O cientista Miguel Prudêncio defendeu hoje que nunca houve tanto investimento na investigação do paludismo, o que permite “imaginar um mundo sem malária”, mas afirmou que não está para breve uma vacina eficaz contra a doença.

Em entrevista telefónica à Lusa a propósito do Dia Mundial da Malária, que se assinala na segunda-feira, o investigador do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, afirmou que, perante os níveis de investimento na investigação da malária e os progressos que se têm registado, “talvez seja realista pensar” na erradicação da malária.

“O problema é que desde há alguns anos têm-se estabelecido metas para a erradicação da malária e até agora todas têm falhado”, disse o cientista, para quem “realisticamente”, a erradicação não é algo que se preveja acontecer na próxima década.

Ainda assim, Miguel Prudêncio considerou “evidente que tem havido progressos. A mortalidade devido à malária tem vindo a descer (…) e isso deve-se ao investimento que tem sido feito, nomeadamente na distribuição redes mosquiteiras e inseticidas, que têm permitido controlar um pouco a transmissão da malária.

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Também na investigação, “nunca houve tanto investimento”, o que se deveu em grande parte à Fundação Bill e Melinda Gates, que no início do século “apareceu com o desígnio de investir a sério em doenças que afetam os países mais pobres, entre os quais a malária”.

O investimento da fundação do criador da Microsoft “foi muito importante, não só pelo que ela própria representou, mas também porque funcionou como estímulo a outras entidades que financiam a investigação e para a própria Organização Mundial da Saúde”, que assim começaram a investir mais nessas áreas.

“Atualmente, a malária é uma das áreas de investigação que é prioritária”, afirmou o investigador.

Questionado sobre se o surgimento do Zika e o grande interesse que suscitou a nível científico e na comunidade pode pôr em causa os níveis de investimento alcançados pela malária, o cientista admitiu que o risco existe.

No entanto, mostrou-se confiante de que as entidades financiadoras não vão alterar radicalmente a sua política de financiamento “em função de algo que é circunstancial”.

“Há sem dúvida um risco de desviar as atenções do público, mas as agências financiadoras e as entidades que estão no terreno não vão mudar radicalmente as suas estratégias”.

Opinião semelhante tem o investigador Henrique Silveira, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, para quem o forte investimento na investigação do Zika é algo pontual, que resulta da pressão da opinião pública sobre as entidades políticas e financiadoras.

Considerando “fantástico” que as agências financiadoras tenham conseguido, em três ou quatro meses, pôr de pé uma série de projetos de investigação do Zika, o cientista mostrou-se convencido de que a investigação desta doença acabará por entrar na normalidade.

Ainda assim, sublinhou que o investimento na investigação do Zika é importante, não só para esse vírus, mas também para outros, como o dengue, já que o mosquito que transmite ambos os patogénios é o mesmo.