Termómetros nos 35º, um sol abrasador, Leonor Beleza, no seu vestido vermelho, começa a receber os primeiros convidados. O encontro estava marcado para as 13h00, nas Cavalariças do Pestana Palace. Começam a chegar “os amigos de Cavaco”, nas palavras de Leonor Beleza, aqueles a quem o ex-presidente da República deve um “muito obrigado”, por ter tido uma “longa carreira política”, conforme reconheceria, minutos mais tarde, o próprio professor.
E quem são alguns dos “amigos de Cavaco”? A lista é comprida, não estiveram presentes todos, mas chega perto das nove dezenas e são personalidades destacadas na vida política, económica e social do país. Entre outros, Ramalho Eanes, o primeiro presidente da República eleito por sufrágio universal direto, o neurocirurgião João Lobo Antunes, o ex-ministro da Presidência Luís Marques Guedes, a deputada social-democrata Teresa Morais.
Havia também banqueiros. Muitos: Fernando Faria de Oliveira, ex-presidente da CGD e atual presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), Vítor Bento, que esteve à frente do Novo Banco, Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI, Paulo Teixeira Pinto, ex-presidente do Millennium BCP, Norberto Rosa, atualmente consultor do conselho de administração do Banco de Portugal, mas ex administrador e ex-vice-presidente da comissão executiva da Caixa e ex-vice-presidente do BPN.
Ainda no grupo dos economistas, esteve Miguel Beleza. Outro amigo presente foi o comissário europeu para a investigação, ciência e inovação, Carlos Moedas. O ex-ministro de Cavaco Silva, Álvaro Barreto, também marcou presença. Já Manuela Ferreira Leite, ex-ministra das Finanças, faltou, por um imprevisto.
Quando o ex-presidente da República, Cavaco Silva, chegou, às 13h16, já estavam presentes quase todos os amigos. De mão dada à mulher, Maria Cavaco Silva, dirigiu-se a Ramalho Eanes, para o abraçar. No jardim, bebia-se água, vinho branco e sumo de laranja. Comiam-se umas batatas fritas, como aperitivo antes do almoço.
Apenas quatro minutos depois de Cavaco, chegou Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, que fez questão de se associar à iniciativa.
Esteve cerca de cinco minutos à conversa com Cavaco Silva, atento, uma ou outra risada pelo meio. De seguida, atendeu aos apelos dos jornalistas, para reforçar a solidariedade com a Alemanha, na sequência do ataque que vitimou dez pessoas em Munique.
Depois, e sem rodeios, chamou ao “encontro de amigos”, conforme a organizadora Leonor Beleza fez sempre questão de lhe chamar, uma “homenagem ao Presidente Cavaco Silva”.
Vim associar-me à homenagem ao Presidente Cavaco Silva, não esquecendo os anos em que foi primeiro-ministro, mas em particular ao Presidente pelo serviço ao país”, disse.
E desdramatizou as coincidências: é que no que toca a homenagens o dia ainda ia a meio. “Estarei hoje também na homenagem ao Presidente Mário Soares e promovi, como sabem, uma homenagem primeiro ao presidente Ramalho Eanes”, frisou, explicando que se trata do “reconhecimento da continuidade institucional da presidência e do papel fundamental dos presidentes da República para a democracia portuguesa”, sem se esquecer de nomear Jorge Sampaio.
Não ficou para o almoço, que tinha o dia cheio de cerimónias — ainda ia para um casamento. Perdeu bacalhau com batatas e legumes, servido numa sala fresca, para compensar o escaldão do jardim.
Desafiado pelos jornalistas logo de seguida, Cavaco Silva passou a vez: “Boa tarde”, disse, seguindo para o fresco da sala que estava preparada para o almoço. Mais tarde, no seu discurso, teria tempo de argumentar que nem sempre é bom comentar tudo:
Há muita coisa que não se sabe [da forma como exerceu a Presidência] porque tomei a decisão de manter muita coisa reservada por convicção de que essa era a melhor forma de manter o superior interesse nacional.”
Antes da refeição, discursou primeiro Leonor Beleza, homenageando Cavaco e o seu contributo político para o que “Portugal é hoje, no que nos orgulhamos”, ressalvou. O professor ouviu o discurso sentado à mesa, sempre de costas. Mas no final levantou-se para abraçar Leonor Beleza, deixando escapar alguma emoção.
No seu discurso, recuou aos principais momentos que marcaram a história política e económica portuguesa enquanto foi primeiro-ministro e Presidente da República.
Fui um privilegiado, um homem de sorte, embora se diga as vezes que a sorte da muito trabalho.”
Congratulou-se por ter sido presidente entre 2006 e 2016, “um tempo difícil, complexo, de profundas crises em Portugal”, notou. Sem falsas modéstias, frisou: “Em que outro tempo teria sido mais útil para o meu país a minha experiência como primeiro-ministro, o meu conhecimento de economia e finanças, o meu conhecimento das instituições europeias? Não consigo ver outro e portanto foi o tempo certo para ter sido Presidente da República.
Foi aplaudido de pé. Já passava das 14h00, era tempo de começar a refeição. Já no final, mesmo antes de serem servidas as sobremesas, chegou Passos Coelho, vindo da Costa da Caparica, depois de cumprir o dever partidário numa ação da JSD. “Fiz questão de dar o meu testemunho de estima e reconhecimento pela personalidade política que Cavaco Silva tem sido”, disse. E lembrou: “Foi o único que conseguiu maiorias absolutas repetidas”.