Demorou um mês a aceitar o convite que, certo dia, chegou por e-mail. André Ribeirinho lembra-se de estar no seu escritório em Marvila, de olhar perplexo para o endereço eletrónico desconhecido e de perceber, num repente, a dimensão da proposta: ser o representante de Portugal nas próximas edições do Hugh Johnson’s Pocket Wine Guide, o guia de vinhos que, em 2014, o Los Angeles Times assegurava ser o mais vendido no mundo, depois de ser um bestseller consecutivo durante quase 40 anos. Coisa pouca.

André não caiu da cadeira ou abriu a boca de espanto, foi antes a correr avisar o resto das pessoas que formam a equipa do Adegga, a rede social de vinhos — pioneira em Portugal e também além-fronteiras — que por estes dias tem igual fama por dar nome a feiras de vinhos descontraídas em Lisboa, no Porto e no Algarve (sem contar com os destinos internacionais). “Curiosamente, a primeira vez que comprei o guia foi porque o achei interessante, porque tinha uma forma simples de passar a informação sumarizada às pessoas”, conta o engenheiro informático que já antes admitiu ao Observador que dez anos antes o néctar de Baco era-lhe indiferente.

Foi a paixão com que produtores e consumidores falavam (e falam) de vinho que despertou a curiosidade de André Ribeirinho, que conta em primeira mão ao Observador que ja na próxima edição do Hugh Johnson’s Pocket Wine Guide — nos escaparates em setembro do próximo ano –, será o primeiro português a selecionar os vinhos de Portugal que vão integrar um guia de cariz internacional — quem antes estava no seu lugar era a escritora e crítica de vinhos britânica Sarah Ahmed.

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E qual será, então, o trabalho do enófilo que agora entra a pés juntos no mundo dos guias? “No fundo é o trabalho que eu já fazia, porque já acompanhava todos os produtores”, começa por responder. “Cabe-me a mim fazer uma seleção de quem entra no guia — porque não podem entrar todos –, sendo que cada ano tenho de mudar 25% [das propostas]. Tem de haver 25% de novidades todos os anos, o que não quer dizer que um produtor que deixe de participar tenha vinhos maus, apenas indica que houve outro com uma novidade que precisa de ser anunciada.”

A conversa não vem ao acaso, uma vez que Ribeirinho quer apostar na transparência, até porque a partir de agora passa a recomendar produtores que, noutro contexto, são seus clientes. É por isso que prefere assumir-se enquanto comunicador e não crítico de vinhos. A honra, essa, é grande:

É incrível para Portugal haver uma pessoa que é portuguesa, que é local, que tem um conhecimento enorme dos produtores a poder comunicar ao mundo o que está a ser feito cá. Há portugueses que foram convidados a colaborar em revistas, mas não há, que eu saiba, nenhum guia internacional que tenha tido um português à frente [dos vinhos] de Portugal. Sou o primeiro.”

201

A próxima edição do guia, a sair em setembro deste ano.

O guia em causa existe desde 1977 e em setembro desde ano comemora a sua 40º edição — na capa continua a ler-se que é o guia de vinhos mais vendido no mundo (contam-se mais de 12 milhões de cópias vendidas). Hugh Johnson é o homem por detrás do sucesso do livro que, diz Ribeirinho, funciona como um glossário ao fazer recomendações de vinho em vez de lhes dar notas. “Quando fazemos avaliações de vinho estamos a dizer [às pessoas] ‘bebe isto, não bebas aquilo’. Quem sou eu para dizer que se deve beber este vinho em vez do outro?”, questiona, justificando que prefere dar informação prática para que sejam os consumidores a fazer a escolha final.

E qual o papel do Adegga neste novo desafio? “Existe um Adegga e existe um André Ribeirinho. Vou fazer este trabalho enquanto André Ribeirinho.”