As ligações próximas de José Veiga à família do presidente Denis Sassou Nguesso são há muito notícia naquele país africano. Desde que tomou posse como director-geral da Asperbras, empresa brasileira com uma filial no Congo Brazzaville, que os media locais dão nota da sua ligação à filha do chefe de Estado, Claudia Sassou Nguesso.
Estas relações de Veiga com o poder político do Congo estão a ser investigadas pela Polícia Judiciária no âmbito da Operação Rota do Atlântico, tal como o Observador noticiou. O ex-agente de jogadores de futebol foi detido na quarta-feira num processo que envolve indícios de corrupção no comércio internacional ligado à actividade de diversas sociedades comerciais portuguesas e internacionais no mercado daquele país africano
Os investimentos da Asperbras têm sido igualmente alvo de atenção por parte do poder político. A unidade industrial de tratamento de leite de Edou, terra natal de Denis Sassou Nguesso, foi inaugurada pelo próprio presidente congolês em novembro de 2013, sendo apresentado na imprensa local como um investimento privado único na “paisagem industrial do Congo”, com uma capacidade para processar 2,8 milhões de litros de leite por ano, além de estar igualmente preparada para produzir queijo e manteiga. Segundo José Veiga, isso permitiria criar uma “nova actividade económica para a região” e mais de 600 empregos indirectos. A ambição de Veiga para esta unidade industrial era “cobrir o território nacional”, diminuindo assim as necessidades de importação da República do Congo em termos de leite, queijo e manteiga, afirmou à imprensa local.
Visitas de altas figuras do regime
Além de actuar no mercado alimentar e agrícola, a Apesrbras tem igualmente áreas de negócios ligados à construção. Foi assim que ganhou a obra para construir a zona industrial e comercial de Maloukou, localizada nos arredores da capital, Brazzaville e com uma área de 654 mil m2. Esta obra, que serve essencialmente para construir unidades industriais destinadas à produção de materiais de construção, faz parte do plano de industrialização concebido pelo presidente Sassou Nguesso e tem um investimento de cerca de 500 milhões de dólares americanos (cerca de 450 milhões de euros). As obras iniciaram-se em 2013 e têm tido vários percalços, como uma greve dos trabalhadores locais devido ao facto de José Veiga alegadamente preferir contratar trabalhadores portugueses.
A importância da obra para o regime congolês é demonstrada pelas visitas regulares de altas figuras do regime para perceber a evolução da obra. A 7 de fevereiro de 2014, uma delegação governamental liderada por Isidore Mvouba, ministro de Estado, e composta por mais três ministros do governo congolês, visitou as obras com pompa e circunstância, tendo sido recebidos por José Veiga. Mvouba explicou que o complexo de Maloukou pretende “satisfazer, em primeiro lugar, a demanda nacional de materiais de construção, antes de exportação para a sub-região”. Já Jean-Jacques Bouya, ministro da Presidência, afirmou que a obra “será, verdadeiramente, impulsionadora da segunda parte do programa presidencial de industrialização e modernização”, criando “2.000 empregos diretos, sem incluir empregos indirectos”.
Em Junho de 2015, a Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional fez uma visita semelhante, sendo que José Veiga queixou-se na altura de que as estradas de acesso ao complexo não teriam sido construídas pelo governo. Tal facto estaria a impedir a inauguração do complexo industrial.
O jornal francês Le Monde, num artigo de início de 2015, ressalva a importância da construção de complexo industrial de Maloukou para a economia do Congo.