O ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis considerou este sábado que é uma “mentira” dizer que Portugal, Espanha ou Irlanda estejam a recuperar economicamente, afirmando que a política económica da Europa “é um falhanço abjecto”.

Varoufakis, que falava no Fórum por um Plano B na Europa, que arrancou sexta-feira em Madrid, agradeceu com um “grande obrigado” ao povo espanhol por, nas eleições gerais de 20 de dezembro, “não ter comprado a mentira da história de sucesso” da economia espanhola.

“Não compraram a mentira da história de sucesso e não teve medo. Quando Alexis Tsipras [primeiro-ministro grego] foi obrigado a render-se [assinado um novo programa de austeridade, perante a falta de liquidez na Grécia], Mariano Rajoy apareceu em frente às câmaras e disse que era aquilo que os esperava se votassem no Syriza espanhol”, recordou Varoufakis, numa referência ao Podemos.

Nas eleições espanholas de 20 de dezembro, o PP de Rajoy foi o partido mais votado (com 123 deputados), mas o Podemos entrou diretamente no Parlamento com 69 deputados (incluindo as suas formações regionais, que concorreram com o seu apoio mas com outros nomes).

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Varoufakis recordou a sua passagem pelo Governo grego – e as negociações com elementos da “Troika” de credores: Banco Central Europeu, Comissão Europeia e FMI – para salientar que os povos europeus dão demasiada credibilidade às instituições europeias.

“A Esquerda deu demasiado credibilidade ao ‘establishment’. Pensamos que eles podem até ter uma visão política diferente da nossa, mas que têm um plano e são competentes. Pois eles não fazem a mínima ideia, são completamente incompetentes e estão a inventar à medida que isto anda”, salientou o economista grego.

Varoufakis realçou que as instituições europeias “não previram o problema” e “não ligaram aos avisos” do Governo grego.

“A história da Europa nos últimos seis ou sete anos é uma comédia de erros. Erram e depois não podem admitir o erro, o que leva ao falhanço. Quando falham isso leva a austeridade e depois a mais falhanço”, disse Varoufakis.

Para o antigo ministro, o único plano de Bruxelas é “manter a estrutura de cartel da União Europeia”, independentemente de aferir se a receita económica está a resultar ou não nos países alvo de intervenção.

“E depois falam em recuperação. Que recuperação em Espanha e em Portugal? Ou na Irlanda? A política económica europeia é um falhanço abjecto!”, sentenciou Varoufakis.

A Irlanda fechou o ano de 2015 com um crescimento do seu PIB (Produro Interno Bruto) de 6,9%, a Espanha com uma subida de 3,2% e Portugal de 1,5%.

Ainda assim, Varoufakis salientou que “a velha Europa está a desintegrar-se, a morrer” e que “a nova Europa está a nascer”.

Para aplicar um “Plano B”, defendeu, “a Esquerda é necessária mas não suficiente”.

“Temos de nos aliar com os Verdes, com os Sociais-Democratas que viram o erro em que caíram. Nós, da Esquerda, percebemos que temos uma responsabilidade histórica para com os povos”, propôs o antigo ministro.

Por isso mesmo exortou à criação de “Brigadas Internacionais Democráticas” (numa referência às brigadas que combateram na Guerra Civil espanhola), para “convencer a pessoa que está no sofá, paralisada de medo e a ver ‘talk shows’ ridículos de que existe uma alternativa”.

O fórum Plano B para a Europa prossegue até domingo, com conferências de Varoufakis e com a presença do português Francisco Louçã (economista, fundador e antigo líder do Bloco de Esquerda).

Este “Plano B”, como lhe chamam os seus impulsionadores, visa dar “um caráter verdadeiramente democrático” às políticas comunitárias.