Cientistas da Universidade da Califórnia apresentam hoje uma hipótese que poderá explicar como o vírus zika provoca microcefalia, o que poderá dever-se à sua capacidade de sequestrar uma proteína na superfície das células estaminais neurais.
Num estudo publicado na revista científica Cell Stem Cell, os investigadores mostram que o vírus zika consegue apropriar-se do recetor superficial AXL, normalmente envolvido na divisão celular, e usá-lo como porta de entrada para a infeção.
O AXL é muito abundante na superfície das células estaminais neurais, mas não nos neurónios no cérebro em desenvolvimento e as células estaminais neurais que expressam o AXL só estão presentes no segundo trimestre de gravidez.
“Embora não seja de todo uma explicação total, acreditamos que a expressão do AXL por este tipo de células é uma pista importante para explicar como o vírus zika consegue produzir casos tão devastadores de microcefalia, e coincide com a evidência já disponível”, disse o autor sénior do estudo, Arnold Kriegstein, diretor do Centro Eli e Edythe de Medicina Regenerativa e Investigação em Células Estaminais.
Segundo o investigador, o AXL “não é o único recetor que foi associado à infeção por zika, por isso será necessário ultrapassar a fase da ‘culpa por associação’ e demonstrar que bloquear este recetor específico pode prevenir a infeção”.
Até ser confirmado que o zika usa o AXL para entrar nas células estaminais neurais, a equipa de Kriegstein quer estudar se o recetor poderia ser explorado com fins terapêuticos.
Como a proteína é importante na proliferação das células estaminais neurais, é pouco provável que o bloqueio do AXL seja uma opção no cérebro do feto, mas os investigadores admitem que haja uma forma de tratar mulheres em risco de infeção com um inibidor de AXL que impeça o vírus do zika de entrar no feto em desenvolvimento.
Embora existam provas cada vez mais conclusivas de que o zika provoca malformações fetais, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ainda não deu a associação como provada.
Um surto de zika afeta atualmente a América do Sul, e o Brasil, o país mais afetado pelo surto de zika, já registou mais de um milhão e meio de casos.
Na quarta-feira passada, o Brasil confirmou 907 casos de microcefalia e 198 de bebés que morreram devido a este problema congénito desde o início do surto.
As autoridades estão ainda a investigar se a malformação afeta outros 4.293 bebés com sintomas parecidos.
O vírus é transmitido aos seres humanos pela picada do mosquito Aedes aegypti, que existe em 130 países, e na maioria dos casos provoca apenas sintomas gripais benignos, ou não provoca sintomas de todo.