O sistema imunitário deveria combater todos os elementos estranhos ao organismo, mas falha – pelo menos a partir de certo momento – no combate ao cancro. Talvez porque as células cancerígenas sejam, na verdade, as próprias células do organismo, talvez porque estas células consigam contornar a ação do sistema imunitário. Seja como for os cientistas têm tentado potenciar as defesas naturais do organismo. Uma nova proposta foi apresentada esta semana na conferência anual da Associação Americana para os Avanços na Ciência (American Association for the Advancement for Science, AAS).
Leucemia linfoblástica aguda
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A leucemia linfoblástica aguda desenvolve-se quando a medula óssea – responsável por gerar as células do sangue e do sistema imunitário – produz uma grande quantidade de linfoblastos imaturos.
Este tipo de glóbulo branco anormal multiplica-se rapidamente e substitui as células normais na medula, impedindo a produção de células do sangue. A doença evolui rapidamente e pode ser mortal em poucos meses.
A técnica consiste em recolher algumas células imunitárias do doente – em particular as células T -, alterá-las de maneira a que elas consigam identificar e atacar as células tumorais e voltar a introduzi-las no organismo como se uma vacina se tratasse, explicou o Guardian. Os primeiros ensaios clínicos para esta “vacina” já começaram e destinam-se a doentes com cancro no sangue, em particular leucemia linfoblástica aguda.
“Há razões para estar otimista e há razões para estar pessimista”, disse Stanley Ridel, investigador no Centro de Investigação em Cancro Fred Hutchinson, citado pelo Guardian. Os resultados dos ensaios clínicos são promissores, mas os efeitos secundários continuam a ser um problema – alguns doentes reagiram negativamente à toxicidade do tratamento e morreram, segundo o Independent.
- 94% dos 35 doentes com leucemia linfoblástica aguda viram os sintomas desaparecer completamente, embora possam reaparecer;
- Mais de 50% dos doentes com linfoma apresentaram remissão do cancro;
- Num grupo com linfoma não-Hodgkin, os sintomas diminuíram em 80% dos casos;
- Os doentes em remissão têm sido seguidos ao longo dos últimos 18 meses sem sinais de regresso da doença.
A importância desta terapia é que pode ser a última alternativa para os doentes que só têm dois a cinco meses de vida, com a vantagem de que se espera que estas células imunitárias “modificadas” não desapareçam do organismo do doente.
“Estas células têm a capacidade de proliferar. Têm a capacidade de sobreviver muito tempo como células de memória e têm a capacidade para se diferenciarem em linhagens eficazes, necessárias para mediar a atividade antitumor”, disse Stanley Ridel, citado pelo Independent. O trabalho desenvolvido por Chiara Bonini, investigadora no Instituto Científico San Raffaele (Milão), também apresentado na conferência, mostra que outras células T modificadas podem manter-se no organismo dos doentes durante 14 anos, noticiou o Telegraph.