O Banco Nacional de Angola quer a polícia a combater a venda ilegal de dólares nas ruas, a única forma de acesso a divisas no país, mas que são transacionadas três vezes acima da taxa de câmbio oficial.
A posição vem expressa na mais recente nota mensal do Comité de Política Monetária do BNA e confirma esta terça-feira os receios com que muitas destas “kinguilas” [mulheres que se dedicam a esta atividade] já estão a tratar o negócio, ilegal, já que não pagam impostos ou declaram as compras e vendas.
Aquele órgão do Banco Nacional de Angola (BNA) recomendou agora “às autoridades competentes maior controlo e responsabilização dos agentes promotores do mercado informal de moeda estrangeira”, ao mesmo tempo que pretende que a supervisão do banco central seja “mais atuante e enérgica na preservação da ética e cumprimento das normas do sistema financeiro”.
Conforme a Lusa constatou em rondas nos últimos dias, as “kinguilas” tentam agora não fazer as transações nas ruas e antes em casas, mais resguardadas, onde negoceiam com os clientes. Antes ainda tentam confirmar o real interesse dos compradores, receando tratar-se de agentes policiais, conforme algumas descreveram à Lusa, sempre sob anonimato.
Dependendo das zonas de Luanda, estas mulheres já transacionam cada nota de dólar norte-americano a mais de 500 kwanzas, quando a taxa de câmbio oficial ronda os 166 kwanzas, tendo em conta a elevada procura por dólares e a cada vez mais reduzida oferta.
A crise cambial que o país atravessa, decorrente da quebra na cotação do petróleo, tornou praticamente impossível a compra de dólares aos balcões comerciais.
Neste contexto, a opção pelo mercado de rua tem sido o último recurso para estrangeiros e nacionais, que necessitam de sair do país com divisas, apesar de as taxas de câmbio nunca terem sido tão altas.
A nota do CPM refere que “face à escassez de divisas que se observa na economia” angolana, os bancos comerciais devem fazer “uma afetação criteriosa dos escassos recursos disponíveis de maneira a contribuírem para a satisfação das necessidades essenciais da população”, dentro das “prioridades definidas pelo Executivo”.
Angola vive desde meados de 2014 uma forte crise financeira, económica e cambial decorrente da quebra das receitas da exportação de petróleo.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou a 06 de abril que Angola solicitou um programa de assistência para os próximos três anos, cujos termos foram debatidos nas reuniões de primavera, em Washington, prosseguindo durante uma visita ao país, agendada para entre 01 e 14 de junho.
O ministro das Finanças, Armando Manuel, esclareceu entretanto que este pedido será para um Programa de Financiamento Ampliado para apoiar a diversificação económica a médio prazo, negando que se trate de um resgate económico.