Jo Cox, do Partido Trabalhista britânico, morreu esta quinta-feira depois de ser baleada em West Yorkshire, anunciou a chefe da polícia local numa conferência de imprensa. De acordo com Dee Collins, a deputada de 41 anos, que defendia a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE), foi declarada morta no local. Um homem de 77 anos também ficou ferido, mas sem gravidade.
Testemunhas no local garantem que a deputada do Parlamento britânico foi também esfaqueada, informação que ainda não foi confirmada oficialmente. Segundo Collins, citada pelo Guardian, as autoridades acreditam tratar-se de um “incidente isolado”. Algumas armas, incluindo uma arma de fogo, foram encontradas no local. O caso está agora nas mãos da polícia, que garante não poder avançar com mais pormenores numa fase tão inicial da investigação.
O ataque aconteceu por volta das 13h perto da Biblioteca de Birstall, na Market Street. Num comunicado emitido ao início da tarde, a polícia de West Yorkshire anunciou que foi detido um homem de 52 anos foi detido no local, mas sem divulgar mais detalhes, informação que voltou a repetida por Collins na conferência desta tarde. Segundo o Guardian, o homem é conhecido localmente como Tommy Mair.
A BBC divulgou uma imagem daquele que se acredita ser o momento da detenção do suspeito.
Believed to be moment of arrest of man involved in #Birstall incident https://t.co/7p3KQh5vYl pic.twitter.com/VYDyopyTzi
— BBC Yorkshire (@BBCLookNorth) June 16, 2016
Uma testemunha disse à Associated Press que a arma usada no ataque parecia ser de fabrico artesanal. Hithem Ben Abdallah, de 56 anos, estava num café ao lado da biblioteca quando ouviu gritos. O homem saiu a correr e viu dois homens que estavam a lutar, um deles de boné branco. “De repente, o homem de boné tirou uma arma da mala”, contou à agência de notícias. Foi aí que a deputada se envolveu na discussão.
“Ele estava a lutar com ela e depois a arma foi disparada duas vezes e ela caiu entre dois carros. Vi-a a sagrar no chão.” O incidente demorou cerca de 15 a 20 minutos, até que chegaram os serviços de urgência.
Suspeito gritou “Britain First” antes de disparar
Antes de disparar sobre Cox, o atacante terá gritado “Britain First”, o nome do partido do britânico de extrema-direita formado a partir de antigos membros do Partido Nacionalista Britânico (BNP), de acordo com os relatos de algumas testemunhas. O Britain First tem feito campanha a favor do “Brexit”, a saída do Reino Unido da UE.
Graeme Howard, de 38 anos, foi uma das pessoas que garante ter ouvido o suspeito a gritar o nome do partido. Ao Guardian, Howard, que mora perto da Biblioteca de Birstall, contou que ouviu “um tiro” e que correu para a rua. “Vi umas senhoras do café a correram com toalhas na mão. Havia muitos gritos e tiros, e a polícia apareceu. “Ele estava a gritar ‘Britain First’ quando estava a disparar e quando foi detido. Ele foi detido por dois polícias e ela foi levada numa ambulância“, relatou.
Em resposta aos relatos, o partido publicou um comunicado onde acusa os media de estarem “desesperadamente” a tentar incriminar o Britain First, com base em boatos e em fontes por confirmar. “Uma única testemunha (por confirmar) afirmou que o atacante ‘aparentemente’ gritou ‘Britain First’ durante o ataque mas, neste momento, isto não passa de um boato“, pode ler-se no site do partido.
“Existem muitas palavras como ‘aparentemente’ e ‘alegadamente’. Isso não impediu os media de publicarem múltiplos artigos a condenar o Britain First por estar de alguma forma envolvido”, refere ainda o comunicado, salientando que “o Britain First não está obviamente envolvido e nunca encoraja comportamentos deste género”.
O partido publicou também um vídeo no Facebook sobre o ataque à deputada, onde afirma que este é “um dia negro para o nosso país e para a democracia”.
Jo Cox era deputada no Parlamento britânico, onde representava o distrito eleitoral de Batley and Spen, em West Yorkshire. Cox foi eleita na sequência das eleições de 2015, tendo trabalhado anteriormente para a Oxfam, uma confederação internacional de 17 organizações que procuram acabar com a pobreza. Era casada com Brendan Cox, antigo executivo da organização não-governamental Save the Children e conselheiro do Partido Trabalhista. Tinha dois filhos pequenos.
“Perdemos uma estrela”
David Cameron já reagiu à morte da deputada através do Twitter. “A morte de Jo Cox é uma tragédia“, escreveu o primeiro-ministro britânico. “Perdemos uma estrela. A Jo era uma grande deputada, com uma grande compaixão e um grande coração.”
The death of Jo Cox is a tragedy. She was a committed and caring MP. My thoughts are with her husband Brendan and her two young children.
— David Cameron (@David_Cameron) June 16, 2016
PM on Jo Cox: We’ve lost a great star. Jo was a great campaigning MP with huge compassion & a big heart. My thoughts are with her family.
— UK Prime Minister (@10DowningStreet) June 16, 2016
Na rede social, as reações à morte da deputada começaram a multiplicar-se. Sarah Wollaston escreveu que “Joe Cox era uma pessoa adorável” e John Prescott, antigo deputado do Partido Trabalhista, lamentou a perda de uma política “brilhante”. “Uma perda terrível para a sua família e para todos nós”, acrescentou.
John Mann, deputado do Partido Trabalhista, descreveu Cox como “uma das estrelas verdadeiras da nova gestão” e afirmou que ele e os seus colegas estavam “completamente chocados” com o ataque desta quinta-feira. Jeremy Corby, líder trabalhista, disse num comunicado que o partido “e toda a família trabalhista estão emocionados pelo horrível morte de Jo Cox”.
“A Jo tinha um largo historial de serviço público e um grande compromisso com a humanidade“, acrescentou, lembrando o trabalho da deputada em várias organizações não-governamentais. “[Os seus filhos] vão crescer sem a sua mãe, mas podem estar profundamente orgulhosos do que fez, do que conseguiu e do que defendeu.”
O marido da deputada, Brendan Cox, emitiu um comunicado em que afirma que ela quereria que todos se unissem para “lutar contra o ódio que a matou”. “A Jo acreditava num mundo melhor e lutou todos os dias com energia e com um entusiasmo pela vida que iria deixar muita gente exausta”, disse, acrescentando que “o ódio não tem credo, raça ou religião — é venenoso”.
“A Jo não se arrependeu de nada na sua vida. Viveu cada dia ao máximo.”