A Alemanha é um bicho-papão, não é? Para a Polónia, não. No apuramento para o Euro 2016, polacos e alemães defrontaram-se. Os alemães começaram por vencer (3-1) em casa, mas no encontro da ida, perderam dois “secos” na Polónia. Acabariam por apurar-se as duas seleções, primeiro a alemã, mas só com dois pontos mais. Os sorteios têm destas coisas e voltaram a calhar, Alemanha e Polónia, no mesmo grupo do Euro 2016, o “C”, com Irlanda do Norte e Ucrânia. O “fosso” entre o bicho-papão e os polacos que lhe batem o pé, que era curto, acabou. Ambas as seleções venceram dois jogos, empatando naquele entre si. Valeu aos alemães mais um golo marcado e os mesmos “zero” sofridos.

Posto isto, conclui-se que a Polónia, apesar de estar num “humilde” 27.º lugar no ranking da FIFA, é tão poderosa quanto a todo-poderosa Alemanha, uma das seleções favoritas a vencer o Euro 2016, sendo por isso um adversário e tanto para Portugal, que nem tem propriamente deslumbrado até aqui neste Euro.

Sobre os resultados da Polónia no Grupo C, são aqueles que se sabem. Nenhum derrota até aqui. E nenhum golo sofrido. O primeiro golo no Europeu sofreram-no os polacos diante da Suíça, este sábado, nos oitavos-de-final. A Polónia até marcou primeiro, pelo velocíssimo extremo Kuba (o rapaz chama-se, nome de batismo, Jakub Błaszczykowski; mas como o apelido não cabe todo na camisola, chamemos-lhe só “Kuba”), empatando a Suíça perto do fim, o que levou tudo para prolongamento, e ao fim deste para as grandes penalidades. Foi sofrido. E isso é uma vantagem para Portugal. Sim, até jogou mais tarde e tem menos umas quantas horas de descanso, mas não teve o sofrimento, psicológico e físico, das grandes penalidades. Foi por pouco, mas não teve.

Só falta contar quem é a Polónia no relvado, titular por titular. O guarda-redes do costume é Wojciech Szczęsńy, da Roma. Mas Szczęsńy sentou-se no banco desde o começo do Euro e quem defende a baliza é Łukasz Fabiański, que até foi suplente do primeiro (anos a fio) no Arsenal. E Fabiański é o “culpado” por, até aqui, a Polónia só ter sofrido um golo — e não ter sofrido mais contra a Suíça –, indo defender remates onde quase ninguém os defende, tal a sua elasticidade e velocidade entre postes.

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Na defesa, a quatro, atenção, muita atenção — e esta é para ti, Raphael Guerreiro — a Łukasz Piszczek, o lateral direito. A fazer “piscinas” no flanco direito deixaria o próprio Alexander Popov com os bofes de fora nos seus idos de nadador olímpico. A restante defesa não é propriamente tão talentosa quanto ele. Michał Pazdan é defesa, mas vem adaptado do meio-campo defensivo e não se peça dele que faça o que os alterais habitualmente fazem: subir e cruzar. Mas defender é com ele, até com dureza a mais por vezes. Os centrais são matulões, mais próximos dos dois metros do que do metro e noventa. Artur Jedrzejczyk é mais “remediado”, Kamil Glik com maior classe, um central à italiana, ou não jogasse ele no Torino.

Meio-campo? É a quatro, também, dos médios mais centrais, dois mais abertos nas alas. Krzysztof Mączyński é o mais recuado, e tem por missão impedir que os adversários construam. Tem-se safado, nem sempre com “nota artística”, mas com aproveitamento nota “dez”. Grzegorz Krychowiak está dois passos mais à frente e é o oposto. O médio que no Sevilha é seis, na seleção polaca é o dez, o criativo, o que tudo pensa e tudo faz pensar. Nas alas, Kamil Grosicki e Kuba (sim, o do apelido impronunciável) só são semelhantes na velocidade. Grosicki é um extremo trocado, um destro à esquerda, que aparece mais na área e no apoio ao ponta-de-lança. Kuba, não. É um driblador, que cruza bem, remata igualmente bem, e é mais “chato” para os laterais do que Grosicki. E está fresquinho, Kuba. Porquê? Porque na Fiorentina, com Paulo Sousa, andou uma temporada inteira a aquecer o banco.

Falta o ataque, que é provavelmente o ponto mais forte da Polónia. Arkadiusz Milik, como praticamente toda a seleção polaca, é corpulento, fortíssimo nos duelos aéreos e não se faz rogado na hora de puxar da canhota atrás e rematar à baliza. Robert Lewandowski, o capitão, o “craque”, é tudo isso, corpulento, de remate pronto, mas é tudo o que os demais não são: fino. A técnica de um latino no rosto e corpo de um centro-europeu. Curiosamente, sendo o goleador que é, ainda não molhou a sopa em França. E oxalá não “molhe”.