Distrações, negligência, ou puro acaso aliado à má sorte. Entre 2000 e 2013 registaram-se 109 mortes de crianças em consequência de quedas. Falta juntar a este número os casos de 2014 e 2015, alguns deles noticiados pela comunicação social, que assim ajuda quem estuda estas matérias a “identificar alguns dos padrões de ocorrência deste tipo de acidentes (local do acidente, atividade no momento do acidente, parte do corpo lesionada, produtos envolvidos)”. “Este conhecimento mais aprofundado, que não surge nos dados referentes à mortalidade e internamento, é essencial para uma boa definição de estratégias de prevenção, assim como para o estabelecimento de prioridades de intervenção”, lê-se no relatório publicado pela Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI).

Recordamos aqui alguns casos que chegaram à imprensa nos últimos anos. Todos eles tiveram o pior dos desfechos.

Tinha quatro anos e uma movimentação repentina junto à janela, quem sabe atraído pela cortina, foi trágica. Gonçalo, filho único de um casal que vivia em Gaia, estava a brincar na sala com os familiares por perto. “Foi coisa de segundos. Foi tudo muito rápido, o avô ainda tentou, mas já não conseguiu agarrá-lo”, contou ao Jornal de Notícias o tio da criança. Os bombeiros de Lourosa ainda tentaram a reanimação, mas sem sucesso. Foi em junho de 2015.

Segundo a Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI), morrem nove crianças por dia vítima de quedas. Entre 2000 e 2013, 109 crianças perderam a vida e mais de 60 mil foram internadas na sequência de quedas. As varandas e as janelas são os elementos mais repetidos nas quedas. Em Portugal, 4% das mortes acidentais que envolvem crianças têm origem em quedas e essa é também a principal razão para a ida às urgências e internamentos das mesmas. Na Europa, os números são igualmente alarmantes: qualquer coisa como 1500 crianças morrem todos os anos na sequência de quedas. O assunto volta a estar na ordem do dia devido à morte de uma criança depois de uma queda do 21.º andar, no Parque das Nações, em Lisboa.

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Há sensivelmente cinco anos, a queda de uma manequim brasileira de um 15.º andar encheu as páginas dos jornais. Jeniffer tinha 17 anos e, segundo a história contada pelo Público, a sua vida envolvia traições, festas, álcool e luxo. E violência também — alegadamente chegou a ser agredida pelo namorado — que, aliado ao testemunho de uma amiga da modelo, levantou dúvidas quanto à tese do suicídio. O pai não acreditava nessa possibilidade, mas a mãe admitia ser possível. A queda fatal aconteceu também num prédio do Parque das Nações, tal como a tragédia desta sexta-feira.

Em maio de 2014, Diogo caiu numa caixa de saneamento na aldeia de Viduedo, em Bragança. “Fomos chamados ao local, mas a criança já tinha sido retirada da caixa, por alguém que não os bombeiros e estava em paragem cardiorespiratória”, revelaram os bombeiros de Bragança ao Diário de Notícias. O menino de dois anos acabaria por morrer no hospital. Segundo o JN, a criança estaria a brincar quando caiu na caixa com cerca de 80 centímetros. “Como a criança é muito pequena, facilmente entrou na caixa”, referiu ao JN José Fernandes, comandante dos Bombeiros de Bragança.

O relatório da APSI revela mais dados sobre as mortes na sequência de quedas entre os anos de 2002 e 2012: foram 74. A maior parte das mortes ocorreram com crianças e jovens do sexo masculino (77%), com idades entre os 15 e 19 anos (34%). As crianças até aos quatro anos representam 31% das fatalidades, enquanto entre os 5-9 anos e os 10-14 representam 19% e 16%, respetivamente.

No Caniço, Funchal, viveu-se um drama semelhante em maio de 2015. Uma menina de oito anos estava a brincar com um insuflável, num parque de estacionamento de um restaurante. O vento levou o insuflável e a criança caiu de uma altura de oito metros. As lesões sofridas eram graves, com múltiplos traumatismos, incluindo um traumatismo craniano, e a criança acabaria por não resistir no Hospital Dr.º Nélio Mendonça, na capital madeirense.

Em janeiro, uma menina caiu de uma altura de 30 metros (12.º andar), em Alfragide, Lisboa. Beatriz vivia com o pai e acabara de chegar de um período de férias com a mãe e avós. Num domingo como outro qualquer, depois de dizer à filha para fazer os trabalhos de casa, segundo conta o Correio da Manhã, o pai não encontrou a filha na sala, restando-lhe procurar no quarto. A janela estava aberta… As autoridades colocaram em cima da mesa então as possibilidades de suicídio e queda acidental. Beatriz tinha 12 anos.

46% das 109 mortes registadas pela APSI aconteceram devido a uma queda de altura elevada: 22 crianças morreram por uma queda de/ou para fora de edifícios ou outras estruturas, enquanto outras 12 perderam a vida devido a outro tipo de quedas de altura elevada, sendo que nesta categoria estão incluídas as quedas de leito, queda de árvore, queda de penhasco, mergulho ou salto para água (causando traumatismo que não o afogamento).

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, até 90% das mortes por quedas poderiam ser evitadas na Europa, quando falamos, naturalmente, de acidentes. A criação e manutenção de ambientes e produtos seguros para as crianças e jovens são fundamentais para a redução da sua exposição ao risco de quedas graves, diz o relatório da APSI de novembro de 2014.

Sem lei que defina normas para a supervisão das crianças, é exigido aos pais prevenção e bom senso. Estar sozinho aumenta o risco. Veja aqui o Especial do Observador sobre o assunto.