A geração de sindicalistas de Abril da CGTP fica hoje quase vazia com a saída de Armando Farias, Joaquim Dionísio e Manuel Guerreiro da direção da central sindical, por estarem perto da idade da reforma.

Os três dirigentes sindicais vão deixar o Conselho Nacional e a Comissão Executiva da Intersindical, no âmbito do seu XIII Congresso, depois de várias décadas de dedicação total ou parcial ao movimento sindical unitário e com a promessa de continuarem a apoiar a CGTP no que for preciso.

De acordo com os estatutos da central sindical, os sindicalistas que já tenham idade para a reforma ou que a atinjam durante os próximos quatro anos, já não podem candidatar-se aos órgãos sociais da Inter, de modo a assegurar a renovação de quadros.

Assim, Joaquim Dionísio vai poder dedicar-se a tempo inteiro à advocacia enquanto os outros dois sindicalistas vão voltar aos seus locais de trabalho até atingirem a idade de reforma, o que é uma novidade.

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Em situações anteriores, os sindicalistas se atingiam o limite de idade mas ainda não tinham a idade exata para a reforma, completavam-na ao serviço dos seus sindicatos.

No entanto, Manuel Guerreiro e Armando Farias manifestaram satisfação por voltar ao seu posto de trabalho, porque mantiveram sempre uma relação próxima com as respetivas empresas.

Armando Farias, 64 anos, foi no último mandato o braço direito de Arménio Carlos, ao assumir os pelouros da contratação coletiva e ação reivindicativa, que eram assegurados anteriormente pelo atual secretário-geral.

Em breve vai voltar a trabalhar na Petrogal, em Sines, admitindo tornar-se delegado sindical, se for essa a vontade dos trabalhadores.

“Nunca abandonei o meu local de trabalho, embora tenha passado as últimas décadas ao serviço da Federação Sindical da Química e da CFGTP, mas é um ciclo que se fecha e volto ao meu posto de trabalho e vou integrar-me na vida da empresa”, disse à agência Lusa à margem do XIII Congresso da Inter.

Manuel Guerreiro tem 65 anos de idade e 47 de descontos para a Segurança Social, mas como não quer sofrer penalização na pensão vai voltar ao seu posto de trabalho no grupo Auchan “com uma certa alegria”.

“Sempre me considerei um assalariado, por isso vou voltar ao meu local de trabalho, depois de 46 anos de dedicação ao movimento sindical. Isto era uma missão”, disse à Lusa.

O sindicalista, que até há uma semana era presidente da Federação dos Sindicatos do Comércio e na CGTP tinha o pelouro da informação e propaganda sindical, vai voltar ao local de trabalho “como um cidadão normal”.

“É que nos anos de sindicalismo a tempo inteiro, apenas recebia o salário base e por isso não me posso dar ao luxo de ter uma penalização na pensão”, referiu.

Joaquim Dionísio, responsável pelo gabinete jurídico da CGTP e pelo pelouro da legislação laboral, considerou “natural e desejável a saída de dirigentes para permitir a entrada de novas gerações e assegurar a renovação” dos órgãos sociais da CGTP.

O sindicalista, que por altura da revolução de abril tinha entrado para a faculdade de medicina, tornou-se ativista sindical (enquanto trabalhador de uma empresa vidreira) e optou por fazer o curso de direito, que foi exercendo a par das responsabilidades da CGTP.

A partir de março Joaquim Dionísio vai trabalhar a tempo inteiro no seu escritório, onde se dedica sobretudo a causas laborais.

Os três sindicalistas deixam a direção da Inter com a convicção de que aprenderam muito com o movimento sindical e que tiveram o privilégio de ajudar a concretizar mudanças importantes para os trabalhadores.

O balanço feito é positivo e continuam disponíveis para apoiar a CGTP e o movimento sindical no que for preciso.

Tendo em conta o limite de idade, estes três dirigentes são dos últimos que se dedicaram ao movimento sindical após o 25 de Abril e consideram que os valores e os direitos conseguidos nessa altura não se vão perder.

“Os dirigentes que vêm a seguir a nós vão conseguir dar continuidade a este grande movimento e defender as conquistas de Abril”, disse à Lusa Joaquim Dionísio.