O presidente do Conselho de Administração da RTP, Gonçalo Reis, disse, em entrevista à Lusa, que a empresa atingiu o “equilíbrio económico” no ano passado, o que é “um resultado histórico”.
Em 2015, “no primeiro ano do nosso mandato, atingimos o equilíbrio económico”, afirmou o gestor, cujo conselho de administração que lidera assumiu funções a 9 de fevereiro do ano passado.
“Ou seja, os resultados operacionais vão suprir os custos financeiros, os custos com juros”, disse, salientando que este “é um resultado histórico”.
Apesar de não poder divulgar dados, já que as contas relativas a 2015 estão em fase de finalização, Gonçalo Reis sublinhou que “os ganhos operacionais pagam os juros da dívida”.
De acordo com o gestor, a administração está a trabalhar “num registo de eficácia com serenidade”, salientando que a RTP está “em rota” com os pilares que a equipa de gestão delineou desde o início: “aposta na qualidade, inovação e contas certas”.
“Acho que tem sido um ano de muita atuação, sobretudo acho que as equipas da RTP foram capazes de mudar a rota, foram capazes de vestir a camisola de uma lógica de serviço público diferenciado”, afirmou, considerando que a empresa “reencontrou a sua matriz clássica: produzir conteúdos que sejam diferenciadores, que tenham um caráter próprio e que acrescentem ao panorama audiovisual”.
Do ponto de vista empresarial, “as principais linhas em que nós atuámos foram, em primeiro lugar, a internalização da produção e esse é um tema estrutural”, que visou “corrigir uma política errada de ‘outsourcing’ [subcontratação] e de desvitalização da RTP”, passando a empresa a produzir internamente com as suas equipas e equipamentos nos seus estúdios.
“Este é o ponto mais importante para nós”, disse.
Além disso, “também julgo que nós, de alguma maneira, tranquilizámos e baixámos a temperatura e melhorámos assim o ambiente”, ou seja, “a relação com os trabalhadores, com os sindicatos”, recordando que foi fechado o Acordo de Empresa.
“Temos uma agenda de mobilização, de desenvolvimento, de dar oportunidade às pessoas”, acrescentou.
Destacou ainda a “credibilização financeira da RTP”, depois de a empresa ter conseguido obter um financiamento de médio e longo prazo de 80 milhões de euros com um consórcio de bancos portugueses, o que não acontecia “há várias décadas”. Isso demonstra que o mercado, o setor financeiro, percebe aquilo que estamos a fazer”, disse, recordando que antes deste financiamento a empresa tinha produtos derivados “com elevada volatilidade que não eram adequadas ao perfil”.
Relativamente ao instrumento financeiro ‘eurogreen’, o gestor disse que é “passado”.
“É um produto derivado de alta volatilidade que a RTP precisou contratualizar” há mais de uma década “porque não tinha outras possibilidades e nós, ao obtermos este financiamento de médio e longo prazo (…), fomos capazes de liquidar o ‘eurogreen'”, disse.
Sobre o facto da Contribuição para o Audiovisual (CAV) passar a ser transferida via Orçamento do Estado, quando anteriormente era transferida diretamente pelas elétricas para a empresa, o presidente da RTP considerou tratar-se de “um tema de classificação de contas públicas”.
Esta mudança “não tem impacto, ao que sei, no processamento ou na metodologia ou no circuito dos fluxos. O ponto fundamental é preservar a autonomia financeira da RTP”, disse, considerando que tal “é um dado adquirido”, pelo que a administração está tranquila com o assunto.
Contribuição audiovisual é das mais baixas da Europa
Relativamente ao valor da CAV, recordou que o montante que a RTP recebe “é baixo a nível europeu, tanto em padrões absolutos como em relativos”, mesmo por Produto Interno Bruto (PIB) por habitante.
“A RTP recebe uma contribuição audiovisual das mais baixas da Europa”, disse, escusando-se a comentar uma eventual revisão do valor da CAV, já que isso é uma decisão do acionista.
Reiterou que o modelo de cobrança da CAV “é excelente” e é “a melhor prática na Europa” e apontou que a taxa de evasão da contribuição audiovisual (que vem na fatura da eletricidade) é a “mais baixa” no mercado europeu, com 1%, contra a média europeia de 16,8%, considerando que a tendência é para se migrar para este modelo.
Para este ano, Gonçalo Reis espera uma estabilidade do lado das receitas comerciais.
No cabo, a RTP fechou os contratos com os operadores por três anos, depois espera ainda crescer ligeiramente com a distribuição internacional de canais, e relativamente à publicidade, embora não espere um aumento das audiências, regista uma expetativa da parte dos anunciantes.