A agência de “rating” DBRS diz que está “preocupada” com Portugal – mais do que com os outros países da periferia do euro -, em parte porque os juros da dívida já estão a subir para níveis elevados no mercado. “Portugal é a nossa preocupação“, afirmou nesta quarta-feira a DBRS, afirmando que “os riscos são políticos” e que “a reversão de algumas políticas do anterior governo não tem ajudado nem um bocadinho a confiança dos investidores”. Ainda assim, a agência diz que, na sua opinião, “ainda não se viram mudanças suficientes”

Fergus McCormick, responsável máximo da DBRS para a área de “ratings” em dívida soberana, afirma, contudo, que a agência continua “razoavelmente confortável” com a notação que atribui a Portugal. Até porque, diz, “temos tido contactos com o governo e os responsáveis já nos garantiram que haverá espaço para mais medidas de austeridade caso haja uma derrapagem no défice”.

E esse risco de derrapagem existe, acredita a DBRS, porque “os riscos para a estimativa de crescimento do governo (1,8%) pendem para o lado negativo“. Ou seja, a agência receia que o crescimento tem maior probabilidade de ficar abaixo do previsto do que acima – o inverso acontecerá, logicamente, com o défice das contas públicas. Uma meta de 2,2% para o défice este ano parece “ambicioso” para a DBRS, o que indica que a agência não atribui grande probabilidade a que esse objetivo seja cumprido (sem mais medidas).

As declarações foram proferidas durante uma teleconferência da DRBS com clientes da agência de “rating”. Na teleconferência foram discutidos os movimentos recentes nos mercados de obrigações da Europa e o efeitos potenciais para os “ratings” das dívidas soberanas.

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A nossa preocupação é Portugal”

A DBRS avança várias explicações para o azedar do sentimento dos investidores nas últimas semanas — o crescimento baixo, a ansiedade na China, os receios em torno das maiores economias (incluindo a norte-americana), o petróleo baixo e a crise dos refugiados são alguns desses fatores de risco.

Mas a agência de “rating”, a única que não tem Portugal em “lixo”, diz que ao passo que os juros de Espanha e Itália “praticamente não se mexeram”, as taxas de mercado de Portugal já chegaram a níveis considerados elevados pela agência (4,44% na sexta-feira). Isso significa que os investidores receiam que “Portugal, com os seus 129,1% de dívida pública/PIB é especialmente vulnerável“.

Além disso, a DBRS estima que três quartos da dívida pública portuguesa seja detida por investidores estrangeiros, que mais facilmente batem em retirada (como se viu em 2012). “Não há dúvida de que Portugal é um risco”, diz a DBRS.

Em último caso, há o MEE – ou seja, um resgate

A DBRS, como qualquer agência de “rating”, quer aferir o risco da dívida para credores privados. E é por essa razão que a agência canadiana diz que o principal risco para Portugal seria um “conflito aberto” com as autoridades europeias sobre a consolidação orçamental e as reformas estruturais na economia. A DBRS acredita, contudo, que não espera que se chegue a esse ponto de “conflito aberto” com a Europa – que também é credora de Portugal através dos fundos de emergência.

Se vier a haver um conflito aberto com os credores oficiais, isso será razão suficiente para muitos membros do comité de ratings tomarem uma visão mais negativa em relação a Portugal.

Outro risco, também “político”, é que o governo socialista e os partidos de esquerda que apoiam a maioria parlamentar possam entrar num caminho “menos construtivo”, o que pode criar o risco de eleições antecipadas. “É difícil antever quais seriam os efeitos de uma desagregação dos apoios ao governo”, admite, contudo, Fergus McCormick.

Excluindo esses dois riscos, a DBRS reafirma que tem maior confiança nos emitentes soberanos europeus (do que outras agências) porque atribui grande valor “ao empenho com o projeto da união monetária” e tem grande confiança nas redes de segurança do BCE e do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) – ou seja, o fundo de resgates da zona euro.

Para já, contudo, as taxas de juro no mercado ainda estão em níveis “geríveis” apesar de em níveis que “soam os alarmes”. Mas a agência de “rating” alerta que “a questão é se a pressão nos mercados se torna persistente”.

Fergus McCormick é o mesmo responsável que, na semana passada, indicou que “neste (naquele) momento”, a agência DBRS estava “confortável” com o “rating” de qualidade atribuído à dívida portuguesa. Isto apesar de recear o impacto da subida recente das taxas de juro no mercado e o potencial impacto para a sustentabilidade da dívida pública portuguesa.