Os Pixies e Robert Plant eram as principais atrações do primeiro dia (saiba como correu), mas como tantas vezes acontece nos grandes festivais, por vezes as melhores surpresas estão nas franjas. Foi o que aconteceu esta quinta-feira, no primeiro dia do 10º NOS Alive.

A noite ia a meio quando a Everything Is New confirmou que também este dia tinha lotação esgotada, completando assim o ramalhete de aniversário. Estiveram ali 55 mil pessoas (muitos, muitos estrangeiros) mas nem todos quiseram ouvir o mesmo. Houve gente para todos os espetáculos.

Chemical Brothers

A eletrónica ainda não tinha subido ao Palco NOS quando os Chemical Brothers entraram em campo. Tom Rowlands e Ed Simons dispensam apresentações — no campo da música eletrónica, são um dos grandes nomes mundiais, tanto da década de 1990 como do início do século XXI. No Passeio Marítimo de Algés, apresentaram-se em grande: um enorme espetáculo cénico e sonoro que ficará na história desta edição do NOS Alive.

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O duo de Manchester abriu em grande com o tema “Hey Boy Hey Girl”, do álbum Surrender (1999). A partir daí foi uma sucessão de temas que tornaram o Palco NOS, pela primeira vez neste primeira dia, uma verdadeira discoteca a céu aberto. Deles ouviram-se hits como “Do It Again” (do álbum We Are the Night, de 2007) e “Galvanize” (do disco Push the Button, saído dois anos antes).

A reação do público era evidente — ainda que longe de estar cheio (a hora tardia — o concerto começou à uma da madrugada, e esta sexta ainda é dia de trabalho — levou muitos a regressarem mais cedo a casa), os festivaleiros mais resistentes prolongaram a noite e dançaram mais de uma hora ao som de um dos grupos mais influentes da eletrónica britânica. Foi, sem dúvida, de encher o olho. [GC]

chemical brothers, nos alive 2016

The Chemical Brothers

Soulwax vs. Junior Boys

aqui dissemos que uma das características dos grandes festivais de música é a dificuldade em escolher o que ver e este foi precisamente um dos momentos esquizofrénicos da noite. Na tenda eletrónica, os canadianos Junior Boys. No palco alternativo, os não menos eletrónicos Soulwax. Foram várias as viagens de um lado para o outro sem que fosse possível decidir onde ficar.

A dupla canadiana (acompanhada de um baterista) mostrou a batida forte que já conhecíamos ao vivo, percorreu praticamente toda a discografia, em particular o último Big Black Coat (2016) mas acederam ao pedido e deixaram para o fim um dos temas do maravilhoso Last Exit (2004). Foram simpáticos e fizeram-se acompanhar de uma componente cénica geométrica, imagens em fundo em alta definição e cheias de cor.

Do outro lado, casa cheia para ver os belgas Soulwax. Eram sete elementos bem distribuídos, material eletrónico ao centro e à volta, virados para o meio, nada mais nada menos que três baterias, ora sincronizadas ora a trocar galhardetes, sem improviso. É fácil imaginar a energia que dali saiu, um estrondo que pôs toda a gente aos saltos.

Vestidos de branco, compuseram o figurino num palco espartano iluminado com luz forte, da mesma cor. Um cenário, digamos, quase assético, hospitalar, como que a dizer que ali ninguém é mais importante que ninguém, muito menos que da música. Cirúrgico.

Quem ganhou neste pingue-pongue? Os Soulwax, porque foram imparáveis e souberam fazer um espetáculo centrado na música, que conquistou o público ao ponto de fazer rebentar pelas costuras o Palco Heineken. A eletrónica ouve-se, mas sobretudo sente-se. Foram eles que nos entraram mais na pele. [PE]

2ManyDJs

A fechar a noite no palco Heineken, depois da atuação emotiva dos portugueses Sean Riley & The Slowriders (bem ilustrada neste artigo do Blitz), foi a vez da dupla formada pelos irmãos Stephen e David Dewaele, dois dos Soulwax.

Certo que são coisas diferentes, mas é difícil dissociar a banda do projeto e os belgas 2ManyDJs fazem questão de se apresentar dessa forma, como uma espécie de extensão da banda mãe. Não é por acaso que, ao longo do set, mostram imagens em fundo (bastante toscas, por sinal) com os logotipos “Radio Soulwax” e “Soulwax Power”. São outra loiça, a base material é a mesma (a música de dança) mas a forma é diferente, mais na frequência que na potência.

A característica mais proeminente dos 2ManyDJs é a capacidade que têm de misturar tudo e mais alguma coisa, encontram lógica onde ela supostamente não existe, seja na harmonia ou no ritmo. Seguem o fio condutor da batida forte (house music, sobretudo) e fazem parecer tudo fácil.

Logo a abrir, uma graça: as frases de “So Get Up” dos Underground Sound Of Lisbon (de DJ Vibe e Rui da Silva, um grande sucesso em 1994). Quem ainda estava a caminho, depois do estalo dos The Chemical Brothers, pôs-se a correr até ao Palco Heineken. Todas as oportunidades para dançar ao som dos 2ManyDJs são poucas. [PE]

Biffy Clyro

Biffy Clyro aqueceram bem o palco para Robert Plant. Com riffs da pesada e melodias de ficar no ouvido, a banda escocesa voltou a convencer o público português com um concerto energético e focado, sobretudo, no mais recente álbum, Ellipsis, que será lançado (curiosamente) esta sexta-feira.

Rendido à plateia do NOS Alive, o vocalista e guitarrista Simon Neill não poupou elogios aos presentes. “Vocês são espetaculares. Tive saudades tuas, Lisboa. É bom estar de volta.” O público não se fez de rogado e retribuiu a simpatia com saltos e cantorias.

A plateia era feita de chapéus brancos e coroas de flores, mas ainda assim havia quem se destacasse de forma diferente. Entre a multidão, um unicórnio de calções floridos e top cor-de-rosa aproveitou a oportunidade para subir às cavalitas do amigo mais próximo. Esbracejou, saltou e cantou como se o mundo acabasse daí a cinco minutos e provou que, afinal, os unicórnios também sabem dançar.

“Vocês são inacreditáveis”, limitou-se a dizer Simon Neill em resposta à chuva de palmas que se seguiu. Cheios de boa disposição, os Biffy Clyro foram percorrendo toda a discografia, entre temas velhos e novos. A “Bubbles” seguiu-se “Black Chandelier” e “On a Bag”. Em “Machines”, a guitarra acústica ofereceu um momento mais intimista, que foi seguido de um registo mais duro com “The Captain”.

A fechar houve “Animal Style”, tema do novo Ellipsis. Em resposta, o unicórnio voltou a dançar. Quem é que disse que os animais encantados não gostam de rock? [RC]

nos alive 2016 unicornio
Bos Moses

Às 19h30, subia ao palco NOS Clubbing um dos nomes mais aguardados do dia, pelos fãs de música eletrónica. O duo canadiano Bob Moses atuou em live act e se há coisa de que não pode ser acusado é de não ter aproveitado todos os instrumentos para pôr o público a dançar.

Tom Howie e Jimmy Vallance usaram guitarra, teclas, voz e beats disparados para gáudio do público. Tudo junto resultou num concerto onde ninguém parou quieto, feito de uma eletrónica intensa, com laivos de rock e pós-dubstep que não lhe retiraram força.

Uma das coisas que se notou neste primeiro dia é que a música eletrónica atrai cada vez mais gente. E o público que queria alternar o rock mais tardio (dos Pixies e de Robert Plant) com ritmos dançáveis começou cedo a compor o palco NOS Clubbing. Tom Howie e Jimmy Vallance responderam a preceito: deram o que o público queria e, arriscamos, o que não queria (cerveja atirada desde o palco para a plateia). Pelo meio houve palmas e movimentos frenéticos de dança entre a audiência. Uma aposta ganha da organização, para um horário — porventura — excessivamente diurno. [GC]

Branko

A Bob Moses seguiu-se o português Branko (nome artístico de João Barbosa). Branko é ex-membro dos (se não extintos, pelo menos em fase de interregno) Buraka Som Sistema. E se Kalaf Ângelo não pensava em Branko (duvidamos) quando, em junho, falava ao Observador da emergência de uma “música eletrónica de cariz global” em Portugal, pensamo-lo nós.

Durante cerca de uma hora, Branko deu um dos melhores concertos do dia e mostrou que a música portuguesa (eletrónica, mas não só) está bem viva e recomenda-se, sendo precisamente capaz de (lá está) competir à escala global. Com uma sonoridade que mistura ritmos vindos de África e do Brasil com beats que podiam perfeitamente ter sido resgatados à eletrónica norte-americana — e com projeções visuais que ajudaram à festa —, Branko manteve-se consistente até ao final.

Terminou o espetáculo dizendo, para frustração do público — que encheu o interior da tenda NOS Clubbing —, que não podia tocar mais porque as projeções visuais tinham acabado. Soube a pouco? Sim, mas porque a sua competência deixou água na boca, não por quaisquer lapsos ou expectativas goradas. Entre os portugueses — e sobretudo considerando que os Dead Combo e as Cordas da Má Fama atuaram ao mesmo tempo que os Pixies —, Branko foi a estrela deste primeiro dia. [GC]

vintage trouble, nos alive 2016

Vintage Trouble

Além dos momentos musicais que aqui registámos, houve outros que ficaram devidamente registados neste liveblog – recomendamos a leitura e sublinhamos que é lá que vão encontrar as notas do ambiente que se viveu neste primeiro dia. Esta sexta-feira há (muito) mais.