Longe dos grandes grupos de distribuição e com um mercado internacional em crescimento, o grupo Rui Costa e Sousa & Irmão (RCSI) tem unidades em Portugal, Noruega e Brasil, com pescado fresco a chegar constantemente do Atlântico Norte. Desde 1981 que o sonho de Rui Costa, o fundador do grupo que também é conhecido no meio pela alcunha de “Sr. Bacalhau”, ganha forma.

Atualmente, o grupo tem 300 funcionários e já processa 20 mil toneladas de bacalhau seco por ano. Só este produto representa mais de 80% das vendas, mas a aposta em novos públicos é contínua.

Gonçalo Guedes Vaz – Diretor Industrial RCSI / RCSI

Falámos com Gonçalo Guedes Vaz, o diretor industrial de todas as operações da RCSI que, em 2007, entrou na empresa para alavancar um outro nicho: o bacalhau demolhado ultracongelado.

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Preparar o futuro com as bases do passado

“A empresa dedicou-se muitos anos à comercialização de bacalhau seco, mas em 1998 passou a apostar noutra frente: a transformação do produto”. É desta forma que Gonçalo Guedes Vaz resume a primeira grande mudança da RCSI. Nesse ano, foi adquirida a fábrica Brites, Vaz & Irmãos. A funcionar desde 1929, na Gafanha da Nazaré, esta era a unidade industrial de processamento de bacalhau mais antiga do país.

A partir daqui, passaram vários anos a investir na requalificação das instalações. Segundo o diretor industrial, “o principal foram as infraestruturas de frio. Era necessário aumentar a capacidade e qualidade de refrigeração. Em 2004, já havia capacidade para 5.000 toneladas”.

Com estas mudanças, preparavam o próximo passo. Foi aqui que Gonçalo Guedes Vaz passou a liderar as operações. “Já existia a [fábrica] Brites e foi adquirida outra ao lado. Foi assim que, em 2007, começámos a produzir bacalhau demolhado ultracongelado”.

Embora o bacalhau seco continue a ser o principal produto deste grupo sedeado em Tondela, as mudanças no mercado e nos hábitos dos consumidores determinaram estes “investimentos significativos”.

“Estamos a pensar no futuro cliente, que aprecia tanto a qualidade do produto como o seu lado prático. Muitos jovens não aprenderam, ou não têm tempo para cozinhar o bacalhau de raiz, ou seja, não confiam. Mas querem servir o melhor peixe possível, sem passar por desaires frente à família ou aos amigos”, justifica o diretor industrial. “É uma nova dinâmica, com um potencial de consumo muito elevado. Com estes outros equipamentos, conseguimos fornecer um produto do melhor que se faz em casa, sem esquecer a exportação”, completa Gonçalo Guedes Vaz.

Mercado brasileiro e a exigência do melhor bacalhau

Entre os destinos desta exportação, há um que se destaca: o Brasil. Segundo o responsável, já existe uma “apetência, uma cultura gastronómica. Os brasileiros aderiram de forma definitiva, gostam de bacalhau”.

Com uma população de 200 milhões, em que “10 a 15% tem poder de compra para produto com padrão”, este era um mercado prioritário para a estratégia de exportação da RCSI. Assim, em 2002, surge a Brascod.

Sedeada em São Paulo, esta é a sucursal do grupo direcionada para o mercado brasileiro. A marca Bomporto é a cara deste investimento que tem dado bons frutos, mas cuja implementação foi um desafio. “Tivemos de fazer tudo de raiz, porque a logística de frio era péssima. Instalámos câmaras frigoríficas de última geração e já conseguimos armazenar 800 toneladas de peixe”, explica Gonçalo Guedes Vaz.

O aumento da capacidade de armazenamento e produção colocou outro desafio: a matéria-prima. Para lá das unidades de frio, o grupo voltou às origens do bacalhau: a Noruega. “As casas não se fazem pelo telhado e queríamos fazer um maior controlo de qualidade da matéria-prima fresca. Ou seja, queríamos ser responsáveis pelo tratamento primário, pela escolha inicial do pescado”, explica o diretor industrial.

Para enfrentar este desafio, foi feita uma parceria com o grupo norueguês Vesteraalens. Estava criada a Andenes Fiskemottak, a empresa do grupo inserida na indústria da pesca. “Evitamos intermediários e conseguimos um acesso mais rápido e controlado à matéria-prima de qualidade. Com esta parceria, em que tratamos do negócio a montante e a jusante, abarcamos toda a cadeia de valor”, diz Gonçalo Guedes Vaz.

Este grupo português tem também empresas na Noruega e no Brasil / RCSI

Concorrência e nadar contra a corrente

E Portugal? Para Gonçalo Guedes Vaz, a resposta é simples: “não há milagres”. A empresa está fortemente implantada no canal Horeca (rede de distribuidores do setor da restauração – hotéis, cafés e restaurantes) e abdica da entrada na grande distribuição.

“Não queremos este mercado. Temos um tipo de cliente diferente e praticamos um preço justo para a qualidade esperada”, explica o diretor industrial. “Não podemos saltar etapas essenciais de fabrico e a pressão das grandes superfícies tem levado a que isso aconteça. Este é um mercado sensível”, completa.

Para Gonçalo Guedes Vaz, basta ver o que aconteceu ao consumidor português de bacalhau nos últimos anos: “Bipolarizou. Temos o bacalhau graúdo e especial que teve um aumento de vendas, mas os intermédios, o segmento C, foram os mais penalizados.”

Mas o futuro parece auspicioso para o negócio. Segundo o diretor industrial, “os stocks estão garantidos, estão de ‘boa saúde’. Houve um ajustamento de 10% na captura e os stocks responderam.” Esta é uma questão relevante quando se compara com a atual situação dos stocks de sardinha. Para Gonçalo Guedes Vaz, o mais importante “é preservar o recurso, não comprometer o equilíbrio. Ou seja, não pode ser comercializado de forma massiva, sem controlo.”