O processo de venda do Novo Banco será relançado de forma mais ativa nas próximas semanas com um roadshow internacional cujo principal objetivo é apresentar a realidade e as potencialidades da instituição bancária, e que procura contrariar as notícias negativas que têm tido destaque na imprensa internacional.

A transferência da dívida sénior para o Banco Espírito Santo (BES) e os prejuízos de quase mil milhões de euros apresentados no ano passado, não são o cartão de visita mais favorável para o arranque de um novo procedimento de venda. Pretende-se agora revelar uma imagem mais consistente e completa do banco, do plano de reestruturação em curso e do mercado bancário português.

O roadshow passará pelas principais praças financeiras na Europa, incluindo Lisboa, e nos Estados Unidos, e poderá ir ainda à Ásia. Segundo informação recolhida pelo Observador, o novo processo de venda terá como alvos preferenciais investidores que tenham participado, mostrado interesse ou concorrido a operações bancárias na Europa pelo menos no último ano ou dois anos.

A estratégia pretende atrair interessados que conhecem bem as novas regras europeias sobre a supervisão bancária e que se sintam confortáveis em investir neste quadro regulatório exigente. O Novo Banco, pela sua dimensão nacional, cai no âmbito da supervisão europeia e a aquisição de uma participação de 10% ou mais tem de passar no crivo do Banco Central Europeu. Também por isso, há a preocupação de assegurar que o perfil dos futuros investidores não levanta reservas junto dos reguladores.

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Chineses já não aparecem como favoritos

Tudo indica que desta vez a Ásia, e em particular a China, não será um palco preferencial de captação de compradores, em contraste com o que aconteceu no primeiro processo de venda do Novo Banco em que grupos chineses — Anbang e a Fosun — fizeram as ofertas mais agressivas e eram dados como favoritos.

A travagem económica na China, a instabilidade nas bolsas asiáticas e o travão nas políticas expansionistas de grupos financeiros, como a Fosun (dona da Fidelidade), são fatores que parecem ter arrefecido o apetite dos grupos chineses por ativos internacionais, em particular europeus.

Por outro lado, a situação da banca europeia, e em particular da portuguesa, tornam a venda do Novo Banco ainda mais desafiante do que o processo tentado no ano passado. Daí que todos os modelos estão em aberto e todas as hipóteses serão testadas. Até a bolsa.

Tal como foi avançado pela imprensa esta terça-feira, a equipa que tenta vender o Novo Banco vai avançar com um projeto de prospeto para preparar uma dispersão no mercado de capitais, em paralelo com o procedimento de venda direta. A decisão final só deverá ser tomada em meados do ano e em linha com as propostas concretas dos interessados.

A opção de testar vários modelos antes de decidir foi seguida na privatização dos CTT, onde foi avaliada a venda direta com propostas concretas, tendo-se depois optado por realizar uma dispersão em bolsa. A equipa que coordena a venda do Novo Banco é liderada por Sérgio Monteiro, o ex-secretário de Estado dos Transportes e Comunicações que liderou várias privatizações, incluindo a dos CTT.

E na venda direta todos os cenários estão a ser considerados, incluindo a alienação de uma participação minoritária, em que o Fundo de Resolução continuaria acionista do NB, a entrada de vários acionistas privados ou o destaque de alguns ativos não estratégicos para um veículo que ficaria na esfera pública.

Do ponto de vista dos promotores da operação, a meta prioritária é concretizar uma transação bem-sucedida com acionistas privados ainda este ano, até para satisfazer as exigências da autoridades europeias. Ou seja, no imediato não há a ambição de definir com esta operação a estrutura acionista futura do Novo Banco. Tanto mais, quando se aposta cada vez mais um cenário de consolidação da banca a nível ibérico, com os espanhóis na linha da frente.

Escalada na oposição política à esquerda

A nova tentativa de alienação do Novo Banco está a ser liderado por Sérgio Monteiro. O antigo secretário de Estado das Obras Públicas foi contratado para o efeito pelo Banco de Portugal e Fundo de Resolução e tem sido um dos pontos contestados pelos partidos da esquerda que são contra esta operação. A oposição política à venda do Novo Banco está tem vindo a registar uma escalada.

Ontem, o Bloco de Esquerda exigiu a presença de Carlos Costa, o governador do Banco de Portugal, e do ministro Mário Centeno para explicar as notícias recentes sobre o processo de venda.

“O mais provável é a maioria dos acionistas serem fundos abutres, estrangeiros, sobre os quais não temos nenhum poder”, afirmou ontem a deputada Marina Mortágua.