As ações do BPI estão a disparar 9,2% na bolsa de Lisboa esta sexta-feira, depois de o conselho de administração ter proposto uma nova assembleia-geral – além da que acontece hoje – para votar a eliminação do limite aos direitos de voto, que é de 20%. Os espanhóis do CaixaBank estão impacientes por terem 44% e não poderem votar com mais de 20%. Já indicaram que podem colocar as suas ações à venda, pelo que, se essa proposta passar, o CaixaBank poderá lançar nova OPA pelo BPI, o que facilitaria os possíveis processos de fusão admitidos na quinta-feira pelo BPI. Os analistas dizem que no horizonte pode estar uma tentativa de compra do Novo Banco pelo CaixaBank, com vista a uma fusão com o BPI.
O anúncio feito pela administração do BPI, ao final da tarde de quinta-feira, tornou ainda mais provável o chumbo do processo de cisão proposto em setembro pelo banco como forma de resolver o problema associado com a supervisão do BCE em Angola. Esse é o ponto principal da assembleia-geral que já teve início esta manhã, às 10 horas, no Porto, mas o resultado deverá ser um chumbo da proposta de criar uma nova empresa para agrupar as participações nos bancos africanos.
As atenções do mercado já se viraram para a nova proposta avançada pelo BPI, que não tem uma relação direta com o problema criado pelo BCE, mas que poderá ser decisiva para definir o futuro da instituição e, indiretamente, ajudar a encontrar uma solução para esse problema. Nesta fase, os analistas veem como pouco provável que o levantamento dos direitos de voto possa passar, voltando a ser chumbado como sucedeu no contexto da OPA (oferta pública de aquisição) falhada que o CaixaBank lançou sobre o BPI há um ano.
“A aprovação parece-nos improvável, nesta fase”, escreve esta sexta-feira numa nota o analista do CaixaBI André Rodrigues, recordando que tanto o maior acionista português (o Grupo Violas, com 2,6%) como a Santoro de Isabel dos Santos (com 18,6%) votaram contra, segundo o que foi noticiado. A alteração precisa de um mínimo de 75% dos votos reunidos em assembleia-geral, pelo que “o sucesso da mesma aparenta ter uma probabilidade reduzida a esta data”.
Em contraste, os analistas do Haitong (ex-BESI) admitem que, “se um número suficiente de acionistas apoiar o CaixaBank e retirar o limite aos direitos de voto, isso poderá ser um catalisador positivo para a ação”, podendo “reabrir a possibilidade de o CaixaBank lançar uma oferta pelo BPI“. Esta nota do Haitong é citada esta sexta-feira pelo Negócios.
Proposta foi chumbada há um ano. Mas pode passar agora
Ao Observador, Albino Oliveira, analista da Patris Investimentos, recorda que esta proposta já foi votada no ano passado, resultando na altura num chumbo. “Contudo, é preciso ter em conta que, desta vez, a proposta parte da administração do BPI, e que será necessário encontrar até ao final de março uma solução para o negócio de Angola (e o seu impacto nos rácios de capital do BPI), existindo opiniões diferentes entre a administração do banco português e Isabel dos Santos”, diz o especialista.
Tanto a Haitong como Albino Oliveira admitem que a proposta poderá passar – o mercado também parece acreditar, dada a forte subida das ações na bolsa esta manhã. O que parece claro, dada a impaciência demonstrada recentemente pelo CaixaBank, é que se a proposta voltar a ser chumbada os espanhóis podem colocar a participação maioritária no BPI à venda. Caso contrário, se a proposta passar, pode ser lançado um processo de absorção do BPI pelo CaixaBank, possivelmente com a intenção de, a partir daí, avançar para o Novo Banco. O BPI foi ao primeiro concurso mas foi excluído.
“A administração do BPI já mostrou interesse no processo de venda do Novo Banco. Na eventualidade de o interesse ser confirmado, o financiamento da operação irá provavelmente necessitar do apoio dos acionistas. Nesse cenário, a opinião do CaixaBank poderá depender de se manter ou não o limite nos direitos de voto”, diz Albino Oliveira.
CaixaBank gosta da proposta, mas ainda não tomou qualquer decisão
Em comunicado enviado ao regulador espanhol, o CaixaBank reiterou a sua “posição favorável” à proposta do BPI, mas garante que “ainda não tomou qualquer decisão” sobre a participação no banco. “O CaixaBank tomará as decisões que considere apropriadas e comunicá-las-á ao mercado oportunamente em função do resultado da votação da assembleia geral sobre a eliminação do voting cap e de outras circunstâncias que possam ser relevantes”.
A forte subida das ações no mercado sugere que os investidores não excluem que nas próximas semanas o clima de guerra aberta no BPI tenha uma solução. Na análise da Haitong, a proposta “pode ser uma forma de mostrar que o apoio da administração e da assembleia-geral a Isabel dos Santos está a diminuir. Pode também colocar pressão em Isabel dos Santos para aceitar uma cisão do negócio africano ou para vender a sua participação no BPI ao Caixabank”.