Há oficialmente e até agora – não há um limite estabelecido para a apresentação de candidaturas – nove candidatos a secretário-geral da ONU. Para além de Guterres, há quatro homens e quatro mulheres prontos a disputar o cargo de toda desta organização internacional e a concorrência não será fácil. Há um ex-Presidente da Eslovénia, um antigo presidente da Assembleia Geral da ONU, uma ex-primeira-ministra, a diretora-geral da Unesco e dois ministros dos Negócios Estrangeiros. A vantagem face a Guterres? São da Europa de Leste e Balcãs, região a que, de forma informal, pertence a nomeação do próximo secretário-geral da ONU.

António Costa ‘vendeu’ António Guterres na sua carta à ONU como um “candidato excecionalmente qualificado” e não há dúvida do seu extenso currículo governativo ou da sua experiência na ONU, com mais de 10 anos de experiência como Alto Comissário para os Refugiados. No entanto, esta não é uma corrida de um homem só e, à partida, como já escrevemos, Guterres tem duas coisas contra si: a sua nacionalidade e o seu sexo. Quando pediram aos Estados-membros que enviassem candidaturas para a posição de secretário-geral, o presidente da Assembleia Geral da ONU, Mogens Lykketoft, e a presidente do Conselho de Segurança, Samantha Power, lembraram que a igualdade de género é essencial neste processo – nunca houve até hoje uma mulher como secretária-geral -, assim como a diversidade geográfica – sendo que o cargo deveria ficar para alguém oriundo da Europa de Leste.

António Guterres foi mesmo o último candidato a ser oficialmente apresentado e a constar na lista que está publicada no site que vai acompanhar a par e passo esta eleição. Mas quem são as outras figuras que se vão bater com o antigo primeiro-ministro? Ainda a 30 de dezembro de 2015, Srgjan Kerim, antigo Presidente da Macedónia foi indicado pelo seu país. Kerim tem 67 anos e é diplomata de carreira, tendo sido embaixador na Alemanha e representante permanente da Macedónia nas Nações Unidas entre 2001 e 2003. Foi também ministro dos Negócios Estrangeiros e teve outros cargos governamentais. O diplomata foi mesmo o presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas entre 2007 e 2008, sendo, por isso, conhecedor dos meandros da organização.

A primeira candidata a ser apresentada em 2016 foi a croata Vesna Pusić, que acumula o cargo de ministra dos Negócios Estrangeiros com o lugar de vice-primeira-ministra. Vesna Pusić tem 63 anos e é líder do Partido do Povo, um partido liberal-democrata da Croácia. Uma das maiores batalhas desta candidata tem sido a integração europeia e coube-lhe a ela liderar a comissão parlamentar que supervisionou os termos de adesão da Croácia à União Europeia – esta adesão ocorreu em 2013. Está também envolvida na defesa da igualdade de género e nas causas LGBT, sendo vista a marchar nas paradas de orgulho gay em Zagreb.

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No dia seguinte à candidatura de Vesna Pusić ter dado entrada, apareceu logo outro candidato. É Igor Lukšić e foi proposto pelo Montenegro. Atualmente é ministro dos Negócios Estrangeiros, mas já foi primeiro-ministro e ministro das Finanças em mandatos anteriores. Tem 39 anos e chegou pela primeira vez ao Parlamento do Montenegro em 2001. Na carta enviada pelo Montenegro para a ONU, o representante permanente do país nesta organização considera que Lukšić possui “todas as capacidades, atributos, conhecimentos e experiência” pedidos pela Assembleia Geral para a consideração de um candidato. Esta missiva também indica que Igor Lukšić é casado e tem três filhos.

Com um dos perfis mais completos entre os candidatos, está Danilo Türk, antigo Presidente da Eslovénia. A Eslovénia foi o quarto país a apresentar a sua candidatura. Danilo Türk tem 64 anos e é diplomata de carreira, tendo sido o primeiro representante permanente da Eslovénia nas Nações Unidas. O resto da sua carreira fez-se nesta organização conseguindo que a Eslovénia integrasse o Conselho de Segurança como membro não permanente e foi mesmo presidente do Conselho de Segurança – dentro da lógica das presidências rotativas deste órgão. Entre 2000 e 2005, Türk foi assistente de Kofi Annan, então secretário-geral da ONU, para assuntos políticos. Depois da sua candidatura e mandato de cinco anos como Presidente da Eslovénia, o diplomata é agora professor convidado da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e criou uma fundação com o seu nome para ajudar crianças vítimas de conflitos armados.

Logo a seguir, também a Bulgária entrou na corrida como Irina Bokova. Apesar de esta ser uma nomeação já anunciada desde o ano passado, uma certa rivalidade interna com a comissária europeia Kristalina Georgieva – também búlgara – pela nomeação causou alguma incerteza no panorama político do país. Finalmente, a candidatura de Bokova prevaleceu e a diretora-geral da Unesco – uma agência especializada da ONU que lida com a Educação, Cultura e Ciência – é mesmo a candidata a secretária-geral da ONU. Diplomata de carreira, a búlgara de 63 anos estudou na União Soviética e nos Estados Unidos, fala fluentemente francês, inglês, espanhol e russo e fez parte dos esforços do país para integrar a União Europeia desde os anos 90. Chegou à UNESCO em 2009, sendo reeleita em 2013 para mais um mandato. Os seus anos à frente da organização têm sido elogiados pelas reformas implementadas e cortes nos gastos da organização.

A Moldávia apresentou a candidatura de Natalia Gherman e relembrou na sua carta enviada à organização que esta preenche não só o requisito da região de onde deve vir o próximo secretário-geral, assim como o país afirma ser um “forte apoiante do princípio da igualdade de género”, dando a entender que a escolha de uma mulher em setembro deste ano será um fator determinante. Tal como outros candidatos, Natalia Gherman, de 46 anos, é diplomata de carreira e foi primeira-ministra interinamente durante pouco mais de um mês. Antes disso foi ministra dos Negócios Estrangeiros e em 2009 foi nomeada como a principal negociadora do programa de cooperação entre a Moldávia e a União Europeia.

A última candidata a chegar, mas considerada um peso pesado nesta disputa é a neozelandesa Helen Clark. Tem um percurso similar ao de Guterres, tendo sido primeira-ministra da Nova Zelândia entre 1999 e 2008, seguindo-se um cargo de alta responsabilidade na ONU como diretora do Programa de Desenvolvimento da ONU. Clark foi a primeira mulher neste cargo e é também presidente do Grupo de Desenvolvimento das Nações Unidas. Com uma vasta experiência governamental – foi deputada desde 1981 e antes de ser primeira-ministra assumiu outras pastas no Governo -, o único impedimento de Clark é não ser da Europa de Leste, mas a Oceânia nunca teve um secretário-geral e isso dá um argumento forte à sua candidatura.

O candidato mais recente é Vuk Jeremić, que apareceu a meio das audições dos outros candidatos, conseguindo ainda participar nessa ronda. Jeremić foi ministro dos Negócios Estrangeiros da Sérvia e presidiu à 67ª Assembleia Geral da ONU. A hesitação do Governo sérvio em apoiá-lo terá a ver com o seu ponto de vista nacionalista sobre o Kosovo.

Todos estes candidatos foram ouvidos entre 12 e 14 de abril, na sede das Nações Unidas em Nova Iorque. Foi uma oportunidade para os países fazerem as questões que quiseram a estes candidatos, mas também uma possibilidade para a sociedade civil intervir com algumas perguntas. Os candidatos tiveram direito a um depoimento inicial de 10 minutos e depois será a altura para os países fazerem as questões que desejarem ver esclarecidas. As sessões duraram cerca de duas horas e foram transmitidas na Internet, através de um link providenciado pela própria ONU. Haverá nova ronda a 7 de junho para novos candidatos.

Nota: artigo atualizado esta terça-feira, 12 de abril, com a candidata Helen Clark

Nota: artigo atualizado a 19 de maio com a candidatura de Vuk Jeremić