De um lado, há o PT. O partido está à frente do governo do Brasil desde a primeira eleição de Lula da Silva em 2003. Dilma Rousseff, atualmente no seu segundo mandato, pode permanecer no Palácio do Planalto até 31 de dezembro de 2018, caso consiga impedir a abertura do processo de impugnação do seu mandato.
Do outro lado, há o PSDB. O partido é liderado pelo senador Aécio Neves e representa o maior grupo de oposição ao governo. Nas três últimas eleições presidenciais, chegou a disputar a segunda volta contra os candidatos petistas, mas já ocupou a presidência do Brasil entre 1995 e 2002.
Há, no entanto, outro partido que silenciosamente dá as cartas do jogo político do país, mesmo que nunca tenha eleito nenhum presidente através de voto direto: o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Ao longo da história política do país, o seu apoio tem sido fundamental tanto para o PT quanto para o PSDB para garantir governabilidade no exercício do poder.
Com o anúncio da rutura com Dilma Rousseff esta terça-feira, o PMDB interrompe uma relação de 14 anos com o PT, deixando a presidente mais isolada à frente do Brasil. Mas qual é o verdadeiro peso político do PMDB? O Observador elaborou cinco gráficos para se entender o que representa a saída do partido do governo, a partir da comparação com o PT e o PSDB.
Comecemos pela Câmara dos Deputados, formada por 513 deputados, pertencentes a 25 partidos. O PMDB conta com a maior representação na Casa Legislativa: 68 deputados. Este número é superior ao do PT, que conta com 58 representantes. Mesmo que o PMDB nunca tenha sido totalmente fiel nas votações parlamentares, o que já inviabilizou uma série de medidas apresentadas pela equipa de Dilma Rousseff, a saída formal do partido pode trazer mais dificuldades para a presidente avançar com o seu programa de governo.
Comparativamente, o PSDB, como maior partido da oposição, aparece apenas em quarto lugar, com 48 representantes, superado pelo PP com 49 deputados, partido que faz parte da base de governo.
A Câmara dos Deputados é liderada por Eduardo Cunha, filiado no partido e um dos maiores críticos de Dilma. Foi o responsável por aceitar a abertura do processo de impugnação do mandato da presidente.
No Senado, a câmara alta do Congresso do Brasil, o PMDB também conta com o maior número de representantes: 18 de 81 senadores. Renan Calheiros, presidente do Senado, também pertence ao partido. O PT e o PSDB aparecem em seguida, com 13 e 11 senadores, respetivamente. Fazem parte do Senado 17 partidos.
Um dos impactos mais imediatos da saída do PMDB da base de governo diz respeito à comissão especial na Câmara dos Deputados, que avalia a continuidade do processo de impugnação do mandato de Dilma Rousseff. Cabe a esta comissão analisar o pedido de impeachment, ouvir a defesa da presidente e emitir um relatório final no qual se pronuncia a favor ou contra o processo.
A comissão especial é composta por deputados que foram nomeados em quantidades proporcionais à sua representatividade no Congresso. Desta maneira, o PT e o PMDB aparecem empatados com o maior número de representantes: oito deputados. O PSDB aparece como terceira força na comissão com seis deputados.
De acordo com uma análise do jornal Zero Hora feita a partir de declarações dos deputados, quatro deputados do PMDB integrantes da comissão são favoráveis ao impeachment, enquanto os outros quatro deputados não se manifestaram ou têm posição indefinida. Nenhum representante do partido defende publicamente o fim do processo.
O poder do PMDB também se manifesta a nível estadual, mesmo que as regras do jogo político sejam diferentes. O Brasil está dividido em 26 estados e um distrito federal, administrados por um governador – o equivalente à figura de um presidente no estado. Os partidos podem ou não concorrer às eleições com candidatos próprios ou como parte da coligação de outro partido.
Nas últimas eleições para governador em 2014, nove partidos conseguiram eleger governadores. O PMDB terminou como a formação mais vitoriosa ao eleger sete governadores, dois a mais que o PT e o PSDB. Este cálculo leva em consideração apenas o número de estados e ignora o tamanho e importância do círculo eleitoral.
O poder estadual do PMDB reflete-se também nos municípios. As eleições municipais seguem as mesmas regras do “jogo estadual”, em que os partidos decidem em quais lugares avançam com candidaturas próprias ou em coligação. As últimas eleições aconteceram em 2012 e as próximas ocorrem em outubro deste ano.
Os peemedebistas venceram as eleições em 1.024 municípios, seguidos pelo PSDB com 702 prefeitos. O PT aparece como terceira força com vitórias em 635 municípios. É de salientar, no entanto, que este cálculo leva em consideração apenas o número total de municípios e não o total de eleitores que cada partido teve nas eleições municipais em todo o Brasil.
Michel Temer já tinha anunciado em janeiro que o PMDB vai concorrer com candidatura própria às eleições presidenciais de 2018, independentemente da rutura com o PT. O partido, no entanto, tem um desafio neste momento: transferir o seu poder no Congresso brasileiro e nos estados e municípios para a corrida ao Palácio do Planalto.
De acordo com a última sondagem do instituto Datafolha, publicada a 19 de março no jornal Folha de S. Paulo, caso Michel Temer fosse o candidato do PMDB, obteria apenas 1 ou 2% de intenção de votos, a partir de três cenários apresentados com diferentes representante do PSDB.
O vice-presidente do Brasil apareceria em oitavo ou nono lugar e seria derrotado por Marina Silva (Rede Sustentabilidade), Aécio Neves, Geraldo Alckmin ou José Serra (PSDB), Lula da Silva (PT), numa hipotética candidatura do petista, e até mesmo partidos de menor expressão nacional como o PSOL e o PV.
O PMDB ainda não definiu oficialmente o seu candidato para 2018, mas num possível cenário que envolva o impeachment de Dilma Rousseff, Bernardo Mello Franco, colunista do jornal Folha de S. Paulo, definiu bem o resultado da sondagem: “Vem aí o presidente 1%”.