O filme “Spotlight”, que acaba de vencer o Óscar de melhor filme do ano, retrata uma investigação feita pelo jornal The Boston Globe, que revelou abusos sexuais a crianças cometidos por padres, nos Estados Unidos. No centro da polémica estava Bernard Law, arcebispo da Igreja de Boston, suspeito de ter encoberto dezenas de crimes mudando os padres da diocese, em vez de denunciar os crimes.

Bernard Law, que a BBC descreve como tendo sido “o bispo católico mais influente dos Estados Unidos”, foi obrigado a demitir-se do cargo, em 2002, perante o escândalo que abalou toda a Igreja. Mas continuou a exercer funções eclesiásticas, já que, dois anos depois, viria a ser nomeado arcipreste da Basílica de Santa Maria Maior, uma das mais importantes de Roma.

A função era mais “honorífica” que a anterior e Law tinha menos responsabilidades. Apesar disso, segundo relata a BBC, o bispo “manteve a [sua] influência” e “ia aparecendo em eventos eclesiásticos e diplomáticos”. Ao ponto de, no ano seguinte, em 2005, ter mesmo celebrado uma missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano, e ter participado no conclave que elegeu Bento XVI como novo Papa.

A ideia de que manteve o seu poder na esfera religiosa é confirmada por John Allen, jornalista do The Boston Globe desde 2014, que cita a sua manutenção na Congregação para os Bispos, um organismo da Igreja cujas funções incluem, entre outras, a nomeação de bispos para várias dioceses norte-americanas, para explicar que Law continuou a ser figura importante e influente na esfera religiosa.

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O que as pessoas acharam na altura é que como arcipreste não tinha nenhum poder. Mas o cargo [que manteve] na Congregação para os Bispos tinha uma importância enorme.

Em 2011, com 80 anos, Bernard Law reformou-se e “vive [agora] em Roma”, segundo afirmou o gabinete de imprensa do Vaticano à estação britânica. Segundo o gabinete de imprensa do Vaticano, apesar da reforma, tem o título de “arcipreste emérito” da Basílica de Santa Maria Maior e “arcebispo emérito” da Igreja de Boston.

Mesmo depois da investigação do The Boston Globe (que daria mais tarde origem ao filme “Spotlight”), o bispo nunca foi acusado de nada, muito menos condenado. E a sua mudança de país (dos Estados Unidos para Itália) parece ter-se devido mais à vontade de evitar um ambiente mais pesado (vários protestos civis foram convocados, pedindo a sua responsabilização criminal) do que a uma eventual fuga à justiça.