A bomba atómica mudou o mundo. Mudou o curso da Segunda Guerra Mundial, aniquilando os últimos beligerantes que ainda teimavam em combater. Mudou o Japão, que teve de renascer enquanto país dos cacos deixados pelo conflito. Mudou o século XX, que a partir daí passou a ser um tempo muito perigoso. Mas mudou, em primeiro lugar, a vida de milhares de pessoas. As pessoas de Hiroshima, que viram o horror a cair-lhes do céu.
Bun Hashizume foi uma das pessoas para quem a vida mudou a 6 de agosto de 1945. Ela tinha 14 anos nessa altura e estava a trabalhar quando a bomba rebentou. O esforço de guerra tinha levado os homens para a batalha e obrigou a que as mulheres, desde tenra idade, tivessem de trabalhar. É a própria Bun Hashizume, hoje com 84 anos, que o conta num vídeo animado da BBC:
Junto a uma janela, a então adolescente só se lembra de ver um grande clarão. “Pensei que o sol tinha caído à minha frente”, conta Hashizume, que só recuperou do estrondo muito tempo depois. Quando saiu de onde estava, reparou que Hiroshima tinha desaparecido. Não apenas os edifícios, mas também os cães, os gatos, os pássaros, as borboletas. Os homens eram poucos. E os poucos vagueavam, cobertos de cinza.
“Uma mulher ajudou-me a ir até ao hospital” por entre os escombros, relata Bun Hashizume no vídeo, feito no ano passado por ocasião do 70º aniversário do lançamento da Little Boy sobre Hiroshima. No dia seguinte conseguiu encontrar a mãe, a irmã mais velha e uma tia. O irmão morreu na explosão.
Tal como costumava prometer ao melhor amigo de infância, que queria ser escritor, Bun Hashizume cresceu, abandonou Hiroshima, tornou-se poeta, casou, teve três filhos e quatro netos. “Durante anos não consegui sequer falar sobre a bomba”, diz. “Apesar de tudo, não odeio o povo que lançou a bomba.”
“Nunca perdoarei o facto de humanos terem lançado uma bomba atómica sobre humanos”, conclui.