi ganhando o seu espaço. Andy Warhol, um dos artistas que entrou na Europa graças à Galeria Sonnabend, chamou a Ileana a “mãe da pop art”.

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António Homem acompanhou tudo de perto. Nascido em Lisboa em 1939, começou a trabalhar com a Galeria Sonnabend, em Paris, em 1968. Participou na fundação da mesma Galeria em Nova Iorque, em janeiro de 1970, e na inauguração do novo espaço no Soho, em Manhattan, em 1971. Nova Iorque foi a cidade que escolheu para viver permanentemente.

Ao longo de cinco núcleos, os visitantes contactam com a pop art, o minimalismo, a arte povera, o pós-minimalismo e a arte conceptual. Não existe propriamente uma organização cronológica ou de segmentação por movimentos artísticos. A preocupação de António Homem foi a de salientar as afinidades conceptuais, estéticas e plásticas dos artistas representados, todos europeus ou norte-americanos, sem esquecer a arquitetura de Siza Vieira.

Entre os trabalhos de grande escala inclui-se o desenho mural de Sol LeWitt, “Arc from Four Corners”, que ocupa uma parede do quarto núcleo. “É como uma partitura, qualquer pianista a pode interpretar”, explica António Homem, sobre as regras que LeWitt deixou escritas para que a sua obra pudesse ser reproduzida em diferentes museus, com o objetivo de contrariar a ideia de que a arte é uma coisa difícil de se fazer. A reprodução contou com a participação de alunos da Escola de Belas-Artes do Porto. Quando a exposição terminar, a única forma de remover a obra é pintando a parede de branco.

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Sol LeWitt deixou escritas as regras do desenho que agora está numa parede de Serralves

O terceiro núcleo integra obras associadas à arte povera e à antiforma, da autoria de nomes como Pier Paolo Calzolari, Jannis Kounellis, Mario Merz, Robert Morris, Bruce Nauman, Guilio Paolini, Richard Serra, Keith Sonnier e Giovanni Anselmo. É precisamente do italiano Anselmo uma das obras da coleção Sonnabend que estavam em depósito em Serralves, “Untitled (The wet cotton…”, de 1968, e que agora se mostra.

O quarto núcleo debruça-se sobre o minimalismo, com os artistas John Baldessari, Larry Bell, Mel Bochner, Peter Halley, Donald Judd, Clay Ketter, Sol LeWitt, John McCracken e Michelangelo Pistoletto. Por fim, o quinto núcleo inclui uma peça de chão criada por Barry Le Va e pinturas dos neoexpressionistas alemães Jörg Immendorff, Anselm Kiefer e A. R. Penck, mostradas paralelamente a obras de Richard Artschwager, Carroll Dunham, Robert Feintuch, Fischli & Weiss, Rona Pondick, Robert Watts e Terry Winters. É lá que se encontra também o enigmático espelho “Uomo Seduto”, de Michelangelo Pistoletto, e a escultura híbrida de Rona Pondick, metade humana, metade animal.

Uma parte importante da história da arte mora em Serralves até 8 de maio. Haverá no futuro uma segunda parte a ser mostrada em Serralves, ainda sem data definida. Até porque há muito espólio que nunca foi mostrado no país do colecionador que herdou algumas das mais importantes obras da pop art.